Nada podia prever a onda da violência verbal, ameaças selvagens, mar de insultos gratuitos e toda a espécie de “5 minutos de ódio” orwelianas, que começou desde o meio dia de 18 de Abril de 2007, nas média, fóruns e chats russos, a respeito da vitória polaco – ucraniana na corrida para organizar o Campeonato Europeu de futebol em 2012.
Embora os pretendentes mais fortes eram a Itália, Polónia & Ucrânia e Croácia & Hungria, lá, bem no início muito remoto deste processo, a Rússia também concorreu ao certame, mas a sua proposta foi chumbada pela UEFA. Agora, em vez de ficar feliz com o facto do Campeonato ficar tão pertinho às suas portas (para ver o final do Campeonato, que será disputado na capital ucraniana de Kyiv, um moscovita precisa de fazer uma baratíssima viagem de 12 horas de comboio ou gastar um pouquinho mais e chegar numa hora de avião), o vizinho mostra uma má vontade de perder e compreender o outro, que não há memória.
Primeiro, queríamos traduzir alguns exemplos de mensagens, que os torcedores russos, deixam nos sítios, chats e fóruns dedicados ao futebol e não só, mas depois achamos que não valia a pena. Primeiro, porque há tanta linguagem obscena, que não há palavrões suficientes em toda a língua portuguesa para traduzi-los todos. E depois, era sempre possível argumentar, que aquilo não representa o verdadeiro povo russo, que os da má língua são meia – dúzia de skins e chauvinistas sem rosto e que os ucranianos fazem muito mal em ofender-se com tão pouco. Por isso escolhemos o artigo do jornal “Komsomolskaya Pravda”, matutino que na época de Perestroica era um órgão democrático, lido diariamente por cerca de 10 milhões de pessoas. Mais tarde, “KP” quedou-se pelo sensacionalismo, com destaques de fotos das “gajas nuas”, “extraterrestres – canibais” e estórias escabrosas sobre os ricos e famosos. Mas mesmo assim, o jornal é lido por alguns milhões de pessoas na Rússia, na Europa e um pouco por todo o Mundo (existe, por exemplo edição em papel “KP” – Espanha”), quer na sua versão impressa, quer on-line. Quem é o leitor da “KP”? É um russo(a) da classe média – baixa / baixa, que vive no interior do país ou na emigração, zangado com a perda do estatuto imperial do seu país e que têm um ódio inimaginável e incalculável contra todos aqueles, que fogem dos braços gélidos do Big Brother. E infelizmente, não são poucos... Mas palavras para que, segue-se o texto, com a ortografia e nomes geográficos idênticos ao original, que pode ser visto aqui.
* “pequeno russo” é um, entre vários, termos pejorativos que os colonizadores russos empregam desde o século XVIII – XIX para designar os seus súbditos ucranianos, “pequenos”, “incultos” e claro está, “tacanhos”, irmãosinhos do Grande Irmão. Normalmente, quando uma pessoa do espírito colonialista que usa este termo é chamada à razão, essa pessoa argumenta que o termo é “histórico” e “perfeitamente normal”. Acho que qualquer africano em geral e moçambicano ou brasileiro em particular, notará aqui as semelhanças incríveis com o seu próprio passado colonial.
Kiev e Varsóvia foram permitidos jogar a bola
Ucrânia e Polónia receberam o direito de organizar o campeonato do Mundo Velho de futebol
O destino do Euro 2012 foi decidido ontem na cidade galesa de Kardiff durante a sessão do Comité Executivo da UEFA. Poucos acreditaram numa votação feliz para os “pequenos russos”, porque a Ucrânia tinha que lutar contra a proposta italiana e húngaro – croata.
Mas mal o presidente da UEFA, Michael Platini tirou do envelope a folha com os nomes escritos dos países – vencedores, como Oleh Blokhin – treinador principal da selecção ucraniana – já começou bater as palmas e rir-se. Adivinhou pelas letras maiúsculas – porque têm uma óptima visão.
Alem do Blokhin, apoiar a proposta polaco – ucraniana veio a estrela do futebol mundial, Andriy Shevchenko, campeão do mundo do boxe Vitaly Klichko e dois presidentes – Yushenko e Kaczyński.
Curioso, que ninguém dos representantes oficiais dos outros países – pretendentes veio ao País de Gales. De maneira não oficial, no secretariado do presidente, “KP” foi informada: Yushenko sabia tudo de antemão. Assim como o seu colega polaco.
