terça-feira, outubro 22, 2013

URSS 1950: delinquentes e cidadãos contra a polícia

Após amnistia massificada de 1953, as ruas das cidades soviéticas testemunharam o incremento massificado de hooliganismo e delinquência. O jovem desocupado, dedicado às atividades criminosas era uma personagem urbana típica da União Soviética da década de 1950. Os números e a dimensão do problema eram de tal ordem, que em algumas regiões para conter a situação o poder usava as unidades militares do ministério do interior, a polícia de segurança pública (milícia do Ministério do Interior) era incapaz de reagir atempadamente.

Os sentimentos anti – delinquência cresciam na sociedade soviética ao lado dos sentimentos anti – milícia do Ministério do Interior. A milícia estava profundamente embebida em usos e costumes estalinistas, os seus agentes costumavam maltratar os detidos, usando as armas e recorrendo à tortura. Assim, só em 1955, 345 cidadãos soviéticos foram vítimas da brutalidade policial: 78 foram assassinados e 89 feridos.

Em agosto de 1953, na cidade de Kherson (sul da Ucrânia), um agente da polícia tentou deter o jovem de 13 anos que vendia a maçaroca no mercado municipal. Apesar do jovem provar que a maçaroca não era roubada, este foi espancado pelo polícia. As testemunhas defenderam o jovem e o levaram para hospital. Logo a seguir, um grupo de cerca de 500 pessoas (na sua maioria estudantes), desencadeou o comício popular que exigia a entrega do agente da polícia. Alguém lançou o rumor que jovem morreu no hospital, os cidadãos recusavam-se a acreditar quando lhes foi mostrado o jovem vivo com a sua mãe: “O rapaz é falsificado pela polícia”; “você foi vendida”, gritavam os populares. O comício durou o dia inteiro até a prisão do agente. Na sequência, as diversas esquadras de polícia de Kherson foram apedrejadas pelos populares.

Em janeiro de 1956 na cidade de Novorosiysk (sul da Rússia) a patrulha da polícia tentou deter um grupo de delinquentes. Vários cidadãos que estavam à sair do cinema intervieram apoiando os hooligans. Foi atacada a esquadra da polícia mais próxima e o edifício do Banco Estatal, onde se escondiam alguns agentes. Em resultado, um jovem foi baleado mortalmente, um agente da polícia morreu do ataque cardíaco e a situação só foi controlada com uso das unidades do exército regular.

No mesmo ano as situações semelhantes decorreram em diversas partes da URSS: países Bálticos, Montes Urais, Sibéria, Ucrânia (província de Donetsk). Sempre com o mesmo cenário: polícia tenta deter os delinquentes, estes resistem, os cidadãos apoiam os hooligans, polícia é atacada e situação é controlada com uso das unidades militares.

A unanimidade entre os delinquentes e cidadãos preocupou sobremaneira a liderança do PCUS. O partido-Estado deu a ordem de aumentar o número de detenções nos locais públicos de hooligans e de cidadãos bêbados. As medidas interventivas também foram tomadas contra os agentes do Ministério do Interior. O que ditou a não existência dos casos de sublevações populares em todo o 1957.

Mas em 1958 – 1959 a situação agravou-se. Neste período os cidadãos defendiam o seu direito de beber álcool nos locais públicos, os casos mais conhecidos se deram em Riga (Letônia) em setembro de 1958 e Gorki (Rússia) em maio de 1959.

A situação mereceu a atenção da Procuradoria-geral da URSS, que chegou a conclusão inédita: a razão da união entre os delinquentes e cidadão comum na maioria dos casos foi a discordância dos atos ilegais dos agentes da polícia. O Procurador-geral da URSS, Roman Rudenko, ordenou uma maior luta contra os tais atos ilegais e uma maior transparência nas ações da polícia soviética.

O grau de tensão foi abrandando, mas após os acontecimentos de 1950, a autoridade do Ministério do Interior entre os cidadãos foi diminuindo de uma forma constante.

Fonte:

Vladimir A. Kozlov; “Desordens em massa na URSS sob Khrushov e Brejnev (1953 – início dos anos 1980)”, Moscovo, Rosspen, 2009. 

Ler em PDF (em russo):

Edição britânica:
“Mass Uprisings in the USSR. Protest and Rebellion in the Post-Stalin Years”, M.E.Sharp: Armonk, New York, London, 2002 (ISBN 9780765606686). 

Ler um trecho online (em inglês):
http://books.google.co.mz/books?id=s1kQQgCMHPIC&printsec=frontcover&hl=uk&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false

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