Os moradores de Lviv ficavam chocados quando entraram no pátio da prisão na Lonckoho. Dia 3 de julho de 1941, Lviv (foto: arquivo CDVR) |
por: Ihor Derevyaniy *
Os fuzilamentos em massa dos prisioneiros políticos nas cadeias da Ucrânia Ocidental durante os meses de Junho – início de Julho de 1941, foram inéditos mesmo para os padrões habituais do Comissariado Popular do Interior (NKVD) da URSS.
O exemplo da cidade de Lviv demonstra claramente o modo operativo dos “valentes lutadores contra a contra-revolução”.
A cidade de Lviv possuía três cadeias: № 1 na rua Lonckoho, № 2 – Zamartynivska e № 4 – Brygidki. Cadeia № 3 se situava na fortaleza de Zolochiv, cerca de 70 km fora de Lviv, para lá os prisioneiros eram enviados sempre quando outras cadeias da cidade ficavam superlotadas. E estavam em 1941, por exemplo, a cadeia na Lonckoho tendo o limite de 1500 presos, obrigava 3638 prisioneiros.
O destino dos prisioneiros era decidido por apenas duas pessoas, o chefe do Departamento de investigação do UNKGB na província de Lviv, Shumakov e o procurador da província de Lviv, Kharitonov. No arquivo do Centro de Estudo dos Movimentos de Libertação (consulte também o seu twitter), é possível ver as listas dos fuzilados que contêm o apontamento do Shumakov: “Sentença fuzilar como inimigos do povo”. E os apelidos – Barenleim (?), Didukh, Krachkovski, Tsverling, Bondar, Mazarchuk, Kotyk...
No dia 22 de Junho de 1941, as cadeias da província de Lviv abrigavam os 5424 prisioneiros, a maioria era incriminada ao abrigo do artigo № 54 do Código Penal da RSS Ucrânia, ou seja “actividades contra-revolucionárias”. A “limpeza” das cadeias foi desencadeada após a emissão da Directiva № 2445/М do Comissário do NKVD Merkulov e da directiva do chefe da Direcção prisional do NKVD da RSS Ucrânia, capitão do NKVD, Filipov, ambas emitidas no dia 23 de Junho de 1941. As decisões de extermínio eram autorizadas pelo procurador Kharitonov: “Fuzilamento como inimigos do povo, sanciono”...
Com o início da invasão nazi, as chefias do NKVD (NKGB), ordenam o registo urgente de todos os prisioneiros e a sua divisão entre aqueles que deveriam ser deportados para o GULAG e aqueles que deveriam ser fuzilados, tarefa confiada às estruturas locais do NKVD (NKGB). O “Plano de evacuação” do NKVD previa a deportação da província de Lviv de 5.000 prisioneiros, para isso foram disponibilizados 204 vagões ferroviários. Segundo às instruções do NKVD da URSS de 29 de Janeiro de 1939, cada vagão era destinado para o transporte de 30 pessoas, significa que poderiam ser deportados 6.120 prisioneiros. Na realidade foram deportadas apenas 1822 pessoas das 5.000 previstas. Outras 3602 pessoas ficaram nas cadeias de Lviv, o destino dos vagões não é mencionado nos documentos...
As execuções
As execuções começaram no dia 22 de Junho, quando foram fuzilados os condenados à pena capital. O chefe do Departamento do UNKGB, Lerman, informa no seu relatório que até o dia 24 de Junho nas cadeias de Lviv e Zolochiv foram fuziladas 2072 pessoas. Novas listas foram elaboradas no dia 25 de Junho, autorizando a execução de 2068 pessoas, eles foram exterminados entre 25 e 28 de Junho.
Significa que na província de Lviv, NKVD (NKGB) fuzilou 4140 prisioneiros (2072 + 2068), desta maneira, o número dos fuzilados ultrapassa o número inicial de 3602 pessoas, que ficaram detidas nas cadeias. O mesmo Lerman explica no seu relatório que se tratava de novas detenções do NKVD (a maquina assassina não parou um minuto), mas os carrascos simplesmente já não tinham tempo de preencher os processos individuais dos prisioneiros. Na maioria dos casos, os cidadãos nem eram acusados formalmente, apenas apontados como “membros da OUN, espiões ou sabotadores”, ou seja, as pessoas que deveriam ser fuziladas.
Em toda a Ucrânia Ocidental naqueles dias foram fuzilados cerca de 24.000 pessoas...