Agora todos em Kiev dizem: “Falta sobreviver até ano 2012”.
Segundo os planos do Comité organizador da Polónia e Ucrânia, a abertura do EURO 2012 terá lugar em Varsóvia e a parte final do campeonato da Europa – na capital ucraniana. Os jogos serão disputados na Ucrânia nas cidades de Kyiv, Donetsk, Dnipropetrovsk, Lviv. E na Polónia em Varsóvia, Gdańsk, Poznań e Wrocław. O jogo do final terá lugar em Kyiv.
Na reserva ficam da parte ucraniana Kharkiv e Odessa, e do lado polaco – Cracóvia e Chorzów. Eles só terão sorte no caso, se a UEFA mudar o regulamento das competições e em vez de 16 equipas, no final participarão as selecções de 24 países.
Se olharmos para as cidades, onde terão lugar os jogos, o problema principal para os torcedores, pode-se afirmar, será a distância entre eles. Por exemplo, do Donetsk até Varsóvia há mais de 1500 km. Se ir de carro, então essa distância automaticamente se transformará numa viagem de dois dias.
Ucrânia terá que “quase nada” – construir 16 hotéis de cinco estrelas, 5 estádios e conduzir o certame ao mais alto nível.
Andrey GACENKO, Pavel DINEC (“KP” – Kiev”)
OLHAR DO 6-TO ANDAR (uma espécie do comentário, presume-se que é da responsabilidade do corpo editorial do jornal)
Isso é uma operação de cozer “russos” e “ocidentalizados”
Grande desporto já há muito se transformou no instrumento da grande política. Aqui os campeões dos países indesejáveis podem ser privados das suas medalhas ou ver anulados os seus feitios com ajuda do controlo anti – doping. E ainda pode-se liquidar a fronteira entre a Polónia e a Ucrânia durante o campeonato de futebol da Europa. Assim os politicões do desporto mandaram um sinal inequívoco à parte “laranja” da independiente (eufemismo russo para designar a Ucrânia): “Rapaziada! Europa está convosco, e não com os “moscovitas!”
Os da “laranja”, parece, que levantaram o animo. Porque o sinal da Europa chegou a tempo: na Ucrânia, junto ao Tribunal constitucional passava-se a batalha entre cidadãos e a polícia de intervenção rápida “Berkut”, e a cadeira presidencial debaixo do Yushenko abanava e rangia.
Polónia, o fiel cão da guarda dos EUA e da União Europeia, está pronta para rasgar e despedaçar todos, quem tem uma simpatia qualquer para com a Rússia ou respeita os seus interesses, também da UEFA recebeu um osso rijo. Polónia já muito tempo olha para os bocados ocidentais da Ucrânia. E nos anos 20 do século passado até não tive o nojo de os ocupar, do que não gosta de falar, e se alguém lhe lembre, logo se encobre com a Katyn como um escudo. (Katyń é um local na Rússia, onde em 1939 o regime soviético ordenou o fuzilamento de cerca de 30.000 oficiais e soldados polacos, prisioneiros da guerra, que caíram nas mãos da URSS, em consequência da invasão da Polónia pela URSS comunista e Alemanha nazi, acontecimento previamente definido na cláusula secreta do Pacto de Amizade alemão – soviético, conhecido também como o Pacto Ribbentrop - Molotov). Agora, se a Polónia habitualmente será apanhada nas negociatas feias, tipo a preparação dos oposicionistas “profissionais” para os países alheios, ela oportunamente se encobrirá com a bola de futebol. Tipo, preparamos o campeonato, trocas culturais e a ponte humanitária da amizade.
Mas isso tudo são detalhes, principal – são os horários dos jogos. Não é o segredo, que cada mês vivido na situação empatada da crise “laranja – azul”, que continua desde o próprio maydan de 2004 (alusão à Revolução Laranja), mais e mais aprofunda a divisão da Ucrânia entre “russa” e “ocidentalizada”. O final do campeonato deve colá-los juntos de alguma maneira, logicamente, sobre a sábia direcção ocidental. Por isso a bola será chutada nas cidades geopoliticamente importantes: em Donetsk “moscovita”, e em Lviv “dos banderas” (alusão aos admiradores e seguidores do Stepan_Bandera, líder da Organização dos Nacionalistas Ucranianos, assassinado pelo agente de KGB em 15 de Outubro de 1959 na cidade alemã de Munique).
