No início de maio corrente, em Kyiv foi aberto o bar-restaurante “Karatel” (punidor-carrasco),
inspirado no seu design na propaganda russa, na sua visão e descrição destorcidas da realidade das
unidades voluntárias ucranianas e das forças armadas da Ucrânia em geral. A comida é
ucraniana e internacional, os preços são simplesmente fantásticos, nenhum prato
custa mais que 200 UAH (10 USD).
A trollagem está
mesmo na ementa, pois “Karatel” oferece “Dom-fafes grelhados” (codorniz grelhado, 100
UAH), “Pessoas educadas” (pernas de rã, 90 UAH), “Miliciano na grelha” (salmão
grelhado, 95 UAH), “Berkut na grelha” (peito de frango), “Bandera cínico” (sanduíche
clássico com o presunto), sobremesa “Pensionista da Crimeia” (panquecas do
queijo com nata), “O que se passa lá com os ucranianos?” (prato com toucinho, alho
e croûtons).
Dentro do bar existe o “local
de estacionamento para os escravos” (com algemas e outros acessórios BDSM), um “altar
nacional” dedicado ao Stepan Bandera e karaoke patriótico, com a permissão de
cantar as canções dos que apoiaram e apoiam a invasão russa, tudo pela módica
quantia de 250 USD.
"Estacionamento para os escravos" |
O cofundador do estabelecimento,
Yevhen Vasiliev, explica que a ideia do bar amadureceu durante cerca de
meio ano, após verificar que na cidade de Kyiv não existe nenhuma local onde
poderiam se encontrar os voluntários, combatentes da OAT, artistas e simplesmente
patriotas da Ucrânia.
O bar oferece os
descontos de 15% aos militares da OAT e também pretende apoiar as forças
ucranianas financeiramente: «agora estamos decidir se será uma ajuda personalizada
à unidade, onde estava combater um dos nossos, ou será uma ementa na
forma de souvenir que os clientes poderão comprar, com os fundos canalizados à
ajuda aos militares ucranianos», — explica Vasiliev (fonte
e fotos).
A jornalista Laetitia
Peron da agência francesa AFP foi conhecer o local e os seus proprietários e clientes mais
de perto.
Altar ficcional ao Stepan Bandera |
O título do menu: “Viva
a Junta” e as caricaturas ao Vladimir Putin à imitar Hitler são alguns dos gags
mais benignas de um novo bar em Kyiv, lotado todas as noites. Inaugurado este mês, o
bar “Karatel”, cujo nome pode ser traduzido como “O Punidor”, oferece uma visão
gastronômica de todas as principais clichês da propaganda russa sobre a guerra da
Ucrânia com as forças russo-terroristas no leste do país.
"Punidor: local do propósito espacial" |
Os proprietários,
alguns deles veteranos do exército ucraniano, dizem que o seu humor negro é
inofensivo e que ajuda as pessoas afetadas pelo conflito se sentir à vontade. Mas
servindo novidades como o salmão “separatista grelhado” e peito de frango “Berkut
grelhado”, uma referência à unidade de polícia, acusada de dispersar com brutalidade
os manifestantes pró-ocidentais na Maydan em 2014 – o bar empurra descaradamente
os limites do politicamente correto.
Quando entram no “Karatel”,
os clientes são convidados à deixar algemados os seus “escravos” na porta, em
uma referência à uma reportagem na televisão russa, à afirmar que Kyiv oferece dois
escravos para cada militar que luta contra os terroristas pró-Moscovo.
“Todas essas coisas
engraçadas no restaurante são inspirados nas histórias falsas usadas pela campanha
de desinformação da Rússia”, disse o gerente do bar Igor Pylyavets (29), convocado
ao exército da Ucrânia e sofrendo um ferimento grave no verão de 2014 no cerco
de Ilovaysk. Pylyavets explica que ele
e os seus amigos não poderiam fazer nada, à não sendo rir pela designação russa dos soldados ucranianos como “punidores”, que pretendiam “estripar a população
do leste da Ucrânia”.
“Nós rimos e é assim
que nós decidimos chamar o nosso bar, criando um lugar onde as pessoas que
passaram por guerra estão confortáveis”, – explica ele.
Sempre cheio
O grupo de amigos
procurou a ajuda do cozinheiro-chefe francês Andre Pettre (60), que acredita
que o bar é um sucesso porque apela à curiosidade das pessoas. Pettre compara o
humor sarcástico negro do bar ao estilo de revista francesa “Charlie Hebdo”. “Desde que abrimos, nós
estamos sempre cheios”, disse Pettre, que já havia trabalhando no mesmo local, quando
aqui abriu “Claude Monet”, um restaurante francês.
Uma das bandas cujas
músicas são mais tocadas aqui é “Okean Elzy”, que foi muito ativa durante a
Revolução Laranja de 2004-05 e nos protestos da Maydan de 2013-14. Na sua decoração
o bar misturou as paredes em tons de creme e toalhas de mesa elegantes com as
cartazes do regimento “Azov”, a rede de camuflagem no lugar das cortinas e as
camisetas do exército, usados pelos barmans e garçons.
Com o conflito em
Donetsk e Luhansk arrastando no seu 14º mês, muitos cafés agora fazem
as referências à guerra e da anexação de Moscovo à península ucraniana da Crimeia,
ocorrida em março de 2014. Mas “Karatel” é o primeiro bar em Kyiv à se
concentrar inteiramente no tema da Operação antiterrorista (OAT) no leste da Ucrânia,
disse Pylyavets.
“Algumas pessoas
criticam-nos, porque acham que não é o momento certo para fazê-lo, durante a
guerra. Mas é o momento certo. Nós não estamos atacando ninguém e nós não atiçamos
nenhum ódio. Nós só estamos rindo”, disse ele (fonte
e fotos).
Visitar: Kyiv, rua Turgenevska № 25 (a entrada do estabelecimento);
Funcionamento: das 11h00 à 1h00
Jogar: Os
jogos da junta sangrenta
Pensar: Polina Gagarina: “A Million
Voices”:
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