sexta-feira, janeiro 28, 2005

Os manipuladores 3

Entre os profissionais russos das Relações Públicas, que trabalharam para a campanha do candidato derrotado nas eleições presidenciais da Ucrânia – Viktor Yanukovych, destaca-se Marat Guelman. Tido como liberal na Rússia (Gelman luta contra o controlo estatal sobre a cultura e artes, é frontalmente contra a tentativa da Igreja Ortodoxa Russa de se transformar numa igreja estatal, etc.), na Ucrânia ele apoia o político mais retrógrado, do que há historia deste país na última década.
Trabalhando em conjunto com outro especialista de RP – Gleb PAVLOVSKIY, Gelman adopta uma postura mais cínica e por isso mais perigosa, do que o seu colega. Gelman, praticamente está a confirmar que o seu candidato, Yanukovich não presta e não passa de um falsificador de eleições e pão mandado dos grupos mafiosos de Donetsk. Ao mesmo tempo, Gelman diz que Yanukovich é o candidato que mais convém a Rússia, por uma série de questões, mais importante dos quais, é com certeza, o seu estatuto de uma pessoa facilmente manobrável e influenciável.
Não é para confundi-lo com outro Gelman, o esquerdista argentino Juan Gelman que na página web chamada Pagina12, em 5 de dezembro de 2004 publicou um artigo intitulado “Lo de Ucrania”, onde acusava candidato vencedor das eleições, Viktor Yuschenko de corrupção, citando o site ucraniano www.analitik.org.ua (gerido pelo Sr. Pogrebinskiy, especialista ucraniano em RP, o conselheiro de oligarca Viktor Medvedchuk, aliado do ex–presidente da Ucrânia – Leonid Kuchma e inimigo político de Viktor Yuschenko). O artigo é uma miscelânea de Banco Mundial com a Guerra Fria e de George Soros com as linhas de fornecimento de petróleo do Cáspio. Na medida exacta para que um pequeno burguês de Argentina ou de qualquer outro pais da América Latina, acreditar que Viktor Yuschenko é agente de influência de Washington.
Extractos de entrevista de Marat Gelman à página russa dni, dados antes dos resultados definitivos do Tribunal Supremo da Ucrânia, que “carimbou” a vitoria presidencial do Viktor Yuschenko.
As mudanças políticas na Ucrânia, não podem não reflectir-se na Rússia e na sua situação política... 

Eu espero que o Yuschenko e a Europa farão tudo, para que Putin não se sentir humilhado, como o perdedor principal. <...> É necessário que Putin dê um sinal, que a Rússia não vai apostar no jogo de divisão e retire aos “separatistas” a última esperança.

Agora o poder (na Rússia) vai ter medo de exportação de “revolução de castanha” para a Rússia... (“revolução de castanha” é outro nome dado a Revolução Laranja na Ucrânia, por o castanheiro ser o símbolo de capital ucraniana).
O perigo real reside no facto, que depois da entrada maciça da Ucrânia no imaginário de dia–a–dia da Rússia, os cidadãos da Federação Russa obtiveram um espelho, que servirá para que cada um de nos olhar nele. Porque, quando nos, reparamos na vida mais folgada do que a nossa, de gente simples na França ou nos EUA, nos entendemos, que tivemos o soviétismo e eles o capitalismo, durante os últimos setenta anos, agora temos que correr atrás. Com Ucrânia é muito diferente. Passado comum, nos até temos um certo bónus de minérios, e se o novo poder na Ucrânia será melhor sucedido que o russo, e nos todos seremos testemunhas disso – isso será uma ameaça real, isso será um poderoso instrumento de pressão sobre o Kremlin. E aqui já não haverá a maneira de argumentar com o passado comunista ou duma mentalidade própria.
Bom, essa ameaça ainda não se tornou real, mas hoje, numa perspectiva de curto prazo, qual será a influencia das eleições na Ucrânia na situação política russa? 

