terça-feira, agosto 23, 2016

Rússia e o seu uso do terrorismo de estado

O Gabinete do Procurador-Geral da Ucrânia publicou as gravações de conversas em que o assessor do presidente russo, Sergey Glazyev, discute com diversos interlocutores as ações de massa na Ucrânia e anexação da Crimeia à Rússia. Com o deputado da Duma estatal, Konstantin Zatulin, Glazyev discute o financiamento de pessoas que irão ocupar os edifícios públicos ucranianos; com o auto proclamado líder da Crimeia Serguey Aksyonov se fala sobre a formulação de perguntas no referendo sobre anexação da península. Segue a transcrição curta dessas conversas, efetuada à partir de versão integral, feita pela Meduza.io

27 de fevereiro de 2014
Conversa com Konstantin Zatulin, membro do Comité da Duma Estatal dos assuntos da CEI e relações com os compatriotas. Desde junho de 2014 Zatulin ocupa a posição do assessor do chefe do “conselho de estado” da Crimeia.
Glazyev: Não, não podemos esperar. É necessário imediatamente. Se alguém está pronto – devem ir.
Zatulin: Bem, o facto é que as suas capacidades estão apenas nas palavras.
Glazyev: Bem, nós temos que saber disso. Então, veja. Se tem os que estão dispostos...
Zatulin: Pelo menos, há em Kharkov e Odessa.
Glazyev: Bem, é necessário os fixar aqui de alguma forma. Você pode, por sinal, passar me os seus apelidos?
Zatulin: São aqueles com quem trabalhamos – “Oplot”, com quem você se encontrou. Odessa – “Odesskaya Druzhyna” (organização radical pró-russa de Odessa).
Glazyev: Tem a certeza que “Oplot” é capaz?
Zatulin: Eles dizem que estão manter as pessoas na praça.
Glazyev: Está bem, vou perguntar novamente.
Zatulin: Eu os satisfez parcialmente. Mas eles têm apetites muito maiores e eles estão constantemente [me] perturbar com essas questões.
Os militantes da "Odesskaya Druzhina"
28 de fevereiro de 2014
Conversa com Konstantin Zatulin
Zatulin: Nos financiamos Kharkov, nos financiamos Odessa. Assim, temos os pedidos de outras regiões, mas eu, para já, abrandei tudo, pois eu ainda não resolvi a questão financeira, eu, no final fico sozinho com estas obrigações. Agora paguei aos cossacos, que lhes prometeram dez pessoas, mas ninguém ***** [nada] deu e assim por diante. Em geral, a questão financeira já está à irritar.
Glazyev: Então estás dizendo – pagaram, portanto, quem pagou?
Zatulin: Não, paguei eu, quem pagou?! Bem, são valores pequenos de dois mil, três mil, são estes valores. Eu tenho quatro pedidos do Chaly (o “perfeito popular” da cidade de Sebastopol Aleksei Chaly) – assinados no valor de 50 mil UAH [em 2014 cerca de 6.250 dólares].
Glazyev: É necessário, naturalmente, então com estes, então você tem que criar estes orçamentos.

1 de março de 2014
Conversa com um tal «Anatoliy Petrovich»
Glazyev: Olá, Anatoly Petrovich! Zaporozhye por que está em silêncio? Para onde eles foram? Sabemos de certeza que ele tem 1.500 pessoas. Onde eles estão, onde estão os cossacos? Eu tenho a tarefa de levantar todos, levantar o povo. O povo deve se reúnir na praça, exigir pedir [ajuda] da Rússia contra os banderas [patriotas da Ucrânia]. As pessoas especialmente treinadas devem expulsar os banderas para fora do prédio do Conselho Regional, e depois devem reunir o Conselho, criar um órgão de poder executivo  o comitê executivo regional. Lhe transferir o poder executivo, subordinar a polícia ao este novo poder executivo...
Eu tenho a instrução direta da chefia – levantar as pessoas na Ucrânia, onde nos podemos. Então, os levar às ruas, tel como foi feito em Kharkov, neste modelo. E o mais rapidamente possível. Porque, veja, o presidente já assinou o decreto (naquele dia a câmara alta do parlamento russo, o Conselho da Federação, autorizou o presidente russo de usar o exército no exterior). Assim, a operação foi iniciada. Já recebo relatos que os militares [ucranianos] estão se mover. Por que eles estão lá sentados?! Nos não podemos fazer isso tudo pela força. Usamos a força apenas para apoiar as pessoas, não mais que isso. E se o povo não existe, então como pode haver o apoio? Ouça, diga-lhe que é uma questão muito séria sobre o destino do país e, consequentemente, decorre uma guerra.

1 de março de 2014
A conversa com um cidadão da Rússia, Kirill F[rolov], que informa sobre as ações de protesto junto ao Conselho Regional de Odessa.
Kirill F.: Sergey Yurievich, vou relatando. Então, havia muita gente. Escrevam, 40. Praça completa. [...] Mais importante ainda, ele convidou os libertadores do Conselho Supremo da Crimeia à libertar Odessa. Então, os postos de controlo na entrada à região de Odessa...
Glazyev: Bem, antes de tudo, é apenas o início do processo. Pois até agora não se reuniu o conselho regional e não tomou a decisão necessária que considera o poder de Kiev ilegítimo e em conformidade com as recomendações do Congresso de Kharkov...
Kirill F.: Eles estão com medo e não está claro se irão se reunir na próxima semana.
Glazyev: Eis a questão, não se pode sair. É necessário tomar este conselho regional, montá-lo em conjunto, forçando-o a tomar decisões.
Kirill F.: Bem, para isso em um dia devem vir algumas pessoas, para obter as instruções claras. Ainda mais você me digatraz” ...
Glazyev: Olha, a situação amadurece. Em Kharkov já tomaram o Conselho Regional em Donetsk tomaram o Conselho Regional. Precisamos tomar o Conselho Regional e reunir lá os deputados! E não se dispersar antes. Se vocês se reunirem daqui à uma semana, já lá vão reúnir os banderas com a polícia e não deixarão passar ninguém.

1 de março de 2014
A conversa com Denis [Yatsyuk, militante da “Odesskaya Druzhyna”]
Denis: Sergey Yurievich, meu nome é Denis, sou de Odessa. Temos pessoas que estão dispostos, em princípio, à agir, mas precisamos de alguns, recomendações concretas, claras e compreensíveis. Que quem apoiar, terá as garantias de que amanhã não virá aqui um par de autocarros de Kiev e não...
Glazyev: Então, eu posso dizer o seguinte. Em primeiro lugar, temos agora a votação no Conselho da Federação, já votaram, um decreto presidencial sobre o uso de (provavelmente falam sobre a permissão dada ao Putin de usar o exército russo no exterior).
Denis: Nós sabemos, sabemos.
Glazyev: Você sabem, né? Portanto, é muito sério e vocês serão apoiados, não se preocupem.
Em segundo lugar, é muito importante para nós para haja apelos das pessoas ao Putin. Apelos em massa, diretamente à ele, com um pedido de proteger, à Rússia, e assim por diante. Estes apelos vocês tiveram na manifestação.
O separatista Denis Yatsyuk, atualmente refugiado na Rússia
O terceiro ponto. Para nós as decisões dos Conselhos Regionais são muito importantes. Portanto, é importante que o Conselho regional se reuna, é precisa o provisionar, como fizeram em Kharkov. Em Kharkov, entraram as pessoas, expulsaram todos os banderas, [...] e o Conselho Regional irá se reunir e também irá apelar ao nosso presidente. Além disso, a decisão do Conselho Regional em que não reconhece a legitimidade das autoridades de Kiev, que essas autoridades são criminais, e assim por diante.

