terça-feira, outubro 15, 2024

Pablo González: o espião russo do GRU desde 2010

O jornalista do The Guardian Shaun Walker descobriu, com ajuda do Christo Grozev, um dos principais investigadores do Bellingcat, as informações interessantes sobre Tatyana Dobrenko, madrasta russa do espião do GRU Pablo González (Pavel Rubtsov), que recentemente foi incluído na troca entre Ocidente e a rússia. 

Para começar, existem registos russos de duas Tatyana Dobrenkos diferentes, uma nascida em 1954 e outra em 1959, mas ambas ligadas ao mesmo número de segurança social. Ainda mais curiosos foram os seus endereços oficiais ao longo do tempo. Antes de chegar ao apartamento onde vivia o pai de González, ela estava registada no 76 Khoroshevskoye Shosse. Esta morada, no nordeste de Moscovo, alberga um bloco de apartamentos da era soviética que não tem nada de especial, exceto uma coisa: o enorme edifício mesmo ao lado, no 76B. O edifício é vulgarmente conhecido como «Aquário» e alberga a sede do GRU. Por si só não prova a filiação no GRU. «Mas vemos que é também o endereço de casa de outros funcionários conhecidos do GRU”, explica Grozev. Foi certamente uma coincidência surpreendente para alguém cujo enteado era agora acusado de ser oficial do GRU. Dobrenko recebeu um pedido para comentar, via Telegram, leu e bloqueou o jornalista sem responder. 

No ano passado, o meio de investigação russo exilado «Agentstvo» publicou uma história baseada numa base de dados de reservas de voos russos que foi divulgada. Uma das reservas parecia mostrar que, em junho de 2017, dois bilhetes de ida e volta de Moscovo para São Petersburgo tinham sido comprados numa única transação: um para Pablo González, utilizando o seu passaporte russo, e outro para um homem chamado Sergei Turbin. Há fortes indícios, segundo Agentstvo, de que Turbin é um oficial do GRU. Grozev concordou, referindo que a sua investigação mostra que Turbin trabalhava para o 5º Departamento do GRU, que lida com agentes ilegais. A Turbin não foi encontrado para comentar. 

No cerne do caso dos procuradores polacos está uma série de relatórios que González terá escrito ao longo de vários anos, aparentemente aos seus supervisores no GRU. “Estes eram relatórios típicos de inteligência sobre instalações, infraestruturas e pessoas com quem contactar”, explica Stanisław Żaryn, conselheiro de segurança nacional do Presidente da Polónia. Outra fonte disse que estes relatórios fazem frequentemente referência ao “Centro”, código de espionagem russo para a sede de inteligência. Acredita-se que alguns dos relatórios incluíram perguntas de acompanhamento, aparentemente de um responsável. Num de 2018, González terá escrito aos seus supervisores que tinha “destruído os dispositivos eletrónicos conforme ordenado”, despedaçando-os e atirando-os para o oceano. 

Um relatório continha alegadamente cópias de e-mails pessoais escritos pelo Boris Nemtsov, o pai assassinado de Zhanna Nemtsova. Nemtsova não tem permissão para falar sobre o caso, uma vez que está a cooperar com a investigação e assinou um acordo de sigilo, mas confirmou que possuía o antigo portátil pessoal de Boris Nemtsov, trazido de Moscovo pelo seu advogado. Ela recordou ainda que o emprestou a González numa ocasião, quando ele alegou que o seu próprio computador tinha avariado.

Espião russo desde quando?

Reportagem da Antena3 sugere que González estava na folha de pagamentos do GRU desde pelo menos 2010. Christo Grozev considera que Pablo foi recrutado ainda em 2004, quando solicitou o seu primeiro passaporte russo. Consistente com outros casos que investigámos, em que jovens de origem parcialmente russa foram recrutados pela rezidentura do GRU de Barcelona, disfarçados de funcionários consulares.

Espião do GRU desde 2010

A Antena 3 Noticias teve acesso a informações que confirmam que Pablo González estava a trabalhar para o GRU, o serviço militar de inteligência russo, durante cerca de 15 anos (no mínimo). Sabe-se disso porque existe um documento de 2017 em que Pablo pede um aumento de soldo. Naquele momento cobrava 3.100€ mensais, viagens a parte. Pablo/Pavel escreve: «recebo este valor desde 2010». Nesta mesma mensagem ele também pede um aumento, querendo receber 4.300€ mensais, o que justifica com a inflação elevada; pedindo que se reconhece a sua antiguidade, solicitando uma vivienda em Moscovo e uma pensão para quando se retirar do serviço.

A sua função: 'targeting'

De acordo com as fontes consultadas pela Antena 3 Noticias, Pablo González trabalha na Linha N do GRU. O departamento de serviço militar de inteligência russo onde se depara com chamados «agentes ilegais»: são aqueles que trabalham fora do seu país, mas não têm qualquer suporte legal por parte da sua embaixada. Neste caso usando a cobertura do jornalista, sem necessidade de obter uma identidade falsa. Hoje sabemos que Pablo González se dedicava ao chamado 'targeting': identificar e sinalizar personas e lugares «de interesse» que, mais tarde, se poderiam converter no objectivo do Kremlin.

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