Aqui existem três momentos, que é necessário assinalar:

Primeiro. Patriotismo do tipo imperial – estatal, consciência imperial, que é largamente implementado na Rússia, não terá nenhum projecto. <...> Agora, depois dos acontecimentos na Ucrânia, o projecto imperial desapareceu. Projecto desapareceu, mas as pessoas com a consciência imperial ficaram. Alguns deles vão baixar os braços, ficarão apolíticos. Mas ficará uma maior parte, daqueles que vão se sentir feridos no seu amor próprio.
Segundo. Ligados aos acontecimentos na Ucrânia ou por outros razoes, (na sociedade) apareceu o novo tipo de estado do espírito oposicionista. Este estado de espírito ainda não se transformou em eleitorado, mas apenas porque, não recebeu a proposta certa dos políticos. Portadores deste espírito (estudantes, jornalistas, pequeno empresariado) não se posicionam nem como a esquerda, nem como a direita. Não por falta das crenças políticas, simplesmente porque são diferentes. Na política eles nunca foram jogadores activos. E no momento, quando eles vão obter o seu sujeito, os termos como “esquerda”, “direita”, “centro” vão perder na Rússia todo o peso anterior.
Terceiro. Desde o inicio de Perestroica, a Rússia não tinha o relacionamento tão ruim, com os seus parceiros estrangeiros. Embora, pode ser, que com o tempo tudo fica resolvido. Eu não acredito em verdadeira Guerra Fria. Nem a Rússia, nem a Europa, nem EUA tem interesse em agravamento das tensões. Outra questão, que a desconfiança, ainda muito tempo será a entrave real nos diferentes aspectos dos nossos relacionamentos. São necessários as vitorias e as derrotas conjuntas.
Alguns meses atrás, o Poder, através da Televisão, afirmou que na Ucrânia começou quase a “guerra santa”, agora se acontecer que Putin vai trabalhar efectivamente com o Viktor Yuschenko (Putin disse isso na Alemanha) isso não fará com que as pessoas vão perder a confiança em TV? 

Este é um processo que desenvolve-se mesmo sem a Ucrânia. Jornalistas são gente talentosa – vão inventar algo. Embora, pode acontecer que vão ficar cansados de inventar. Nesta situação a Internet ganha uma dimensão especial. Sim, é pouco lido por o público amplo, mas ele indica o novo formato de jornalística, que sempre será mais atractivo, porque é mais livre, intelectualmente mais capaz, tem mais brilho. As publicações na Rede indicam as regras do jornalismo livre, que gente da TV, quer ou não quer, mas tem que experimentar nas suas rotinas também.

Marat, a Rússia tinha uma intervenção mais que activa na campanha eleitoral de Ucrânia, por isso naquilo que aconteceu, nos também temos a culpa. Onde foi feito o erro? O que o Kremlin fiz de errado? 

Claro, que Yanukovych, como presidente da Ucrânia, realmente, é mais vantajoso para a Rússia, do que Viktor Yuschenko. Mas ilegítimo, não reconhecido pela comunidade internacional, Yanukovych é um problema colossal para Putin, e não é um parceiro confortável, como foi previsto. Devia se fazer prognostico, de como a gente de Donetsk pretendia ganhar, e com o apoio muitíssimo camuflado, o próprio presidente mantinha a distância. Só nesta situação, a Rússia poderia se tornar como patrocinadora de processo de regularização. Agora somos uma parte interessada e os árbitros serão UE, Alemanha, Polónia.

Porque Putin ajudou Yanukovych tão activamente? 

