quinta-feira, janeiro 08, 2009

Ucrânia tem o gás para 70 dias

A crise actual do gás, provocada pela política de chantagem e coerção russa, é vista de maneira diferente à partir dos capitais europeias e da Ucrânia. Em quanto a campanha das RP russa, pretende fazer crer que os ucranianos roubam o gás, na Ucrânia as pessoas entendem perfeitamente que o aumento do preço do gás durante o inverno rigoroso de 210 para 450 dólares não é uma “prática normal do negócio”. Enfim, se o nosso vizinho nortenho compra o gás no Turcomenistão aos 400 USD ao metro³, só para que a Ucrânia não o poder comprar por 100 USD / metro³, ninguém pode esperar que a Ucrânia vai gostar desta situação e não vai retaliar como todos os meios possíveis, para defender a sua segurança nacional.

Ucrânia tem o gás para mais 70 dias

O blogger ucraniano Galimsky cita as palavras do director do Holding estatal Naftogaz Ucrânia, Sr. Oleh Dubina, assegurando que no dia 6 de Janeiro, a sua empresa tinha nos armazéns subterrâneos cerca de 16 – 16,5 bilhões de metros³ de gás natural. Desde o ano de 2008, a Ucrânia armazenou cerca de 30,03 bilhões de metros³ de gás natural, destes 17,07 bilhões pertencem ao “Naftogaz”. A empresa levanta cerca de 200 milhões de metros³ de gás por dia.

Além disso, a Ucrânia possui 13 armazéns subterrâneos, com a capacidade activa de armazenamento superior à 31 bilhões de metros³. 12 destes armazéns e o sistema de gasodutos é gerida pela empresa “Ukrtransgaz”, companhia que faz parte do Holding – mãe “Naftogaz Ucrânia”, escreve a agência noticiosa "Interfax - Ucrânia" .

Uma símiles conta aritmética mostra que com este padrão do consumo, mesmo na situação da blocada total, a Ucrânia conseguirá sobreviver nos próximos 70 – 75 dias. O gás se esgotará nos meados do Março – o final da época do aquecimento central na Ucrânia (temperatura média em Kyiv em Março é +0,7°С, em Abril +8,7°С ). Contando com a queda progressiva da produção industrial, este período poderá aumentar em 1,5 vezes. Ao mesmo tempo, o gás extraído na Ucrânia, chega perfeitamente para as necessidades do aquecimento central da população. A Europa Central e Ocidental (amiga preferida da Rússia, a Transnístria já ficou gelada, na vizinha Roménia as temperaturas baixaram até -36°C), vão pedir as contas ao Gazprom.

Prognósticos

Todos os separatistas do espaço pós – soviético vão sentir que a Rússia não estará genuinamente preocupada com eles, são uma espécie do balastro que pode ser atirado à qualquer momento.
A Europa receberá uma lição: em vez de construir os gasodutos com a Rússia, é urgente repensar a segurança energética do velho continente.
O Gazprom poderá entrar na bancarrota, caso a Turcomenistão se recusar vender-lhe o gás à baixo dos 310 USD.
A Rússia poderá ter a sua segunda crise económica, já em Abril – Maio de 2009.

Outro blogger ucraniano, None-Smilodon escreve sobre a crise em termos mais duros, mas pragmáticos: “a Europa Ocidental está neste momento colher os frutos da sua política medrosa na questão da Geórgia. As elites ucranianas e russas consideram a UE como o burro de carga, por isso ignoram simplesmente as suas pretensões, não fazendo nenhum esforço para manter as aparências.

Único país que tem a capacidade de resolver as coisas, os EUA, estão no período de transição, por isso UE não conseguirá apanhar nada. Existe alguma justiça, no facto do que a disputa entre o Naftogaz e o Gazprom atingiu primeiramente a Bulgária e Itália. Dois países – amigos da Rússia, com os níveis da corrupção maiores do que os ucranianos.

Não quero dar nenhum conselho ao Oleh Dubina (ex-director de duas fábricas metalúrgicas na Ucrânia nos anos 90, no fim ele ficou vivo e rico, naqueles terríveis anos, a sua profissão era mais perigosa do que o do piloto da caça ou do duplo do cinema), mas apenas quero lembrar, que além do monopólio do fornecedor, existe o monopólio do consumidor. Isso significa que criando um qualquer “Consorcio dos Importadores dos Recursos Energéticos Vitais” e inscrevendo lá toda a Europa, é possível começar ditar as regras a Rússia. Sem esquecer que a Europa Ocidental é estúpida e preguiçosa, eles simplesmente não têm os miolos e tomates para uma acção deste género. Por isso, o gasoduto terá que ser fechado até que a UE concordar com a criação do cartel do consumidor, com a Ucrânia à frente. Todos estes gasodutos novos, do tipo “Northsteam” – só entrarão em funcionamento daqui à 10 anos, enquanto o frio já se sente hoje.

Porque razão a Ucrânia tem que se preocupar com as necessidades daqueles que no caso duma guerra real ucraniano – russa, são capazes no máximo é de mostrar o dedinho desaprovador a Rússia? Egoísmo é uma cena buê da fixe, mas é um jogo que pode ser jogado entre duas partes.

Acredito que todos os dias diminui a quantidade daqueles, que descordam com a renovação do estatuto atómico da Ucrânia...

Quem rouba o que?

O conceituado economista russo, Andrei Illarionov, chama atenção para a questão do trânsito do gás pelo território ucraniano: “uma parte do gás (russo) faz parte do gás tecnológico que é necessário para leva-lo a Europa. Além disso, para a transferência do gás até a Europa, é necessário usar o mesmo gás para pagar o uso do sistema dos gasodutos ucranianos. Em diferentes países, a porcentagem deste gás é diferente. No caso ucraniano, o país usa cerca do 15% do total gás em trânsito. Essa grandeza é menor em relação às quantidades usadas pelo Gazprom para as transferência do gás dos produtores independentes dentro do território russo. Nestes casos os valores chagam à 30 e até 33% do total”.
http://censor.net.ua/go/viewTopic--id--302252
Porque Gazprom fica calado? Pois o gás não é retido apenas na Ucrânia, mas também na Polónia, Eslováquia, Áustria, Roménia, Belarus, Bulgária, Alemanha, França, em todo o lado!

O mesmo Oleh Dubina explica que no acordo entre o Naftogaz e o Gazprom de Outubro do 2008, está mencionado o “gás tecnológico” de 6,4 bilhões de metros³, que será usado pela Ucrânia para “empurrar” o gás russo entre o ponto de recepção e o ponto da saída para a sua exportação.
http://financist.org.ua/news/3377

E como sempre, no fim vai uma anedota, desta vez da autoria do poeta – politólogo Volodymyr Tsybulko.

Ano 2015. Noite. Inverno. Dois compadres ucranianos comem e bebem. De repente, no quintal estão ouvir um barulho estranho. Um dos compadres leva a caçadeira e vai averiguar a situação. Estão-se ouvir dois tiros. Uma voz off: “O inverno deste ano é tão rigoroso, que os moscovitas procurando a comida, começaram aproximar-se às casas das pessoas”.

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