Ainda um ponto muito importante – tomar o Conselho Regional, a fim de permitir a chegada dos deputados, e eles também lhes explicar – aos deputados que são obrigados nesta situação vir e votar. Quem não veio e não votou é traidor, banderista, fascista, e assim por diante com todas as consequências.

Eles como os deputados do povo devem assumir a responsabilidade pela situação na região de Odessa. [...] É precisa apenas lhes explicar claramente que a sua responsabilidade é vir ao Conselho regional e tomar a decisão respetiva. Ao mesmo tempo, é claro, é preciso protegê-los da pressão dos banderas, para que eles estejam confiantes de que eles estão numa situação segura. Devemos, portanto, tomar sob controlo todos estes edifícios.

Denis: eu entendi você. Veja, então, o primeiro. Estamos prontos para isso, mas precisamos entender os termos. Hoje seremos capazes de organizar. Será que temos o tempo até amanhã?
Glazyev: Bem, teoricamente, tem, mas é melhor que até amanhã de manhã tudo fosse feito e o Conselho Regional seja colocado perante o facto.
Denis: Isto é, após a ocupação convocaremos a sessão do Conselho Regional, certo? Convidamos deputados e forçamos-os a votar?
Glazyev: Sim, sim, sim, sim. Você simplesmente os trazem. Assim, como fizeram estes... Quem está a vacilar, simplesmente pegar pelo colarinho e trazer. Se alguém não entende.

6 de março de 2014
Conversa com Serguey Aksyonov. Naquele momento é o “chefe do Conselho de Ministros da República Autonoma da Crimeia”. Hoje é o chefe da Crimeia.
Glazyev: Então, a primeira coisa. Parece-me que a pergunta do referendo foi mal formulada. Este não é apenas a minha opinião. Pensamos como formulá-las para que sejam claramente entendidas pelas pessoas. Porque muitos apenas pelo [uso] das palavras “como parte da Ucrânia” não vão votar.
Aksyonov:  Não, como a parte da Ucrânia eles nem pretendem. Isto é, por assim dizer, os votos, hoje nós nem esperamos que eles votariam pela Ucrânia. Apenas trabalham os colegas, embarcaram os cinco grupos. Ou seja, como que fosses os seus compatriotas, das diversas organizações que trouxeram, entre outras coisas, os materiais prontos, aprovados aparentemente com a Duma estatal – em termos da possibilidade da aprovação pela Duma dos regulamentos pertinentes.
Em 6 de março de 2014 se tornou público que no dito “referendo” na Criméia irão colocar não apenas a questão de expansão da autonomia dentro da Ucrânia, mas também sobre anexação da península à Rússia.

UPD: Respondendo às perguntas dos jornalistas, Sergei Glazyev, se recusou à comentar a gravação divulgada; Sergey Aksyonov ainda não se pronunciou e Konstantin Zatulin confirmou que a voz é definitivamente sua, mas afirmou que as palavras não foram ditas daquela maneira.

Blogueiro: as conversas decorreram em fevereiro-março de 2014. Quando Ucrânia não tinha nenhum batalhão voluntário, quando os agentes da polícia e do SBU passavam aos milhares ao inimigo. Quando exército ucraniano não tinha combustível para por os blindados à andar e quando o pessoal do “oligarca fascista” Igor Kolomoysky (Boris Filatov, Gennady Korban, etc.), pagavam do seu próprio bolso as chaves inglesas, baterias, cabos dos blindados que não recebiam a manutenção durante anos... Então, quando tudo isso acontecia, a mais alta liderança russa já andava financiar e incentivar os separatistas ucranianos à “apelarem diretemente ao Putin, à Rússia e assim, por diante...” Quando isso não surgiu o efeito desejado, fora de Donetsk e Luhansk, veio a segunda frente do terrorismo estatal russo: Girkin, “Babay”, “Motorola” que iniciaram a fase militar da “guerra civil ucraniana”. Ainda chegaremos à todos eles... 

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