A famosa frase do
Estaline “O filho não é responsável pelo pai” era diariamente desmentida pelo
dia-a-dia do regime soviético. Mas talvez o caso do Yuri Shukhevych, filho do
comandante supremo do Exército Insurgente Ucraniano (UPA), general Roman Shukhevych foi o
mais emblemático.
por: Dmitri Gordon,
“Bulevar do Gordon”
Aos 15 anos Yuri foi
condenado aos 10 anos de campos de concentração, oficialmente pelos contatos
com a resistência ucraniana. Na realidade, pelo facto de ser filho do Roman
Shukhevych, embora a lei soviética proibia o envio dos menores aos campos de
concentração.
Aqueles que compreendem
a situação ucraniana entendem que ficando entre os dois enormes maldades (comunismo
e nazismo), o líder político e militar ucraniano, Roman Shukhevych, tentou
escolher o mal menor, compreendendo que em ambos os casos a sua escolha seria
má.
Ao longo dos anos NKVD
metodicamente exterminava a sua família: prenderam pai, irmão, irmã, esposa,
filho, retiraram a filha, que cresceu sem saber quem é ela. Não é de estranhar
que durante o cerco final general Shukhevych suicidou-se, não querendo passar pelos
maus tratos nas casamatas e campos de concentração dos criadores das “amanhas socialistas cantantes”.
Dos seus 79 anos, Yuri
Shukhevych passou 31 anos nas cadeias e campos de concentração, apenas 4 anos entre as penas viveu em liberdade no Cáucaso, sem o direito de voltar a Ucrânia. Durante 5
anos, tendo a saúde fraca e já cego, foi detido contra a sua vontade na Casa
dos Inválidos no interior da Rússia. Apenas após a compra da casa em Lviv, pela
sua mãe, ela própria ex-prisioneira política, o regime soviético deixou Yuri
Shukhevych voltar à pátria. Um dos seus filhos, que
foi criado pela primeira esposa, tornou-se pequeno empresário já após o início
da Perestroica e foi assassinado pelo crime organizado.
Yuri e Maria Shukhevych |
Depois da prisão da mãe,
Natália Shukhevych (apelido de solteira Berezynska), Yuri e Maria foram
colocados no orfanato, primeiro na cidade de Chornobyl, depois em Stalino (hoje
Donetsk). No verão de 1947 Yuri fugiu, conseguiu achar o pai, voltou para
Stalino para libertar a irmã, mas foi reconhecido e preso.
Yuri Shukhevych conta
que pai percebia que mais tarde ou mais cedo iria morrer. Num dos últimos
encontros, no fim de 1947 ele disse ao filho: “Yurko, nesta luta nos iremos
morrer, mas se morrerão (os jovens) como você, quem irá levantar este povo?”
Uma outra frase do pai que ficou na memória foi essa: “Yurko, entendes, estamos
lutar não pela vingança, mas para que este regime anti-humano nunca mais puder
existir”.
Família Shukhevych
O avô do Roman
Shukhevych era etnógrafo, autor do trabalho fundamental “Hutsulia”: uma
coletânea de contos mágicos, provérbios, cerimónias tradicionais. O pai,
Iosyp-Zenon era juiz civil, tocava violino. O próprio Roman Shukhevych terminou
a Politécnica de Lviv (faculdade de construção de pontes), Instituto Superior
de Música na classe de piano, gostava as obras do Edvard Grieg, cantava (era um
tenor), fazia natação e equitação.
Famílias como esta
componham a elite intelectual da Galiza ucraniana. Muitos foram exterminados
pelos comunistas em 1940-41, outros emigraram no fim da II G.M., os que ficaram
eram metodicamente assassinados após a guerra.
A esposa do Roman
Shukhevych e mão do Yuri, Natália foi presa pelo MGB em 17 de julho de 1945 e
condenada à 10 anos de colónia penal com confiscação de bens.
Justos entre as Nações
A família dos Shukhevych
escondia a menina judia Irina Reichenberg arriscando a sua própria vida (nestes
casos os nazis fuzilavam toda a família dos que davam o abrigo aos judeus).