Será que estas cidades têm os estádios normais? Conseguem eles receber milhares dos torcedores? Politicões da UEFA estão pouco preocupados com estas questões. Parece que os aliados ocidentais dos “laranjistas” tinham esgotado os obuses da artilharia diplomática pesada e as suas canhões eles agora carregam com as bolas de futebol.
Dmitriy STESHIN
Primeiro, queríamos traduzir alguns exemplos de mensagens, que os torcedores russos, deixam nos sítios, chats e fóruns dedicados ao futebol e não só, mas depois achamos que não valia a pena. Primeiro, porque há tanta linguagem obscena, que não há palavrões suficientes em toda a língua portuguesa para traduzi-los todos. E depois, era sempre possível argumentar, que aquilo não representa o verdadeiro povo russo, que os da má língua são meia – dúzia de skins e chauvinistas sem rosto e que os ucranianos fazem muito mal em ofender-se com tão pouco. Por isso escolhemos o artigo do jornal “Komsomolskaya Pravda”, matutino que na época de Perestroica era um órgão democrático, lido diariamente por cerca de 10 milhões de pessoas. Mais tarde, “KP” quedou-se pelo sensacionalismo, com destaques de fotos das “gajas nuas”, “extraterrestres – canibais” e estórias escabrosas sobre os ricos e famosos. Mas mesmo assim, o jornal é lido por alguns milhões de pessoas na Rússia, na Europa e um pouco por todo o Mundo (existe, por exemplo edição em papel “KP” – Espanha”), quer na sua versão impressa, quer on-line. Quem é o leitor da “KP”? É um russo(a) da classe média – baixa / baixa, que vive no interior do país ou na emigração, zangado com a perda do estatuto imperial do seu país e que têm um ódio inimaginável e incalculável contra todos aqueles, que fogem dos braços gélidos do Big Brother. E infelizmente, não são poucos... Mas palavras para que, segue-se o texto, com a ortografia e nomes geográficos idênticos ao original, que pode ser visto aqui.
* “pequeno russo” é um, entre vários, termos pejorativos que os colonizadores russos empregam desde o século XVIII – XIX para designar os seus súbditos ucranianos, “pequenos”, “incultos” e claro está, “tacanhos”, irmãosinhos do Grande Irmão. Normalmente, quando uma pessoa do espírito colonialista que usa este termo é chamada à razão, essa pessoa argumenta que o termo é “histórico” e “perfeitamente normal”. Acho que qualquer africano em geral e moçambicano ou brasileiro em particular, notará aqui as semelhanças incríveis com o seu próprio passado colonial.
Kiev e Varsóvia foram permitidos jogar a bola
Ucrânia e Polónia receberam o direito de organizar o campeonato do Mundo Velho de futebol
O destino do Euro 2012 foi decidido ontem na cidade galesa de Kardiff durante a sessão do Comité Executivo da UEFA. Poucos acreditaram numa votação feliz para os “pequenos russos”, porque a Ucrânia tinha que lutar contra a proposta italiana e húngaro – croata.
Mas mal o presidente da UEFA, Michael Platini tirou do envelope a folha com os nomes escritos dos países – vencedores, como Oleh Blokhin – treinador principal da selecção ucraniana – já começou bater as palmas e rir-se. Adivinhou pelas letras maiúsculas – porque têm uma óptima visão.
Alem do Blokhin, apoiar a proposta polaco – ucraniana veio a estrela do futebol mundial, Andriy Shevchenko, campeão do mundo do boxe Vitaly Klichko e dois presidentes – Yushenko e Kaczyński.
Curioso, que ninguém dos representantes oficiais dos outros países – pretendentes veio ao País de Gales. De maneira não oficial, no secretariado do presidente, “KP” foi informada: Yushenko sabia tudo de antemão. Assim como o seu colega polaco.
Agora todos em Kiev dizem: “Falta sobreviver até ano 2012”.
Segundo os planos do Comité organizador da Polónia e Ucrânia, a abertura do EURO 2012 terá lugar em Varsóvia e a parte final do campeonato da Europa – na capital ucraniana. Os jogos serão disputados na Ucrânia nas cidades de Kyiv, Donetsk, Dnipropetrovsk, Lviv. E na Polónia em Varsóvia, Gdańsk, Poznań e Wrocław. O jogo do final terá lugar em Kyiv.
Na reserva ficam da parte ucraniana Kharkiv e Odessa, e do lado polaco – Cracóvia e Chorzów. Eles só terão sorte no caso, se a UEFA mudar o regulamento das competições e em vez de 16 equipas, no final participarão as selecções de 24 países.
