Em 1968, na
Checoslováquia, a maioria dos soldados soviéticos pela primeira vez na vida viu
os hippies. As chefias militares explicavam aos soldados que os jovens
checoslovacos de cabelo cumprido são o produto da má influência ocidental e representam
a traição dos ideais do socialismo.
por: Volodymyr Viatrovych,
historiador
Na sociedade ucraniana
da época, a invasão da Checoslováquia e o estrangulamento da democracia no país
vizinho suscitou as diversas reações. Os cidadãos mais esclarecidos mostravam o
seu descontentamento abertamente ou, mais clandestinamente, divulgavam os
panfletos contra a invasão. Alguns representantes da elite intelectual, conotados
com o poder apoiaram a invasão publicamente. Os memorandos do KGB sempre
sublinhavam que “a larga maioria do povo soviético apoia inequivocamente as
ações do CC do PCUS, do Governo soviético e dos outros países amigos, relativos
à Checoslováquia”. Na realidade, “a larga maioria do povo soviético” ficou
bastante indiferente aos acontecimentos em Praga.
O povo apenas ficou
sobressaltado com a mobilização dos homens para o exército. A geração que ainda
se lembrava da II G.M., refletia de seguinte maneira: mobilização significa a guerra,
guerra significa a necessidade de fazer o stock dos produtos necessários. As
filas nas lojas, já tão habituais na URSS aumentaram significativamente,
começou o pânico.
A URSS temia a entrada
da NATO no conflito, por isso na operação Danúbio participou cerca de meio
milhão de militares soviéticos, mas também da Polônia, RDA, Hungria e Bulgária.
KGB tinha as razões para duvidar da lealdade total dos mobilizados, por isso monitorava
a correspondência que os militares mandavam às suas famílias. Na sua maioria as
cartas testemunhavam o medo e a falta de informação sobre os acontecimentos,
sentimentos de pânico e de insegurança. Mas os “ventos de nacionalismo”, acordados
pela Primavera de Praga chegavam ao exército soviético. KGB informava:
“Reservistas mostram o descontentamento com o serviço, muitos exigem a
desmobilização e abertamente afirmam não ter vontade de lutar pelos outros.
Algumas pessoas cantavam as canções nacionalistas. Em resultado, uma parte dos
reservistas ucranianos foi desmobilizada, o seu lugar foi preenchido pelos
soldados efetivos”.
Mas os temas dominantes
eram a disposição angustiante e descontentamento com as condições de vida. Eis
o que escreviam os soldados: “Em redor só árvores e nada mais. Quase não vês o
sol, vives como na cadeia […] por vezes […] queres pegar a espingarda
automática e dar um tiro na testa”. “Vivemos quase como os porcos, – se
indignava outro soldado, – tudo está sujo. Basta dizer isso, logo és acusado de
ser o traidor da Pátria”. Não apenas os soldados, mas também os oficiais
procuravam a descontração na bebida: “Vivemos no campo aberto, mas já é outono,
é húmido e frio. […] Se dedicamos à luta contra o frio, sujidade e disenteria”.
A população da
Checoslováquia não aceitava os “visitantes” não convidados, “continuamos a receber
os insultos (“Ocupantes!”, “Invasores”) e ameaças (“Somem daqui para casa!”) e
outros”, escrevia um soldado da Ucrânia.
Os checoslovacos não
ofereceram a resistência armada massificada como em Budapeste em 1956. Os dados
históricos apontam a morte em confrontos esporádicos de cerca de 100 cidadãos
da Checoslováquia e 12 militares soviéticos. No entanto, as perdas soviéticas casuais
eram muito maiores – 84 militares morreram em acidentes com armas e
equipamentos da guerra (assim o exército soviético classificava os suicídios),
dos acidentes e doenças.
O termo “contrarrevolução”
ou “contra”, usado pelo serviço psicossocial soviético, pouco a pouco fazia a
cabeça dos soldados. “Nos locais mais seguros, – escreve um soldado, –
entrincheirou-se a contra. Nas escolas, institutos, professores e docentes
ensinam aos alunos e estudantes as inventivas caluniosas contra União Soviética
e essa juventude cabeluda acredita prontamente”. Levados pela propaganda
sistémica, os jovens soviéticos, outrora desorientados, lentamente se
transformavam em ocupantes clássicos, convencidos da importância da sua missão
e sentindo o desprezo e ódio pelas populações locais. “Os checos nos chamam de
ocupantes, dizem descaradamente na cara: para que vieram, vão embora enquanto
são vivos. Pessoalmente falava com vários checos, e sabes, por este tipo de
tratamento, pegava a coronha…”, reportava outro. O chauvinismo da grande
potência propunha as explicações simples da presença dos soldados tão longe de
casa. “Estas canalhas não eram os nossos amigos e não serão tão já. Alguém
virou a consciência deles para o outro lado…”
Dez anos após a Praga,
em 1979, a União Soviética mais uma vez lançou o seu exército para cumprir “o
dever internacionalista”, desta vez no longínquo Afeganistão. Lá,
diferentemente da Checoslováquia, cada pedaço da terra “amiga” teve que ser
tomado em combate. Apenas a derrocada da URSS saciou a vontade de Kremlin de
cumprir o “dever internacionalista” no estrangeiro. Em 1989 Moscovo se retirou
do Afeganistão, em 1991 retirou as suas bases da Checoslováquia. Assim terminou
o imperialismo soviético e acabou o império.
Fonte
http://tsn.ua/analitika/praga-68-viglyad-z-tanka-okupanta.html
2 comentários:
Tu acompanhas o caso da banda Pussy Riot? Até a Madonna declarou apoio a elas. E em relação as tentativas de Moscou em derrubar o presidente da Romenia? Ele acusou a rádio Voz da Rússia de fomentar a oposição. Parece que a Rússia volta a interferir nas questões internas do países da Europa do Leste. Primeiro foi a morte do presidente anti-russo da Polonia em circunstancias misteriosas, agora a tentativa de derrubar um presidente eleito pelos romenos e que foi confirmado no cargo em um plebsicito.
Tudo sob controle :-) dia 17.08 é o Dia Mundial pela libertação das Pussy Riot.
Não devemos cair na cilada dos outros de chamar alguém de anti-russo só pk denuncia GULAG, NKVD ou em geral os crimes do comunismo soviético. O povo é eterno e os dirigentes por mais poderosos que se acham são apenas passageiros.
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