Não se trata, claro, do que nos gostamos de Yanukovych. Não toleramos o Viktor Yuschenko. E aqui, alem das questões óbvias, existe algo de importante pessoalmente para o Putin. <...> É uma argumentação séria? Depende para que. O tamanho dos problemas internacionais, ligados a situação ucraniana, é muito maior. <...> A perca de confiança popular no centro da Ucrânia é incalculável. <...> Aconteceu que, quando Putin pensava que constrói um lobby poderoso na Ucrânia, o grupo de Donetsk criou o seu próprio lobby dentro da presidência russa. Muito mais, nos queimamos o nosso recurso de influência, que tivemos desde sempre – a Igreja Ortodoxa da Ucrânia – Patriarcado de Moscovo. Que nas ultimas semanas entrou tão activamente na campanha eleitoral. O elemento importantíssimo da influencia legitima pró – russa na Ucrânia caiu em descrédito. Quer dizer: Putin, Igreja Ortodoxa e falsificação estão na mesma fila.

E as felicitações do Putin e Gryzlov para Yanukovych... 

É um erro simplesmente catastrófico. <...> Com este pronunciamento, Putin pôs a si mesmo, numa posição completamente idiota. Como isso foi visto pelos telespectadores: são divulgados os resultados dos exit polls (inquéritos à boca de urnas), que dão a vitoria ao Viktor Yuschenko. Os conselheiros de Yanukovych afirmam, que dados dos exit polls não lhes importam em nada, que importam apenas os resultados oficiais. E aqui, ainda antes de divulgação dos tais resultados oficiais, Boris Gryzlov (enviado especial da Rússia às eleições ucranianas) que esta em Kyiv e vê pelos próprios olhos aquilo que aconteceu nas eleições, convoca a conferencia de imprensa e felicita o Yanukovych com a vitoria. O presidente do Parlamento russo! Depois – mais: Putin telefona para Yanukovych e também felicita-o com a vitoria. Toda a gente normal foi chocada com estes acções do poder russo. E claro, que na conferencia de imprensa mais próxima, Putin foi perguntado, porque ele fiz isso. O que responde Putin? Ele afirma que felicitou um dos candidatos pelos resultados de exit polls! Pelos mesmos resultados, que não foram reconhecidos por eles, mais, pelos resultados que deram a vitoria à outro candidato. Isso não pode ser chamado de nada, alem de comédia. Putin tornou-se o herói de uma anedota. <...> Mas mais importante é o seguinte, a partir daqui, a Rússia vai perder as eleições ucranianas de qualquer maneira.

O que a Rússia deve fazer agora, do seu ponto de vista? 

Primeiro. Se falar sobre a parte pública (visível), então temos que pelo menos tentar imitar o papel de patrocinador do processo de regularização. Se não podemos ser mais importantes neste processo, então pelo menos não o perdermos.

Segundo. É necessário adoptar uma posição clara: somos interessados na continuação da unidade territorial da Ucrânia e resolução de conflito da maneira pacífica.
Terceiro. Temos que formular alguns condições, cuja continuação é sem duvida importante para a Rússia, por exemplo, conservação do estatuto da Ucrânia como um país não nuclear e neutral.
Se falarmos sobre os processos sombra, então;
Primeiro. Temos que passar à Ucrânia a ideia de federalização. É necessário implementar na Ucrânia a ideia de eleições (locais) dos governadores das províncias.
Segundo. Temos que por em jogo interlocutores novos, não desacreditados, entre os dois países.
Terceiro. E é mais importante. No caso das novas eleições, é necessário urgentemente, em colaboração com as elites ucranianas pró – russas, procurar o novo candidato alternativo ao Viktor Yuschenko. Porque Yanukovych não tem chances.
Fonte
Blogueiro 
Tal, como no caso de Pavlovskiy, só é possível dizer que Gelman é um bom profissional das RP. Essa entrevista foi dada muito antes de protestos da rua que hoje tomaram a conta das cidades russas. O presidente de “teflon”, V. Putin, que nunca antes experimentou nenhum aranhão na sua reputação brilhante de “salvador da nação”, sentiu os primeiros passos de tal “revolução de castanha” a ser transportada para a Rússia, que foi anunciada por Gelman. O feitiço se virou contra o feiticeiro?

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