Eugénia-Emília Shukhevych, mãe do Roman Shukhevych e a sua esposa Natália
conheciam o pai da Irina. Natália, uma cristã grego-católica ucraniana
concordou em esconder a menina. Foram preparados os documentos falsos em nome
da Irina Ryzhko, órfã, nascida em 1937 (um ano menos do que a verdadeira
Irina). Após o fim da II G.M., Irina Reichenberg terminou o politécnico,
casou-se e vivia em Kyiv até a sua morte em 2006.
Morte do Roman
Shukhevych
Na operação da captura
do Roman Shukhevych NKVD-MGB usou cerca de 700 operativos, que obtiveram a
ordem expressa de o capturar vivo. No dia 5 de março de 1950 NKVD cercou a sua
casa segura na aldeia de Bilogorsha, nos arredores de Lviv, Shukhevych tentou
romper cerco, consegui matar um major, mas foi gravemente ferido com rajada da espingarda automática. Para não cair nas mãos do inimigo preferiu se suicidar…
Yuri, que estava na
cadeia de Lviv foi levado para reconhecer o corpo do pai. Ajoelhou-se e beijou a sua mão. O local em que os bolcheviques sepultaram o corpo do Shukhevych é segredo até os dias de hoje. Nos
arredores de Lviv havia um local de construção civil, onde NKVD atirava os
corpos no cal viva, para fazer desaparecer o corpo completamente.
Calvário dos Shukhevych
O irmão do Roman
Shukhevych, Yuri, foi assassinado pelo NKVD em 1941, a irmã, estudante da
medicina, foi presa em 1940 e condenada à 10 anos de campos de concentração e
exílio no Cazaquistão. A mãe, Eugénia-Emília Shukhevych foi presa em 1945 e
também deportada à Cazaquistão. O pai Iosyp-Zenon Shukhevych tinha uma perna
partida quando detido, morreu deportado.
Yuri passou 31 anos nas
cadeias e campos de concentração, teve mais 5 anos de exílio. Sua mãe Natália
cumpriu a prisão de 10 anos, foi novamente condenada apenas por viver em Lviv
sem registo, retornou e morreu em Lviv. Irmã Maria foi entregue ao orfanato:
sem saber quem ela é, sem saber o seu apelido ou quem são os seus pais. Ela foi
formada em construção civil na escola técnica de Dnipro(petrovsk), depois voltou
para Lviv. Na sua certidão de nascimento estava escrito que nasceu em Donetsk,
ano de nascimento foi falsificado. Atribuíram lhe o apelido Berezanska(ya),
inventando o pai, “Roman Berezanskiy”, deixando o nome paterno real Romanivna.
Sem colocar o nome da mãe…
História do Yuri
Tinha ele 15 anos
quando foi condenado à 10 anos pela ligação à clandestinidade da OUN-UPA, sem
sair da cadeia foi condenado à mais 10 anos pela “agitação e propaganda
antissoviética”. Viveu 4 anos em liberdade no Cáucaso (não tinha o direito de
voltar à Ucrânia), foi novamente condenado à 10 anos pela “agitação e
propaganda antissoviética”, cumprindo um ano e novamente sem sair da cadeia
recebeu mais 10 anos pela mesma acusação, cumprindo 11 no total. Como “reincidente extremamente perigoso” tinha que cumprir mais 5 anos de degredo.
Yuri conheceu as
diversas cadeias soviéticas, que chama de suas universidades. Passou pelos
espancamentos dos investigadores, os presos do delito comum chamavam à ele e
outros prisioneiros políticos de “fascistas”, mas tratavam bem, pediam para
escrever ora as contestações formais, ora queixas jurídicas.
Paradoxo, mas nas
cadeias Yuri Shukhevych lia os livros proibidos nas bibliotecas públicas da
URSS, Merezhkovsky, cartas do Gogol, ensaios do Dostoevski. Por volta
de 1981, no campo de concentração ele perdeu a visão, órgãos de “lei e ordem”
proibiram a segunda operação aos olhos, embora a visão poderia ser salva...
Fonte:
http://www.bulvar.com.ua/arch/2012/41/5075d5f3f3844
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