75 anos atrás começou a guerra civil na Espanha, republicanos contra franquistas. O mundo se dividiu, a esquerda apoiava os “progressistas”, a direita apoiou os nacionalistas que defendiam os interesses da nação contra o comunismo internacional. A URSS participou no conflito enviando clandestinamente seus “adidos militares”, entre eles vários ucranianos. Sete deles foram condecorados com o título do Herói da União Soviética, mas nenhum era voluntário. Ao contrário, a história dos ucranianos voluntários é quase desconhecida.
por: Ihor Holod (jornalista, Lviv)Já em Agosto de 1936 na defesa de Madrid participaram 37 naturais da Ucrânia Ocidental, que na época trabalhavam como mineiros e metalúrgicos na Bélgica e França. Em breve, eles foram seguidos por mais 180 voluntários que saíram clandestinamente da Polónia usando o posto fronteiriço de Javornyk na fronteira polaco – checoslovaca. O general soviético Alexandre Rodimtsev calcula em 1.000 pessoas o número de naturais da Galiza Ucraniana que lutaram na guerra ao lado dos republicanos. Na sua maioria era gente da esquerda, no entanto quando eles fugiam da Polónia para URSS, eram fuzilados por causa do seu desacordo com as políticas soviéticas e a desnacionalização dos ucranianos.
Em 1938, o Comité executivo da Internacional comunista, controlado pelo ditador soviético Stalin dissolveu o Partido Comunista da Ucrânia Ocidental (KPZU), alegando que a sua liderança foi tomada pelos agentes fascistas. Ironicamente, no dia 8 Julho de 1937 na Espanha foi formada a companhia “Taras Szewczenko”, constituída pelos apoiantes do KPZU que fazia parte da 13ª brigada internacional “Dabrowski”.
Um dos integrantes da companhia ucraniana, membro do KPZU, Yuri Velikanovych (nascido em 1910), escreveu no jornal da brigada, chamado “Dabrowszczak”:
“Ucranianos ... criaram a companhia “Taras Szewczenko”... Prisioneiro das cadeias czaristas, deportado às estepes selvagens, perseguido e odiado pelas autoridades, poeta se levanta ente largos campos da Espanha”.
O primeiro comandante da companhia e pela acumulação o comissário do batalhão, era belaruso Stansilav Tomashevich, que escrevia no jornal da brigada:
“Do ponto de vista da preparação militar a companhia “Taras Szewczenko” esta altamente colocada, graças à experiência militar de uma parte dos camaradas que anteriormente serviram nos outros exércitos. Temos oficiais ucranianos como tenente Ivanovych e Lytvyn, temos sargentos e cabos ucranianos...”
O vice – comandante da companhia era operário ucraniano vindo da França – Pavlo Ivanovych, mas além dos ucranianos, a companhia integrava combatentes belarusos, polacos e espanhóis. Por sua vez os ucranianos eram colocados nas outras companhias republicanas. Seis ucranianos faziam parte no batalhão “Chapaiev” (Czapajew), juntamente com os combatentes de 20 nacionalidades. A Wikipédia espanhola menciona o 4° batalhão da 13ª brigada Palafox / Mickiewicz, que integrava “algumas dezenas dos ucranianos do exército anarquista do Nestor Makhno”. Historiador Nikolai Platoshkin estabeleceu que 498 voluntários que vieram para Espanha do Canadá eram originários da Europa Oriental, a maioria da Ucrânia Ocidental.
Baptismo de fogo
O baptismo de fogo da companhia “Taras Szewczenko” se deu na Batalha de Brunete, ao oeste de Madrid, onde juntamente com a companhia Mickiewicz, eles sustiveram os ataques da cavalaria marroquina e em seguida atacaram as posições franquistas em Villafranca del Castillo e Romanillos.
Nos combates ferozes os ucranianos perderam metade do seu pessoal. Mas no lugar dos mortos chegavam novos voluntários, até vindas de cadeias. Por exemplo, em Maio de 1937, da cadeia polaca de Dubno fugiram para Espanha Dmytro Zakharuk e Symon Kraevskiy.
Na frente de Aragão, onde ucranianos combatiam o exército regular italiano, no dia 25 de Setembro de 1937 eles penetraram 10 km na retaguarda do inimigo, tomando alguns dos seus entrepostos. Nestes combates sobressaíram o comissário da companhia Nazar Demjanchuk, natural da Volyn que veio do Canadá, os combatentes Vasyl Lozoviy, Yosyp Konovalyuk, Valentyn Pavlusevych e Yosyp Petrash.
