Durante a longa noite
do terror comunista que se abateu sobre Ucrânia, até os instrumentos musicais
eram temidos pelas autoridades soviéticas pelo seu alegado “perigo
nacionalista”.
No fim de 1935 na Ópera
de Kharkiv (a capital da Ucrânia Soviética até 1934), decorreu o Congresso dos
Cantores Populares da Ucrânia Soviética. O Congresso pretendia engajar os
cantores populares na “construção socialista” segundo as novas prioridades
ideológicas do regime. Após votar as resoluções propostas, os cantores, muitos
deles eram invisuais, foram colocados no comboio e trazidos aos arredores da
aldeia Kozacha Lopan, onde tinham sido fuzilados pela unidade especial do NKVD.
As suas kobzas e banduras foram queimadas.
Ainda em 1933, o
Plenário do Comité da Sociedade dos Trabalhadores da Arte de Toda a Ucrânia, declarou
a kobza e bandura como “instrumentos
inimigas da classe”. O autor da sentença, Andriy Khvylia (nascido como Andrey
Olinter, fuzilado em 1938), disse que estes instrumentos orientam a “frente
musical” aos “tempos dos hetmanes” e “romantismo cossaco”. E o regime não queria
permitir essa liberdade.
Nos primeiros anos
pós-ocupação bolchevique, o poder soviético matava os cantores populares
ucranianos de maneira extrajudicial. Mais tarde, a tática foi mudada e o poder
estatal institucionalizou quatro decretos: “Sobre a proibição de mendicidade”,
“Sobre registo obrigatório dos instrumentos musicais nas unidades da milícia e
do NKVD”, “Sobre aprovação do repertório nos departamentos do Comissariado
Popular da Educação”, “Regulamento sobre atividade musical e da performance
individual e coletiva”. Os bardos já não eram assassinados arbitrariamente, mas
presos e os seus instrumentos destruídos.
Os títulos da imprensa
soviética diziam: “Controlar os tocadores da kobza de maneira mais vigilante”,
“Kobza é uma charrua musical”, “Sanfona-milagreira se torna e se tornou um
verdadeiro meio de educação das massas”. Os artigos alertavam contra o perigo
dos “velhos restos nacionalistas” trazido pelos banduristas e exortavam a usar
os meios decisivos para acabar como “nacionalismo dos kobzares”.
O escritor Yuri
Smolych, “motivado” pelo regime escrevia: “Kobza representa um certo perigo,
pois é ligada fortemente aos elementos nacionalistas da cultura ucraniana, ao romantismo
cossaca e à Sich de Zaprorizhia. Este passado os kobzares certamente tentavam a
reanimar”.
O regime colonial comunista
usava a tática de extermínio dos representantes da memória nacional, dos que
exortavam a luta de libertação nacional, os heróis da resistência ucraniana. Os
banduristas preservavam o sentimento da determinação nacional, lembrando aos ucranianos
as raízes da sua identidade nacional, preservavam as riquezas da herança
cultural da Ucrânia.
Existem testemunhos,
indicando que os arquivos do NKVD de Kharkiv relativos a este caso foram
queimados em 1941 e mais tarde em 1960. O número exato dos banduristas e
kobzares exterminados não é conhecido, na literatura histórica aparecem os
números entre 200 e 1234 pessoas. Sabe-se que só na província de Kyiv, no
início do século XX viviam cerca de 240 destes bardos, até 1941 já não sobrava nenhum.
Existiam os escritores
ucranianos que tentavam defender os banduristas, casos do Pavló Tychyna e
Maksym Rylskiy. Também havia a tentativa dos comissariados de educação e do
NKVD a obrigar os banduristas tocar as canções e poemas que exortariam a
atualidade soviética e realismo socialista.
O assassinato dos
banduristas é mencionado no livro do Robert Conquest “Harvest
of Sorrow”: “os bardos recordavam permanentemente aos camponeses o seu
livre e glorioso passado. Os bandurristas foram chamados para o Congresso,
reunidos juntos e presos. Pelas notícias existentes muitos deles foram fuzilados,
havia lógica nisso, pois iriam servir pouco nos campos de trabalhos forçados”.
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