quarta-feira, julho 04, 2012

Marechal Zhukov: “o carniceiro da vitória”

O Marechal Zhukov, promovido pelos neoestalinistas como “génio militar soviético”, era visto pelos seus contemporâneos como um pessoa brutal e despótica, adepta do princípio de “vitória a qualquer custo” e dada às pilhagens. A sua alcunha entre os soldados soviéticos era “carniceiro”…

A doutrina militar do Zhukov se baseava na ideia do que após o fogo da artilharia, o ataque era feito pela infantaria e só depois, nas brechas por ela abertas entravam os tanques. Ou seja, a caminho dos tanques era traçado pelos corpos dos soldados. O uso desta tática, condenada por comandantes militares de senso comum, ditava que por cada soldado alemão morto, a URSS perdia 8-10 militares (no fim da II G.M., Zhukov surpreendeu o general americano Eisenhower com a famosa frase, explicando porque ele poupava os tanques em detrimento dos soldados: “Soldados são esterco, as gajas russas vão parir mais, enquanto o tanque custa o dinheiro”).

Comandando a defesa de Moscovo em outono de 1941, Zhukov lançou contra a ofensiva alemã os 179.000 soldados do “corpo voluntário” – professores, engenheiros, cientistas, muitos deles trazidos da Ucrânia. Eles tiveram 1 (uma) espingarda para cada 5 (cinco) pessoas e 1 (uma) granada para cada 3 (três). Naquela “trituradora” morreu Yuri Kondratyuk, autor do programa da viagem para a Lua, cujas ideias foram mais tarde aproveitadas pela NASA.
No dia 19 de dezembro de 1941, Zhukov usou três divisões da cavalaria contra os blindados alemães. Essa cavalaria foi aniquilada em algumas horas (durante cerca de 40 anos a propaganda soviética afirmava que o caso foi protagonizado em 1939 pela cavalaria polaca).

Na primavera de 1944, durante a batalha de Korsun-Cherkassy, Zhukov ordenou que as tropas “voluntárias”, às pressas formadas pelos camponeses ucranianos com idades entre 15 e 55 anos, atacassem as defesas alemãs. Durante 24 dias da batalha o exército soviético perdeu 770.000 pessoas, na sua maioria ucranianos.

A “Enciclopédia da Arte Militar” escreve que na batalha de Berlim, para poupar o tempo de desminagem, Zhukov mandou a infantaria avançar pelos campos minados. O marechal não sentiu nenhuma vergonha e até gabava-se disso perante os aliados. O general americano Eisenhower escrevia nas suas memórias: “Tenho dificuldade de imaginar o que aconteceria no nosso exército com um general que tivesse a ideia de dar uma ordem semelhante”. O Marechal Zhukov recebeu a terceira estrela do herói [da União Soviética]. [1]        

Em 14 de setembro de 1954, Zhukov deu a ordem de experimentar a bomba nuclear nos seus próprios soldados. No polígono de Totskoye, nos arredores de Oremburgo, cerca de 40.000 militares foram lançados no epicentro nuclear. Cerca de ¾ morreram de queimaduras e lesões de radioatividade. Outros 10.000 tornaram-se inválidos para sempre. Em resultado Zhukov recebeu outra estrela do herói [da União Soviética]. [2]    

«Zhukov não era mesquinho. Ele não gostava de castigos como repreensão ou repreensão severa. O castigo de Zhukov é o fuzilamento. Sem formalidades…», escreveu nas suas memórias o general Petró Grigorenko. [3]

O historiador catedrático russo, Andrey Mertsalov, caracteriza Zhukov assim: «Após Estaline, Zhukov era a segunda figura na direção militar a URSS… Não apenas ao Estaline, mas também ao Zhukov era próprio o princípio vicioso “a qualquer custo”, brutalidade e despotismo» [4]

O retrato do Zhukov não seria completo, se não falamos do seu instinto de saqueador. O Ministro do Defesa da URSS, Nikolai Bulganin escreveu [5] no memorando ao Estaline:

Conselho de ministros da URSS
Ao Camarada Estaline I. V.