No fim de 1937 a companhia “Taras Szewczenko” começou editar o jornal em língua ucraniana “Borotba” (Luta), redigido pelo Yuri Velikanovych, que publicava a poesia do Taras Shevchenko e os artigos sobre o poeta. Outra publicação ucraniana editada em Albacete para os voluntários recém-chegados era o boletim “Notícias da Ucrânia Ocidental”, que como epigrafo teve as palavras do poema “Zapovit” (Meu Testamento) do Taras Shevchenko: “Sepultem e se levantem, / Rasgam os grilhões / Com má sangue inimiga / Salpicam a liberdade”.
Sangrando até a morte
Em Dezembro de 1937 – Fevereiro de 1938 a companhia combatia nas montanhas da Peña Quemada, onde alguns picos chegavam dois mil metros de altura, participou na Batalha de Teruel. Os irmãos Polikarp e Symon Kraevski liquidaram os operadores de duas metralhadoras, capturando uma delas.
Naqueles combates morreu o comandante Tomashevich, comissário Demjanchuk, sargento Seradzki, soldado Polikarp Kraevski... Mas já em Março de 1938 a companhia juntamente com a sua brigada travou os combates pesados na frente Andaluz, onde por quatro vezes rompeu o cerco e se defendia dos ataques franquistas nas colinas junto a cidade de Caspe. Em Caspe a companhia perdeu o seu novo comandante e o comissário, Stanislav Voropay e Symon Kraevski, respectivamente. Após o seu regresso à frente de Aragão, companhia perdeu vários comandantes – Mykhaylo Lytvyn, Pavlo Ivanovych e Y. Hatsek, além do novo comissário – Ivan Hrytsyuk. Morreu o editor do jornal, Shystera, o seu substituto, Yuri Velikanovych, também morreu em combate em 4 de Setembro de 1938. Em 1982 na cidade de Lviv foi inaugurado o monumento de Velikanovych da autoria da escultora local Teodozia Bryzh.
Fim da guerra
A companhia “Taras Szewczenko” terminou a sua campanha no dia 28 de Setembro de 1938, quando os republicanos publicaram a resolução sobre a retirada das brigadas internacionais do país. Em troca, os franquistas retiravam da Espanha os seus aliados alemães e italianos. A companhia deixou a Espanha no dia 28 de Outubro de 1938, aplaudida pelo povo da Barcelona. Na Ucrânia Ocidental eles eram procurados pela polícia polaca e presos no campo de concentração de Bereza_Kartuska.
Mas a participação ucraniana não se limitou à companhia “Taras Szewczenko”. Por exemplo, o antigo oficial do exército da República Popular da Ucrânia (UNR), capitão (Kostyantyn?) Korenevski veio como voluntário da França. Na Espanha ele se tornou o chefe do estado – maior da 14ª brigada internacional, depois da 35ª divisão internacional, comandada pelo general “Walter” (polaco Karol Swierczewski liquidado pelo UPA em 1947). Adido militar soviético junto ao 3° Corpo do exército republicano, natural de Odessa, Rodion Malinovski (1898-1967), futuro marechal soviético escreveu: “Korenevski era uma pessoa extremamente corajosa”. Historiador Volodymyr Shevchenko escreveu: “Korenevski nunca perdia o auto-controlo em situações difíceis, por vezes caóticas, de combates incessantes, sabiamente organizava as acções dos subordinados. Morreu em combate com a coluna do Corpo italiano”.
Também havia os ucranianos entre ex-oficiais do exército monárquico russo do general Wrangel, por exemplo uma das companhias da brigada internacional “Dabrowski” era comandada pelo ex-tenente Ostapchenko. Em Dezembro de 1936 nos arredores de Teruel morreu quase a totalidade de uma das companhias daquela brigada, formada quase exclusivamente pelos ex-combatentes dos exércitos monárquicos russos. Algumas centenas deles foram transferidas para Espanha da França, Checoslováquia, Bulgária e Jugoslávia pelos serviços secretos soviéticos, executando a decisão do Stalin de 19 de Janeiro de 1937. Com a sua participação na guerra civil espanhola, os ex-combatentes de Denikin e Wrangel deveriam provar que deixaram de ser “inimigos do povo operário” e merecem o retorno à URSS.
No entanto, os ex-monárquicos de origem ucraniana também combateram do lado dos falangistas. Por exemplo, o tenente (Mykola) Shynkarenko foi gravemente ferido, sargento (Volodymyr) Dvoychenko por duas vezes. Combatente (Olexander) Kutsenko foi aprisionado pelos republicanos, que o barbaramente torturaram até a morte...
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