No dia 12 de março de 2011, numa caverna nos arredores de Kyiv, as crianças encontraram o corpo morto de um menino com muitas feridas de corpo. O morto foi identificado como Andrei Yuschinsky, um estudante de doze anos da classe preparatória da Escola eclesiástica de Kyiv. A investigação do caso foi confiada ao investigador dos casos criminais ordinários. Mas alguns dias depois, o caso ganhou uma conotação inesperada. O movimento nacionalista monárquico russo, conhecido genericamente como “centelhas negras” afirmou que o assassinato teve o caráter ritual e foi perpetuado pelos judeus para extrair a sangue ortodoxa.
No processo, que decorreu em Kyiv entre 23 de Setembro à 28 de Outubro de 1913, participou, do lado da acusação, na qualidade do perita, Ivan Sikorsky, psiquiatra, ensaísta e professor da Universidade de São Vladimir de Kyiv, membro honorário da Academia Eclesiástica de Kyiv. Polaco/polonês russificado, professor Sikorsky era notório antissemita, anti-ucraniano e nacionalista russo, o pai do famoso criador de aeronaves Igor Sikorsky.
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O funcionário do Departamento de Polícia de Kyiv, Venedikt Dyachenko, telegrafava ao São Petersburgo, mantendo a monarquia informada sobre o decorrer do processo: “o povo simples, lendo a peritagem do Sikorsky, expressa grande ódio aos judeus, ameaçando com um pogrom”.
A sociedade russa da psiquiatria deliberou uma resolução especial, dedicada às alegações do Sikorsky: “pseudocientíficas, não correspondem aos dados objetivos do exame forense ao corpo de Yuschinsky e não correspondem às normas da Carta do Processo Penal”. Na primavera de 1913 o XII Congresso médico do império russo “Pirogov” adotou a resolução especial contra o as deliberações do Sikorsky. No outono de 1913 as deliberações do Sikorsky foram condenadas pelo Congresso Médico Internacional em Londres e pelo 86º Congresso de Naturalistas e Médicos alemães em Viena.
Mendel Beilis foi defendido por vários advogados famosos. Entre os seus mandatários oficiais estava o jornalista russo Vladimir Nabokov (o futuro autor da “Lolita”), que estava presente no processo como correspondente do jornal liberal “Rech”.
Após a sua libertação, juntamente com a família Beilis deixou o império russo, mudando-se, primeiramente para a Palestina, e depois aos EUA, onde morreu em 1935. Foi o autor do livro biográfico “História do meu sofrimento”. O livro foi publicado em ídiche, inglês e em russo.
A principal razão da absolvição do Mendel Beilis foram os enormes esforços do investigador da polícia de Kyiv Nikolay/Mykola Krasovsky, despedido e até preso pela sua recusa em cumprir as ordens superiores de confirmar o assassinato ritual, conduzindo uma investigação privada, conseguindo chegar aos verdadeiros assassinos, apresentando aos jurados a versão completa do assassinato, reforçada com diversas evidências e testemunhos.
Mykola/Nikolay Krasovskiy, antes de 1917 @Wikipédia |
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