terça-feira, janeiro 01, 2019

A batalha soviética pelos alimentos mais básicos do Ano Novo

O Ano Novo soviético desde sempre foi marcado pelas filas intermináveis na procura de alimentos festivos. Ervilha e milho enlatados, ersatz de marisco, linguiça semi-defumada, e outras coisas semelhantes, acessíveis às camadas mais pobres de qualquer sociedade capitalista.

Além disso, o comércio planificado soviético não conseguia fornecer à sua própria população a quantidade necessária de alimentos mais básicos. Como resultado, mesmo ficando 2-4 horas numa fila interminável, ao céu aberto e às temperaturas negativas – não era nenhuma garantia de comprar aquilo que pretendia – a mercadoria podia simplesmente acabar na cara do comprador, e então, este deixava a loja socialista de mãos à abanar.

02. A fila para comprar bolos, foto da década de 1980. Geralmente as boas donas de casa faziam os bolos caseiros, mas algumas pessoas os compravam nas lojas. Os bolos industriais soviéticos, via de regra, tinham cores ácidas (com horríveis e brilhantes rosetas) e estavam cheios de um creme oleoso incrivelmente desagradável, sentido na boca como manteiga.
Além de bolos, o comércio soviético também vendia diversos bolinhos menores, ao contrário dos bolos, eram de uma qualidade bastante adequada, comprá-los para a mesa de Ano Novo (para casa ou para levar consigo de visita) era considerado um sucesso.

03. Além das filas nas lojas – havia filas nas ruas, na maioria das vezes para comprar alguma fruta. As pessoas na foto estão comprar alguma maçã pequena – no inverno isso também era um deficit e uma raridade. Em geral, ter alguma fruta na mesa de Ano Novo era considerado na URSS um sucesso.

04. Havia filas de Ano Novo também nos mercados – para comprar a carne (principalmente carne de porco e toucinho), frangos ou patos (produtos bastante raros), salsichas ou peixe. A foto abaixo transmite muito bem a expressão festiva de rostos de todos aqueles que estão numa fila soviética.

05. A venda livre de linguiça defumada, conhecida na URSS como cervelat, provocava as filas enormes – linguiça soviética cheirava como dormentes de caminhos-de-ferro/ferrovias e era vendida sem fazer as cortes, aos pedaços inteiros. Impossível de “conseguir”, isso é, comprar, fora da época festiva, antes do Ano Novo, o comércio soviético a “deitava/jogava fora”, isso é, vendia de forma livre. Era sorte conseguir 2-3 pedaços, neste caso 1-2 poderiam ser oferecidos a alguém como presente ou trocados por uma outra coisa que estava em deficit.
A imagem acima está marcada nos arquivos como “fila para [comprar] linguiça”, mas pessoas experientes sugerem que as longas peças à esquerda não são linguiça, mas pepinos. No entanto, as linhas para comprar linguiça não diferiam muito.

06. Em várias empresas soviéticas existiam “lojas especiais” onde os funcionários dessa mesma empresa podiam fazer compras – antes do Ano Novo as lojas recebiam alimentos escassos – ervilhas e milho enlatados, conservas de carne, caviar vermelho. As compras eram feitas somente sob apresentação de um passe especial da empresa – esse momento é capturado na foto, o comprador mostra dois passes ao mesmo tempo, para obter os bens em seu nome e em nome da sua esposa.

07. A compra de algum alimento com uso de cupões, provavelmente – a nata azeda (a julgar pelos frascos de meio litro). No final da década de 1980 a maionese era vendida na URSS quase sempre em frascos selados, era impossível diluí-la com qualquer outra coisa. Mas a nata azeda era diluída muito muitas vezes – criando os lucros “fora da caixa” aos funcionários do comércio.

08. Os que vinham atrasados encontravam apenas as prateleiras vazias.

09. As filas para compra de objetos industriais, que podiam servir como prendas. O calçado, relógios bons e não muito caros, lenços femininos estrangeiros, eram esgotados momentaneamente.
Vendedora sénior: "Vocês são muitos e eu estou aqui sozinha!!!"
10. Prateleiras vazias do departamento de calçado:

11. Prateleiras vazias do departamento de roupa pronta:

12. Como podemos ver, a URSS era, na verdade, um estado “anti-social” – aqueles que não conseguiam arranjar o tempo ou que fisicamente não podiam aguentar as longas filas de compra de bens e/ou alimentos – ficavam à celebrar o Ano Novo literalmente sem nada...

Fotos: arquivo | Texto: Maxim Mirovich

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