segunda-feira, julho 09, 2012

Polonização que fez mal a saúde


A língua ucraniana sobreviveu várias perseguições e proibições, mas isso não impedia os ucranianos a desenvolver o seu idioma e até responder aos perseguidores de maneira adequada. Um destes casos se deu em 1926 na Polônia.

por: Svyatoslav Lypovetskiy *

Em abril de 1924 o governo polaco criou a comissão que deveria produzir o anteprojeto da reforma educativa escolar. O clima do secretismo no funcionamento da comissão e a adoção não transparente das “leis domésticas” levaram às manifestações de protesto, desagradando várias comunidades, ucraniana, judaica, alemã.

A nova lei, patrocinada pelo ministro de educação, Stanislaw Grabski, e que recebeu o nome popular “Lex Grabski”, começou a ofensiva total contra as línguas nacionais, lecionadas nas escolas populares e estatais. A polonização do sistema escolar ucraniano na Galiza Oriental era supervisionada pela Curadoria da Circunscrição Escolar de Lviv, que se estendia até as cidades de Ternopil e Stanislaviv (hoje Ivano – Frankivsk) e era chefiada pelo Stanislaw Sobinski.

Desde o dia 1 de março de 1924, a língua ucraniana foi retirada do uso interno e externo de todos os ginásios e escolas profissionais, a lei impunha o uso obrigatório de termos “ruski” ou “rusinski” (ruteno) em relação aos ucranianos. A historiadora polaca, Miroslawa Papierzynska-Turek (Cerkiew1938), apresenta a tabela da diminuição drástica das escolas públicas ucranianas na Polônia, entre os anos 1922 e 1926:

Resposta ucraniana

No dia 19 de outubro de 1926 em Lviv com um único tiro foi executado o curador escolar Stanislaw Sobinski. Sem testemunhas, a peritagem policial apenas constatou que os executores eram bons desportistas, pois “durante a fuga eles faziam os passos muito largos”. A polícia polaca não tinha a versão dos acontecimentos, balançando entre a vingança privada de algum professor maltratado pelo Sobinski e ação dos nacionalistas ucranianos.

Na cerimónia do enterro estava presente o ministro do interior da Polônia, general Slawoj Skladowski, que ficou descontente com o desempenho da polícia criminal polaca. Pela informação sobre os executantes foi anunciada a recompensa de 1000 zloty, sem nenhum efeito.

Os executores

O jornal da Organização Militar Ucraniana (UVO), “Surma”, publicou em janeiro de 1927 o artigo intitulado “Novo tiro – sobre o assassinato do curador Stanislaw Sobinski em Lviv”. Embora o artigo não dizia diretamente que o atentado foi realizado pela ordem da UVO, o artigo afirmava que o tiro foi dado pela “mão firme do membro da Organização Militar Ucraniana”.

O atentado mostrou aos polacos, que no povo ucraniano existe a força que consegue responder à qualquer violência, que entre o povo ucraniano há um grupo de combate que tinha e tem a força moral de ordenar aos seus membros ir para um caso destes, e tem os membros que decidem ir até arriscando a morte certa”.

O grupo que recebeu a ordem de executar Sobinski era comandado pelo Petró Saykevych, os executores escolhidos eram jovens Roman Shukhevych (16) e Bohdan Pidhayniy (17). No verão de 1926 eles receberam duas pistolas e a ordem de preparar a ação. Primeiro, planeava-se executar Sobinski no seu escritório, mas a retirada dos guarda-costas do curador facilitou a tarefa da UVO.

Vestidos com as roupas da 2ª mão, jovens esperaram por sinal dos companheiros que vigiavam o curador. Foi dado apenas um tiro porquê a pistola do Roman Shukhevych falhou.           

Caça aos ucranianos

Ainda na noite do atentado, a polícia e os agentes à paisana cercaram a Casa Académica, Seminário Espiritual e a Casa dos Inválidos Ucranianos. Os agentes detinham e verificavam os alibis dos ucranianos “politicamente suspeitos”, revistavam os quartos.

Após a publicação da “Surma”, a polícia se dedicou aos militantes da UVO. A polícia prendeu Vasyl Atamanchuk e Ivan Verbytskiy, que no final foram acusados de assassinar o curador. A polícia e o sistema judicial polaco falsificaram o caso, arranjando a “testemunha”, o motorista de táxi que alegadamente levou os executores até o local do atentado. Em 1929, o tribunal de jurados de Lviv deliberou a pena capital para Verbytskiy e 10 anos para Atamanchuk. Mais tarde, Verbytskiy viu a sua pena ser “abrandada” até 15 anos de cadeia. Ambos cumpriram as penas de uma maneira muito digna.

O processo falsificado originou uma onde de indignação não apenas na Galiza, mas também na emigração ucraniana nos EUA e no Canadá. A liderança da UVO ponderava a possibilidade de colocar Shukhevych e Pidhayniy em um país sem o acordo de extradição com Polônia, onde os jovens deveriam assumir o atentado. Para este fim, em 1927, eles receberam a ordem de escrever o memorando sobre a sua participação no atentado. O plano não foi realizado, embora ficou registado o pedido do Roman Shukhevych ao comando da UVO para divulgar o seu nome como o verdadeiro autor do atentado.

O caso foi apenas um pequeno ato na luta pela sobrevivência dos ucranianos, na defesa da língua ucraniana.            

* publicista, Ternopil

Fonte:
http://www.istpravda.com.ua/articles/2012/07/6/89562

Sem comentários: