Em setembro de 2019, o Departamento das Finanças dos EUA estendeu a sua lista de sanções contra os cidadãos e empresas que interferiram nas eleições americanas de 2016. Eram dois cidadãos russos, três empresas registadas nas Ilhas Seicheles e na República Checa e até um iate.
Os cidadãos, Denis Kuzmin e Igor Nesterov, as três empresas: AutolexTransport,
BeratexGroup e LinburgIndustries (com os
respetivos aviões) e o iate St. VitaminPleasureCraft são, de alguma forma, afiliados ao empresário russo Yevgeny Prigozhin,
conhecido
como «cozinheiro do Putin».
De momento,
Kremlin confia ao Prigozhin as missões delicadas da política externa russa,
executadas em segredo e que usam elementos económicos,
políticos e militares, para influenciar as lideranças e elites
dos países terceiros.
Prigozhin é considerado como o dono da «fábrica dos trolls»
em São Petersburgo,
entidade
que usa as redes sociais e outros meios modernos de comunicação para influenciar a opinião pública estrangeira em
diversos pontos do globo.
A parte paramilitar da operações russas coordenadas pelo Prigozhin é efetuada pelas EMP russas,
a mais conhecida das quais
é o «Grupo Vagner»,
avistada no Leste da Ucrânia, na Síria, na República Centro-Africana
e alguns outros países africanos.
Em agosto de 2019, o canal russo «Currenttime.tv»
divulgou a sua investigação, em que apurou que os aviões Hawker
125-800B e Hawker
800XP (último com número M-VITO), que foram abrangidos pelas recentes sanções americanas são usados pelo
Priogozhin e pertencem à empresa LinburgIndustries.
Pelos dados do centro russo de investigação Dossier Center, as estruturas próximas do Prigozhin funcionam atualmente em cerca de 13
países
africanos. Essas estuturas empregam
os consultores, analistas, especialista políticos e das operações secretas com
intuito de expandir a influência política e económica russa em África.
Os seus maiores éxitos foram registados na RCA,
Sudão e Madagáscar. A liderança desses países demonstra lealdade à Rússia,
permitindo que lobistas de empresas públicas e privadas russas tenham acesso aos seus recursos naturais e aos mercados
internos.
Potencialmente,
a
Rússia também
pode
estar interessada nos mercados de armas. Afinal, o continente africano é abundante em
conflitos e violência.
Na África, os russos precisam, em primeiro
lugar, o
acesso aos centros de poder. Na maioria das vezes a liderança política concentra em
suas mãos os principais recursos do país, facilitando a questão da obtenção de
licenças de
mineração, compra de armamento
e
outras despesas significativas, provenientes do orçamento do estado. Portanto, os
esforços de consultores e tecnólogos russos se concentram, principalmente, em campanhas eleitorais
e outras formas de luta pelo poder.
Na RCA, o pessoal do Prigozhin foi se engajando
no
apetrechamento
das
forças armadas e da burocracia estatal, na luta contra os oponentes das
autoridades, conseguindo o afastamento
do ministro dos Negócios Estrangeiros
/ das
Relações Exteriores
(visto por eles como pró-França), estando na origem do lançamento
de uma estação de rádio e de dois jornais.
As ações semelhantes foram desenvolvidos no Madagáscar, onde pessoal russo chegando à oferecer
os seus serviços aos futuro presidente Andry Rajoelina, embora este já era
apoiado pelos EUA e pela China.
No Sudão, eles ajudavam na criação e disseminação dos fake news: os opositores do regime eram chamados de
«anti-islámicos», «pró-Israel»
e
até mesmo «pró-LGBT».
Em fevereiro de 2019, em Senegal, o presidente Macky Sall acusou a embaixada russa no país em financiamento do líder de oposição, Ousmane Sonko.
Sall ganhou as eleições e Sonko ficou em 3º
lugar.
Em cada caso concreto, a maneira de
obtenção
do
controlo sobre a
liderança política de
um
país africano
é
diferente. Mas o objetivo é sempre o mesmo, beneficiar a Rússia. Esse benefício
pode ser político (por exemplo, voto útil nas sessões da
Assembleia Geral da ONU), geopolítico (rivalidade com os EUA e com a China), mas na maioria
das vezes é um ganho
puramente
materialista – a extração de ouro,
minerais, compra de matérias-primas aos preços baixos, venda de armamento obsoleto,
participação em projetos financiados pelos governos nos campos da energia, transportes,
comunicações, etc.
Para a Rússia, é mais fácil conseguir os
seus interesses políticos
e económicos nos
países africanos
governados pelos regimes
autoritários corruptos, onde existem
conflitos armados
reais
ou potenciais, onde
o acesso
dos
investidores estrangeiros é limitado e os preços de energia, matérias-primas e mão-de-obra local são
baixos.
Para
esse fim trabalham
os consultores
políticos e/ou instrutores policiais e militares, que chegam às capitais
africanas como parte da expansão da cooperação russo-africana.
Centenas de lobistas de interesses do
Kremlin trabalham em
vários países
africanos, e as estruturas de Prigozhin são apenas uma parte dos recursos russos dirigidos ao
fortalecimento de sua presença em África.
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