Se olharmos para as cidades, onde terão lugar os jogos, o problema principal para os torcedores, pode-se afirmar, será a distância entre eles. Por exemplo, do Donetsk até Varsóvia há mais de 1500 km. Se ir de carro, então essa distância automaticamente se transformará numa viagem de dois dias.
Ucrânia terá que “quase nada” – construir 16 hotéis de cinco estrelas, 5 estádios e conduzir o certame ao mais alto nível.
Andrey GACENKO, Pavel DINEC (“KP” – Kiev”)
OLHAR DO 6-TO ANDAR (uma espécie do comentário, presume-se que é da responsabilidade do corpo editorial do jornal)
Isso é uma operação de cozer “russos” e “ocidentalizados”
Grande desporto já há muito se transformou no instrumento da grande política. Aqui os campeões dos países indesejáveis podem ser privados das suas medalhas ou ver anulados os seus feitios com ajuda do controlo anti – doping. E ainda pode-se liquidar a fronteira entre a Polónia e a Ucrânia durante o campeonato de futebol da Europa. Assim os politicões do desporto mandaram um sinal inequívoco à parte “laranja” da independiente (eufemismo russo para designar a Ucrânia): “Rapaziada! Europa está convosco, e não com os “moscovitas!”
Os da “laranja”, parece, que levantaram o animo. Porque o sinal da Europa chegou a tempo: na Ucrânia, junto ao Tribunal constitucional passava-se a batalha entre cidadãos e a polícia de intervenção rápida “Berkut”, e a cadeira presidencial debaixo do Yushenko abanava e rangia.
Polónia, o fiel cão da guarda dos EUA e da União Europeia, está pronta para rasgar e despedaçar todos, quem tem uma simpatia qualquer para com a Rússia ou respeita os seus interesses, também da UEFA recebeu um osso rijo. Polónia já muito tempo olha para os bocados ocidentais da Ucrânia. E nos anos 20 do século passado até não tive o nojo de os ocupar, do que não gosta de falar, e se alguém lhe lembre, logo se encobre com a Katyn como um escudo. (Katyń é um local na Rússia, onde em 1939 o regime soviético ordenou o fuzilamento de cerca de 30.000 oficiais e soldados polacos, prisioneiros da guerra, que caíram nas mãos da URSS, em consequência da invasão da Polónia pela URSS comunista e Alemanha nazi, acontecimento previamente definido na cláusula secreta do Pacto de Amizade alemão – soviético, conhecido também como o Pacto Ribbentrop - Molotov). Agora, se a Polónia habitualmente será apanhada nas negociatas feias, tipo a preparação dos oposicionistas “profissionais” para os países alheios, ela oportunamente se encobrirá com a bola de futebol. Tipo, preparamos o campeonato, trocas culturais e a ponte humanitária da amizade.
Mas isso tudo são detalhes, principal – são os horários dos jogos. Não é o segredo, que cada mês vivido na situação empatada da crise “laranja – azul”, que continua desde o próprio maydan de 2004 (alusão à Revolução Laranja), mais e mais aprofunda a divisão da Ucrânia entre “russa” e “ocidentalizada”. O final do campeonato deve colá-los juntos de alguma maneira, logicamente, sobre a sábia direcção ocidental. Por isso a bola será chutada nas cidades geopoliticamente importantes: em Donetsk “moscovita”, e em Lviv “dos banderas” (alusão aos admiradores e seguidores do Stepan_Bandera, líder da Organização dos Nacionalistas Ucranianos, assassinado pelo agente de KGB em 15 de Outubro de 1959 na cidade alemã de Munique).
Será que estas cidades têm os estádios normais? Conseguem eles receber milhares dos torcedores? Politicões da UEFA estão pouco preocupados com estas questões. Parece que os aliados ocidentais dos “laranjistas” tinham esgotado os obuses da artilharia diplomática pesada e as suas canhões eles agora carregam com as bolas de futebol.
Dmitriy STESHIN
P.S. Grande obrigado ao Sr. Gilberto Madail (Portugal), que votou pela Polónia & Ucrânia, junto com Michael Platini (França), Vyacheslav Koloskov (Rússia), Senes Erzik (Turquia), Per – Ravno Omdal (Noruega), Marios Lefkaritis (Chipre), Joseph Mifsud (Malta) e Mirchea Sandu (Roménia).
1 comentário:
Não era de esperar outra coisa da rússia a não ser inveja e ciúmes pela conquista polaco ucraniana.
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