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Cartaz com o slogan: "Pela vossa e nossa liberdade" |
No dia 25 de
agosto de 1968, oito dissidentes soviéticos se manifestaram pacificamente na Praça
Vermelha em Moscovo contra a invasão de Checoslováquia pela URSS e
pelo Pacto de Varsóvia, ocorrida na noite de 20 à 21 de agosto de 1968. Todos eles pagaram bastante caro pela sua posição cívica pública...
Os dissidentes simplesmente sentaram-se no local, chamado Lobnoye Mesto (literalmente Local da Testa), para evitar ao máximo acusação de
violação de ordem pública. Oito ativistas: Larisa Bogoraz, Konstantin Babitsky,
Vadim Delaunay, Vladimir Dremliuga, Pavel Litvinov, Natalya Gorbanevskaya,
Viktor Fainberg e Tatiana Baeva seguravam a bandeira de Checoslováquia e
cartazes com diversos slogans:
“Nos perdemos melhores
amigos”; “Ať žije svobodné a nezávislé Československo!” (Longa vida a Checoslováquia
livre e independente), “Vergonha aos ocupantes!”; “Mãos fora da ČSSR!”; “Pela
vossa e nossa liberdade”; “Liberdade ao Dubchek!”
A manifestação durou
apenas alguns minutos, os ativistas foram espancados e detidos pelos agentes do
KGB, a bandeira checoslovaca foi rasgada e os cartazes confiscados. Os
dissidentes convenceram a jovem estudante Tatiana Baeva (1947), de dizer que estava no local por acaso
e assim ela foi liberada (mesmo assim expulsa da Instituto de Arquivos Históricos sem direito de recuperação da matrícula; emigrou aos EUA em 1992). Os cartazes foram considerados
pelo KGB como anti-soviéticos.
Em resultado do
processo criminal os ativistas foram condenados aos diversos termos de prisão e degredo, cadeia, campos de concentração e tratamento compulsivo em hospitais
psiquiátricos:
Konstantin Babickiy (15/05/1929
— 14/09/1993) — linguista, tradutor, foi condenado aos 3 anos de deportação pela “difamação do sistema
soviético” e “atividades de grupo que violam a ordem pública de forma aguda”. Após sua libertação não foi lhe permitido o regresso à linguística, trabalhou como carpinteiro, fazia traduções da poesia romena. Nunca emigrou.
Larisa Bogoraz (8/08/1929 — 6/04/2004)
— nascida na Ucrânia, linguista, professora de língua ucraniana, com doutoramento em linguística (1965), pela sua ação foi condenada à quatro anos de degredo na província russa de Irkutsk (1968—1971). Nunca emigrou.
Natalya Gorbanevskaya (26/05/1936 — 29.11.2013)
– poetisa, tradutora, dissidente, por ser mãe recentemente foi presa apenas em dezembro de 1969, em abril de
1970 foi lhe diagnosticada a “esquizofrenia atónita (sem apontar nenhum sinal
da suposta doença), durante 2 anos e dois meses foi submetida ao tratamento
compulsório em um hospital psiquiátrico do tipo prisional. A cantora Joan Baez dedicou
lhe uma canção chamada “Natalia”, do álbum “From Every Stage” (1976). Em dezembro de 1975 migrou para França, desde 2005 vivia na Polónia, obtendo a nacionalidade polaca/polonesa.
Vadim Delaunay (22/12/1947 — 13/06/1983)
– foi condenado aos 2 anos e 10 meses de campos de concentração, acusação nos termos do artigo
190-1 da RSFSR (“Divulgação de invenções, à priori falsas, que difamam o sistema
estatal e social soviético”). Emigrante na França desde 1975, poeta e dissidente morreu aos 35 anos de idade.
Vladimir Dremliuga (
19/01/1940 — 26/05/2015)
– estudante de História, historiador, pela sua atividade política foi expulso da universidade, trabalhou como eletricista, pela sua ação em Moscovo se tornou prisioneiro político entre 1968—1974, desde 1974 foi obrigado à emigrar aos EUA (sob ameaça de ser novamente preso e condenado).
Pavel Litvinov (6/06/1940) – físico, neto do comissário do povo soviético dos Negócios Estrangeiros Litvinov, pela sua ação passou meio ano na cadeia, depois deportação à província russa de Chita, onde entre 1968 e 1972
trabalhou como eletricista nas minas de urânio, na emigração nos EUA desde 1974.
Viktor Fainberg (26/11/1931, de Kharkiv, Ucrânia – 2/01/2023) – crítico de arte, filólogo, compulsivamente internado no hospital psiquiátrico especial de Leninegrado entre
janeiro de 1969 à fevereiro de 1973. O famoso dramaturgo britânico Tom Stoppard
dedicou ao Viktor Fainberg a sua peça Every Boy Deserves Favour («Cada menino
merece o favor»). Desde 1974 é emigrante na França, juntamente com a sua esposa Marina Vaikhanska, a médica psiquiatra que ajudava aos dissidentes e que foi despedida do seu emprego por causa disso.
Informação do KGB ao CC
do PCUS sobre a manifestação (5.IX.1968):
http://psi.ece.jhu.edu/~kaplan/IRUSS/BUK/GBARC/pdfs/dis60/kgb68-5.pdf
2 comentários:
Muita coragem! Um pena que os atuais governos da República Tcheca e da Hungria esqueçam o passado e se aproximem cada vez mais de Moscou, claro que aí tem o dedo sujo do Kremlin influenciando nas eleiçoes desses países e, claro, a conivência do Ocidente, sobretudo os EUA do Sr. Obama que desde que assumiu a presidencia dos EUA entregou a Europa do Leste inteira a Rússia semelhante fez seu correligionário ao final da Segunda Guerra Mundial.
Por falar em Hungria eu estava vendo umas fotos das cidades de Chernivtsi e Uzhgorod. Duas cidades lindas, principalmente a primeira. Chernivtsi é uma cidade que, embora esteja em território ucraniano é habitada por romenos pois já pertenceu à Romênia. É muito linda, talvez até mais que Lviv. Bem européia, herança da época do Império Austro-Hungaro. Nao tao bonita quanto Chernivtsi é Ushgotod habitada por hungaros, tb tem seu charme. Pertenceu a Hungria e a Eslováquia.
Apenas para chamar a necessidade de confirmar os dados. Demografia de Uzhhorod (censo de 2001):
ucranianos (incluindo sub-etnia rusyn): 77.8%; húngaros: 6.9%
http://en.wikipedia.org/wiki/Uzhhorod
Demografia de Chernivtsi (censo de 2001):
ucranianos (79.8%), romenos (4.4%) moldovos (1.6%)
http://en.wikipedia.org/wiki/Chernivtsi
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