quinta-feira, dezembro 17, 2020

A noite polaca dos cristais em Lviv

O livro “Lwów – kres iluzji” (Lviv – o fim das ilusões) é o primeiro estudo histórico de grande envergadura que descreve o pogrom antissemita perpetuado pelos militares polacos/poloneses contra os moradores judeus da cidade de Lviv após a queda da República Popular da Ucrânia Ocidental (ZUNR) em novembro de 1918.

Por quase um século a historiografia polaca/polonesa descrevia essa tragédia como uma série de crimes banais, perpetuadas pelos ucranianos ou mesmo judeus, desertados do exército austríaco. 

O historiador polaco/polonês Grzegorz Gauden prova, de uma forma convincente, que a série dos pogroms judaicos que coincidiu com a proclamação da 2ª república polaca não era uma mera coincidência. 

Edição polaca/polonesa

A página histórica ucraniana IstPravda publica os trechos do seu livro: 

Às 5h30 do dia 22 de novembro de 1918 em Lviv, o futuro hino da Polónia soou como uma trombeta, que deu ao exército um sinal para atacar o bairro judeu [da cidade]. 

Após décadas de intensa doutrinação pela Democracia Nacional e pela Igreja Católica [polaca/polonesa], os judeus se tornaram para os polacos/poloneses um demônio que ameaçava o sistema cristão e o quarto invasor da Polónia. Na retórica política polaca/polonesa no início do século XX, os judeus eram retratados como o agressor mais perigoso. 

A sinagoga profanada. Foto: DAS INTERESSANTE BLATT

[…] 

A imagem de soldados polacos/poloneses enfurecidos batendo com espadas os judeus indefesos, mulheres e homens, aparece em muitos depoimentos. Para zombar dos judeus, eles usaram mais do que apenas espadas; eles também usaram coronhas de revólver e de espingardas/rifle, punhos, baionetas, chicotes, paus, lanças e lâmpadas de querosene para atear fogo aos lares judeus. 

O exército e o público polaco/polonês tiraram das “forças estrangeiras”, das forças judaicas, das pessoas indefesas tudo o que poderia ser suportado. E quando algo não podia ser tolerado, eles o destruíam. 

[…] 

A edição ucraniana

O pogrom não se limitou à violência física. Para quem o planeou, a violência simbólica e a humilhação dos judeus foram muito importantes. 

“22/XI, às 11 horas, vi pela janela que em frente ao santuário [judaico] estavam os restos dispersos de publicações da sinagoga, e dois oficiais vieram em uma carroça de duas rodas. Eles observaram por um longo tempo enquanto legionários e civis armados chutavam, queimavam e atiravam – esses restos”, testemunhou Pinya Posthorn. 

[…] 

A queima pública de livros sagrados, a queima de sinagogas e a profanação do cemitério judaico foram uma demonstração do triunfo polaco/polonês e do prazer de humilhar os judeus. 

Os perpetradores polacos/poloneses do pogrom não tinham assassinatos, estupros, incêndios criminosos, tortura e saques suficientes. Os judeus também deveriam ter sido privados de sua dignidade humana. O espetáculo de violência simbólica e corrupção pública, que começou nos dias do pogrom, durou semanas e meses em Lviv. 

Jornal polaco/polonês "Nowy Dziennik", 27/11/1918

[…] 

As histórias de vítimas e testemunhas não são capazes de transmitir o horror desses acontecimentos. Neles não se ouvem os uivos de pessoas espancadas, os gritos de mulheres estupradas, os gemidos de pessoas queimando em casas, os gritos de homens, mulheres e crianças, o lamento vindo das varandas, pátios e ruas do bairro judeu de Lviv. 

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