Segundo a sua orientação, no dia 5 de janeiro de [1948] no apartamento de Zhukov em Moscovo foi feita uma busca não oficial. Pretendia-se encontrar e apreender uma mala e porta-joias com ouro, diamantes e outras preciosidades. Durante a busca a mala não foi achada, mas porta-joias estava no cofre, situado no quarto de dormir. A porta-joias continha:

Relógios – 24 unidades, destes 17 de ouro, 3 com pedras preciosas; pendentes de ouro e anéis – 15 un., 8 com pedras preciosas; porta-chaves de ouro com grande quantidade de pedras preciosas; outras peças de ouro (porta-cigarros, fios, pulseiras, brincos de pedras preciosas, etc.).      
[...]

Na noite de 8 para 9 de janeiro de [1948] foi feita uma busca não oficial na casa de campo de Zhukov, na aldeia de Rubliovka, nos arredores de Moscovo. Em resultado foi descoberto que dois quartos da casa foram transformados no armazém, onde fica armazenada uma grande quantidade de objetos e valores.

Por exemplo:
Os panos de lã, seda, brocado, veludo fino e outros – mais de 4.000 metros; peles de zibelina, macaco, raposa, otária, cordeiro de caracul – 323 peles; cabrim de qualidade superior – 35 peles; carpetes caros e gobelins de tamanhos grandes, retirados do palácio de Potsdam e outros palácios e casas da Alemanha – 44 no total, uma parte está colocada e pendurada nos quartos, outra está no armazém.      

As pinturas preciosas clássicas de tamanhos grandes em molduras artísticas – 55 no total, parcialmente pendurados nos quartos da casa e parcialmente estando no armazém; os jogos de loiça de jantar e de chá (porcelana de acabamentos artísticos, cristal) – 7 caixas grandes; jogos de talheres de jantar e de chá – 2 caixas; acordeões com acabamentos caros e artísticos – 8 peças; espingardas de caça de marca Holland & Holland e outras – 20 peças no total. Todos estes bens estão guardados em 51 caixas e malas, mas também ficam deitados.      
[...]

Toda o mobiliário, começando pelas mobílias, carpetes, loiça, adornos e acabando com as cortinas nas janelas é estrangeiro, principalmente alemão. Na casa de campo não há nenhum objeto de fabrico soviético, menos as passadeiras na entrada de casa. Não há mesmo nenhum livro soviético, mas nas prateleiras está um grande número de livros com impressão de ouro, exclusivamente em língua alemã…

Ao Camarada Estaline

Na alfândega de Yagodyn (nos arredores da cidade de Kovel) foram apreendidos 7 vagões, que continham 85 caixas com mobílias. Durante a verificação foi sabido que mobílias pertencem ao marechal Zhukov.
[...]

No dia 19 de agosto os vagões com mobílias de Yagodyn foram enviados para Odessa. Alfândega de Odessa recebeu a ordem de não entregar as mobílias até receber uma orientação especial. A descrição de mobílias, contidas nos vagões verificados está anexa.

Bulganin,
21 de agosto de 1946

No fim deste processo, a maioria dos objetos aqui citados foi apreendida pelo MGB da URSS e entregue à Direção de Património do Conselho de Ministros da URSS.

Bibliografia

[1] “Enciclopédia da Arte Militar”, Minsk, Literatura, 1997, pp. 208-209        
[2] Idem, p. 210.
[3] Viktor Suvorov, Dia “M”, Cherkassy, Ingles, 1994, p. 225.
[4] Alexey Mertsalov, “Sob hipnose da personalidade forte”, revista “Rodina”, 1991, №6-7, p. 115.
[5] Arquivos Militares da Rússia, Vol. 1, Moscovo, 1993, pp. 184-190.


Bónus
Na cidade de Odessa, no dia 7 de maio de 2017, os ativistas ucranianos fizeram a pressão sobre o poder local para obrigar à remover a pedra memorial, em homenagem ao marechal Zhukov, colocada recentemente, e ilegalmente, pelo partido comunista da Ucrânia, também este, uma organização ilegal.

A pedra foi colocada na avenida da Centena Celestial que até recentemente ostentava o nome daquele que na memória dos soldados e oficiais do RKKA foi sempre lembrado como o “carniceiro da vitória”.

Após uma curta discussão com polícia de segurança pública presente, ao local vieram os funcionários dos serviços municipais que desmontaram e retiraram a obra ilegal, informa o serviço ucraniano da Rádio Liberdade.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pena que o UPA não conseguiu matá-lo como fez com o Vatutin.