A língua ucraniana sobreviveu
várias perseguições e proibições, mas isso não impedia os ucranianos a desenvolver
o seu idioma e até responder aos perseguidores de maneira adequada. Um destes
casos se deu em 1926 na Polônia.
por: Svyatoslav
Lypovetskiy *
Em abril de 1924 o
governo polaco criou a comissão que deveria produzir o anteprojeto da reforma
educativa escolar. O clima do secretismo no funcionamento da comissão e a
adoção não transparente das “leis domésticas” levaram às manifestações de
protesto, desagradando várias comunidades, ucraniana, judaica, alemã.
A nova lei, patrocinada
pelo ministro de educação, Stanislaw Grabski, e que recebeu o nome popular “Lex
Grabski”, começou a ofensiva total contra as línguas nacionais, lecionadas nas
escolas populares e estatais. A polonização do
sistema escolar ucraniano na Galiza Oriental era supervisionada pela Curadoria
da Circunscrição Escolar de Lviv, que se estendia até as cidades de Ternopil e
Stanislaviv (hoje Ivano – Frankivsk) e era chefiada pelo Stanislaw Sobinski.
Desde o dia 1 de março de
1924, a língua ucraniana foi retirada do uso interno e externo de todos os
ginásios e escolas profissionais, a lei impunha o uso obrigatório de termos “ruski”
ou “rusinski” (ruteno) em relação aos ucranianos. A historiadora polaca, Miroslawa
Papierzynska-Turek (Cerkiew1938),
apresenta a tabela da diminuição drástica das escolas públicas ucranianas na
Polônia, entre os anos 1922 e 1926:
Resposta ucraniana
No dia 19 de outubro de
1926 em Lviv com um único tiro foi executado o curador escolar Stanislaw
Sobinski. Sem testemunhas, a peritagem policial apenas constatou que os
executores eram bons desportistas, pois “durante a fuga eles faziam os passos
muito largos”. A polícia polaca não tinha a versão dos acontecimentos, balançando
entre a vingança privada de algum professor maltratado pelo Sobinski e ação dos
nacionalistas ucranianos.
Na cerimónia do enterro
estava presente o ministro do interior da Polônia, general Slawoj Skladowski,
que ficou descontente com o desempenho da polícia criminal polaca. Pela
informação sobre os executantes foi anunciada a recompensa de 1000 zloty, sem
nenhum efeito.
Os executores
O jornal da Organização
Militar Ucraniana (UVO), “Surma”,
publicou em janeiro de 1927 o artigo intitulado “Novo tiro – sobre o assassinato
do curador Stanislaw Sobinski em Lviv”. Embora o artigo não dizia diretamente que
o atentado foi realizado pela ordem da UVO, o artigo afirmava que o tiro foi
dado pela “mão firme do membro da Organização Militar Ucraniana”.
“O atentado mostrou aos
polacos, que no povo ucraniano existe a força que consegue responder à qualquer
violência, que entre o povo ucraniano há um grupo de combate que tinha e tem a
força moral de ordenar aos seus membros ir para um caso destes, e tem os
membros que decidem ir até arriscando a morte certa”.
O grupo que recebeu a
ordem de executar Sobinski era comandado pelo Petró Saykevych, os executores escolhidos
eram jovens Roman
Shukhevych (16) e Bohdan Pidhayniy (17). No verão de 1926 eles receberam
duas pistolas e a ordem de preparar a ação. Primeiro, planeava-se executar
Sobinski no seu escritório, mas a retirada dos guarda-costas do curador
facilitou a tarefa da UVO.
Vestidos com as roupas da
2ª mão, jovens esperaram por sinal dos companheiros que vigiavam o curador. Foi
dado apenas um tiro porquê a pistola do Roman Shukhevych falhou.
Caça aos ucranianos
Ainda na noite do
atentado, a polícia e os agentes à paisana cercaram a Casa Académica, Seminário
Espiritual e a Casa dos Inválidos Ucranianos. Os agentes detinham e verificavam
os alibis dos ucranianos “politicamente suspeitos”, revistavam os quartos.
Após a publicação da “Surma”,
a polícia se dedicou aos militantes da UVO. A polícia prendeu Vasyl Atamanchuk
e Ivan Verbytskiy, que no final foram acusados de assassinar o curador. A polícia
e o sistema judicial polaco falsificaram o caso, arranjando a “testemunha”, o motorista
de táxi que alegadamente levou os executores até o local do atentado. Em 1929,
o tribunal de jurados de Lviv deliberou a pena capital para Verbytskiy e 10
anos para Atamanchuk. Mais tarde, Verbytskiy viu a sua pena ser “abrandada” até
15 anos de cadeia. Ambos cumpriram as penas de uma maneira muito digna.
O processo falsificado
originou uma onde de indignação não apenas na Galiza, mas também na emigração
ucraniana nos EUA e no Canadá. A liderança da UVO ponderava a possibilidade de
colocar Shukhevych e Pidhayniy em um país sem o acordo de extradição com Polônia,
onde os jovens deveriam assumir o atentado. Para este fim, em 1927, eles receberam
a ordem de escrever o memorando sobre a sua participação no atentado. O plano
não foi realizado, embora ficou registado o pedido do Roman Shukhevych ao
comando da UVO para divulgar o seu nome como o verdadeiro autor do atentado.
O caso foi apenas um
pequeno ato na luta pela sobrevivência dos ucranianos, na defesa da língua
ucraniana.
* publicista, Ternopil
Fonte:
http://www.istpravda.com.ua/articles/2012/07/6/89562
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