A morte em cadeia
No início NKVD usava a sua prática habitual: fuzilava individualmente, em uma cela especial, com a bala na nuca. Quando a frente militar se aproximou, mas o plano ainda não foi cumprido, começaram as matanças em massa: os prisioneiros eram reunidos nas celas das caves, lá eram atingidos pelo fogo das espingardas automáticas, atirando através da janelinha que servia para fornecer a comida. Por último, atiravam as granadas por dentro das celas ou abriam as portas das celas e fuzilavam as pessoas nos corredores das cadeias. Os corpos eram sepultados longe das cidades, nos locais abandonados, depois nas caves ou nos quintais das cadeias.
Mesmo após a sua deportação, os cidadãos da Ucrânia Ocidental continuavam ser fuzilados nas cadeias de trânsito da Ucrânia Central e do Leste, em Uman, Kyiv, Kharkiv... Um caso verdadeiramente macabro foi registado na província de Ternopil, na localidade de Zalischyky, onde os soviéticos destruíram a ponte sobre o rio Dnister. Quando dos dois lados da linha apareceram dois comboios com 7 vagões cada (14 vagões, cada um com 50 – 70 prisioneiros), NKVDistas regaram os vagões com gasolina, os incendiaram e atiraram ao rio...
Aproveitamento da propaganda nazi
Após a tomada de Lviv, os alemães ordenaram a abertura das valas comuns, a tragédia da Galiza ucraniana e os crimes soviéticos foram usados na propaganda nazi, obviamente não por causa da sua compaixão humanista. As pessoas exterminadas, na sua maioria ucranianos, polacos e judeus, eram chamados na imprensa nazi de wolksdeutche. Por questões propagandísticas, nas exumações os nazis também usaram compulsivamente a mão-de-obra judaica.
Por sua vez a propaganda soviética “atribuiu” as matanças em massa do NKVD aos nazis, tal como fez com os assassinatos dos oficiais polacos em Katyn. Infelizmente, alguns dos mitos da propaganda soviética vivem e nós assombram nos dias de hoje.
A sociedade civil da Ucrânia Ocidental foi chocada com aquilo que testemunhou. Em 1939 os polacos abriram as cadeias e libertaram todos os prisioneiros políticos, até os aconselharam: se dirigir apenas para o Leste; pois na zona dos combates, os ex-prisioneiros poderiam ser fuzilados. Mesmo os nazis, em 1944/45 deixaram vivos os sobreviventes dos seus campos de concentração.
A matança soviética massificada, terrível na sua absoluta absurdidade, foi um dos motivos principais do enraizamento das posições anti – soviéticas daquela e das próximas gerações dos ucranianos. Desde a Independência da Ucrânia, todos os anos, a sociedade civil presta a justa homenagem às vítimas, na antiga cadeia № 1 na rua Lonckoho hoje funciona o Museu Nacional da Memória de todas as vítimas dos regimes de ocupação.
* Ihor Derevyaniy é historiador, funcionário do Museu Nacional da Memória de todas as vítimas dos regimes de ocupação “Cadeia na Lonckoho”.
Fonte:
http://www.istpravda.com.ua/articles/2011/06/24/43789
Bónus
As pessoas que perderam familiares, vítimas das repressões do regime soviético podem consultar as páginas da Internet, para procurar os dados sobre os seus entres queridos:
"Listas de Stalin": listas das pessoas que foram condenados através da sanção pessoal do Stalin e outros membros do Bureão Político do PCUS, geralmente ao fuzilamento, mais de 45.000 pessoas.
"Vítimas do terror político na URSS": nesta página russa estão reunidos os dados sobre mais de 2.600.000 vítimas das repressões estalinistas (toda a URSS).
Banco Nacional de Dados das Vítimas das Repressões Políticas (Ucrânia)
Blogueiro
A tentativa do aproveitamento nazi da tragédia da Galiza ucraniana e dos crimes soviéticos não pode servir de pretexto à esquerda estalinista para negar os crimes do comunismo. Dois regimes totalitários lutaram até a morte pelos recursos e pelo território da Ucrânia. O regime soviético não pode ser ilibado dos crimes do NKVD só porque estes foram apontados pelo Berlim. Os crimes de uns não justificam e não desculpam os crimes dos outros, é por isso que desde 2004 a Europa celebra em 23 de Agosto o Dia Europeu da Memória das vítimas do comunismo, nacional-socialismo e outras ideologias totalitárias.
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