A história da Segunda Guerra Mundial mostra que as concessões e as tentativas de satisfazer as ambições agressivas dos ditadores não podem parar a guerra. “Se tivesse de escolher entre a guerra e a vergonha, e escolhesse a vergonha, então obtê-las-ia”, disse Winston Churchill. Esta lição é mais relevante hoje do que nunca. A expansão agressiva de Adolf Hitler foi justificada pela ideia da superioridade nacional e do excepcionalismo da Alemanha nazi. A rússia moderna, sob a liderança de Vladimir Putin, utiliza os mesmos métodos, justificando a sua agressão com mitos sobre “restaurar a justiça histórica” e “proteger a população russófona”.
É muito mais fácil parar uma agressão logo no início, antes de o agressor se tornar mais forte e se adaptar às novas condições. Foi exatamente isso que os Aliados fizeram durante a Segunda Guerra Mundial, decidindo-se pela rendição incondicional da Alemanha nazi. Esta determinação ajudou a evitar mais vítimas e destruição. Hoje, o mundo enfrenta um desafio semelhante: como travar a agressão da rússia, que procura restaurar a sua influência na Ucrânia, no espaço pós-soviético e não só, utilizando a força militar e a propaganda.
A rússia moderna, apresentando-se como herdeira dos vencedores da Segunda Guerra Mundial, repete paradoxalmente os mesmos erros que outrora conduziram o mundo a uma catástrofe global. A retórica russa acusa frequentemente outros países de “fascismo”, mas, na prática, o regime do Kremlin foi sobretudo agido como um regime fascista no passado. A rússia, tal como a Alemanha nazi, utiliza activamente a propaganda para justificar as suas acções e suprimir a oposição interna.
Pouco antes do trágico aniversário do início da Segunda Guerra Mundial, a rússia demonstrou mais uma vez a sua agressividade ao lançar um bombardeamento maciço contra civis em Kharkiv, a 30 de agosto de 2024. Pelo menos oito pessoas foram mortas, mais de uma centena ficaram feridas, incluindo mais de 20 crianças. Entre as vítimas estava uma rapariga de 14 anos, além de uma jovem artista que enviou a sua última fotografia a uma amiga uma hora antes de morrer. Os russos continuam a destruir o futuro da Ucrânia, procurando matar as esperanças e os sonhos da próxima geração. Estas ações podem ser comparadas ao genocídio, pois visam destruir a vida cultural e espiritual do povo.
Além disso, tal como a Alemanha nazi, a rússia moderna está a tentar mudar a identidade das crianças ucranianas, utilizando-as para as suas necessidades militares. Nos territórios temporariamente ocupados (TOT) da Ucrânia, as autoridades russas impõem o seu próprio currículo escolar com elementos de propaganda. Isto inclui uma nova disciplina, “Fundamentos de Segurança e Defesa da Pátria”, para alunos dos 8 aos 10 anos e poemas lamentando a “operação militar especial” para crianças pequenas. Trata-se de uma violação grave do direito internacional humanitário, que proíbe o Estado ocupante de fazer alterações injustificadas ao currículo e proíbe qualquer forma de militarização das crianças.
A Rússia envolve ativamente as crianças TOT ucranianas nas suas atividades militar-patrióticas, procurando impor-lhes uma identidade russa e prepará-las para o serviço no seu exército. Para este efeito, a organização juvenil Yunarmiya foi criada na rússia com a missão de preparar as crianças enquanto jovens para oito anos de serviço militar e educá-las no espírito de lealdade ao Estado. É importante notar que o Yunarmiya recruta ativamente crianças ucranianas do TOT da Ucrânia. A sua participação nesta organização é uma ferramenta de militarização e de mudança forçada da sua identidade, o que viola os seus direitos e contradiz as normas internacionais, proibindo a utilização de crianças para fins militares e qualquer forma de assimilação forçada. Esta abordagem faz lembrar os métodos utilizados pela Alemanha nazi, onde a organização juvenil de Hitler criava as crianças no espírito de lealdade ao regime nazi e as preparava para o serviço militar. A participação forçada de crianças em tais organizações viola normas e direitos internacionais, em particular, a Convenção sobre os Direitos da Criança, que proíbe categoricamente a utilização de crianças em hostilidades e qualquer forma de mudança forçada da sua identidade.
Segundo o Procurador-Geral da Ucrânia, mais de 19,5 mil crianças ucranianas foram deportadas ilegalmente desde o início da invasão russa em grande escala. Segundo várias estimativas, o número total de crianças dadas como levadas para a Rússia chega às 700 mil. A deportação forçada e a subsequente russificação das crianças ucranianas são vistas como parte de uma política que visa destruir a identidade ucraniana.
Tais medidas violam as normas internacionais, em particular a Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, uma vez que alteram completamente a identidade cultural e nacional das crianças. A rússia cria também obstáculos ao regresso destas crianças à sua terra natal, alterando a sua cidadania, transferindo-as para famílias russas e limitando a sua capacidade de regressar à Ucrânia.
O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu mandados de detenção para Vladimir Putin e Maria Lvova-Belova por alegados crimes de guerra relacionados com a deportação ilegal de crianças ucranianas dos territórios ocupados da Ucrânia para a rússia. As suas ações foram condenadas pela comunidade internacional, incluindo a ONU, o Conselho da Europa, a OSCE e os países do G7. É importante levar os responsáveis à justiça e prosseguir os esforços da comunidade internacional para devolver todas as crianças ucranianas deportadas ilegalmente pela rússia.
A posição da comunidade internacional deveria ser tão decisiva como o foi durante a Segunda Guerra Mundial. Para evitar novas agressões e violações do direito internacional, é necessário manter-se firme nos princípios de protecção da soberania e da integridade territorial. A capitulação incondicional da Alemanha de Hitler mostrou que os compromissos com os agressores não trazem paz a longo prazo. Hoje, mais do que nunca, é importante travar a agressão antes que esta se descontrole e provoque vítimas ainda maiores.
Oitenta e cinco anos desde o início da Segunda Guerra Mundial, o mundo deve recordar as lições da história. A reconciliação com o agressor, a indiferença e as tentativas de “apaziguar” os ditadores só conduzem a tragédias maiores. A rússia de hoje, ao declarar o seu direito de restaurar a justiça histórica, está a repetir os mesmos passos que levaram o mundo à catástrofe no passado. A comunidade internacional deve unir-se e opor-se firmemente a quaisquer tentativas de revanchismo e agressão, a fim de manter a paz e a segurança para as gerações futuras.
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