Uma perfeita ilustração de como a Rússia actual se arrasta (já arrastou?) para o fascismo, agora pode ser vista nas salas de cinema e brevemente em DVD.
Não é o meu habito de escrever sobre os acontecimentos russos, nem tanto por opção ideológica, quanto pela forte convicção do que o “império energético”, que anda “se levantar do chão”, tem os recursos suficientes para publicitar os seus próprios feitios.
Mas a saída do novo filme do realizador Fyodor Bondarchuk, chamado “A Ilha Habitada” (Título internacional: “Inhabited Island”), provocou em mim a forte vontade de escrever algo sobre este trabalho cinematográfico.
O romance homónimo foi escrito pelos irmãos Arkadi Strugatsky e Boris Strugatsky em 1968. Eu li uma copia semi – clandestina do romance em 1989, era jovem e como tal, primeiramente, adorei a parte “externa” (acção holywoodesca) da história. Mais tarde, cheguei a compreender os níveis políticos “internos”, aqueles que sobremaneira inquietaram a censura soviética.
Ano 2157. Um jovem astronauta terrestre do Grupo da Procura Livre, chega a planeta Saraksh, governada pelos Pais Desconhecidos, cinco chefes anónimos, que manipulam as consciências dos cidadãos, através das ondas electromagnéticas da propaganda estatal. Aqueles, que em resultado destas emissões têm as terríveis dores de cabeça são “mutantes”, inimigos do povo. Mas também existem os inimigos externos, duas antigas “ou províncias, ou colónias”, que hoje não gostam de Saraksh: “Antigamente nós éramos um único país. Tivemos a história comum. Por isso eles nós odeiam tanto”.
No ano da Primavera de Praga, o romance lia-se como uma fortíssima critica do regime soviético, uma perfeita fotografia da URSS, país que desde a sua própria “nascença” foi atingido pelo vírus de totalitarismo. Sendo o nazismo alemão e comunismo soviético, os irmãos gémeos quase siameses, os censores soviéticos encontraram uma maneira de publicar o romance, após algumas mudanças mais ou menos cirúrgicas.
Os censores exigiram que do texto sejam retiradas todas as referências da vida quotidiana soviética, começar pelos nomes eslavos dos heróis principais. O romance também ganhou o “sotaque” alemão: tanques se transformaram em panzerwagens, a frase “parvo, ranhoso!” se transformou em «Dumkopf, Rotznase!». Os Pais Desconhecidos, Pai, Sogro e Cunhado se transformaram em Criadores de Fogo, Chanceler, Conde e Barrão. No total, a versão oficial e versão original tiveram 896 diferenças – correcções, supressões, trocas...
Mas o trabalho era feito, uma vez saído para o público, o romance começou a ser difundido em cópias, feitas à maquina de escrever ou nas primeiras copiadoras soviéticas.
Hoje, 40 anos depois, o romance não perdeu a sua mordacidade, sendo a perfeita ilustração de como a Rússia actual se arrasta (já arrastou?) para o fascismo.
O blogger ucraniano, Alex-Glbr, escreve que “A Ilha Habitada” nem pode ser qualificada como a “crítica dissimulada”. Pois o filme é um gozo aberto sobre o “rei nu”. Tal como a Rússia real, o mundo de Saraksh é fortemente influenciado pelo vendaval dos “humoristas”, “os malvados anos 90”, a propaganda massificada do ódio, os grupos totalitários juvenis (“Nashi”, “Molodaya Gvardiya”), os Pais Desconhecidos (partido “Rússia Unida”) e as frases do tipo “chacais nas portas das embaixadas”, “traidores da história comum”, “inimigos históricos são piores do que os mutantes”.
Apenas uma coisa é nova, a maneira como o filme retracta a intelegentzia, não como meras “bocas faladoras”, mas como os grupos militantes na clandestinidade, que se comportam como os combatentes e lutadores pela liberdade.
Ver o trecho do filme no YouTube:
http://ru.youtube.com/watch?v=BpTfs0ELwis
Ler a última versão do romance, corrigida pelos irmãos Strugatsky em 1992:
http://lib.ru/STRUGACKIE/ostrow2.txt
Mas a saída do novo filme do realizador Fyodor Bondarchuk, chamado “A Ilha Habitada” (Título internacional: “Inhabited Island”), provocou em mim a forte vontade de escrever algo sobre este trabalho cinematográfico.
O romance homónimo foi escrito pelos irmãos Arkadi Strugatsky e Boris Strugatsky em 1968. Eu li uma copia semi – clandestina do romance em 1989, era jovem e como tal, primeiramente, adorei a parte “externa” (acção holywoodesca) da história. Mais tarde, cheguei a compreender os níveis políticos “internos”, aqueles que sobremaneira inquietaram a censura soviética.
Ano 2157. Um jovem astronauta terrestre do Grupo da Procura Livre, chega a planeta Saraksh, governada pelos Pais Desconhecidos, cinco chefes anónimos, que manipulam as consciências dos cidadãos, através das ondas electromagnéticas da propaganda estatal. Aqueles, que em resultado destas emissões têm as terríveis dores de cabeça são “mutantes”, inimigos do povo. Mas também existem os inimigos externos, duas antigas “ou províncias, ou colónias”, que hoje não gostam de Saraksh: “Antigamente nós éramos um único país. Tivemos a história comum. Por isso eles nós odeiam tanto”.
No ano da Primavera de Praga, o romance lia-se como uma fortíssima critica do regime soviético, uma perfeita fotografia da URSS, país que desde a sua própria “nascença” foi atingido pelo vírus de totalitarismo. Sendo o nazismo alemão e comunismo soviético, os irmãos gémeos quase siameses, os censores soviéticos encontraram uma maneira de publicar o romance, após algumas mudanças mais ou menos cirúrgicas.
Os censores exigiram que do texto sejam retiradas todas as referências da vida quotidiana soviética, começar pelos nomes eslavos dos heróis principais. O romance também ganhou o “sotaque” alemão: tanques se transformaram em panzerwagens, a frase “parvo, ranhoso!” se transformou em «Dumkopf, Rotznase!». Os Pais Desconhecidos, Pai, Sogro e Cunhado se transformaram em Criadores de Fogo, Chanceler, Conde e Barrão. No total, a versão oficial e versão original tiveram 896 diferenças – correcções, supressões, trocas...
Mas o trabalho era feito, uma vez saído para o público, o romance começou a ser difundido em cópias, feitas à maquina de escrever ou nas primeiras copiadoras soviéticas.
Hoje, 40 anos depois, o romance não perdeu a sua mordacidade, sendo a perfeita ilustração de como a Rússia actual se arrasta (já arrastou?) para o fascismo.
O blogger ucraniano, Alex-Glbr, escreve que “A Ilha Habitada” nem pode ser qualificada como a “crítica dissimulada”. Pois o filme é um gozo aberto sobre o “rei nu”. Tal como a Rússia real, o mundo de Saraksh é fortemente influenciado pelo vendaval dos “humoristas”, “os malvados anos 90”, a propaganda massificada do ódio, os grupos totalitários juvenis (“Nashi”, “Molodaya Gvardiya”), os Pais Desconhecidos (partido “Rússia Unida”) e as frases do tipo “chacais nas portas das embaixadas”, “traidores da história comum”, “inimigos históricos são piores do que os mutantes”.
Apenas uma coisa é nova, a maneira como o filme retracta a intelegentzia, não como meras “bocas faladoras”, mas como os grupos militantes na clandestinidade, que se comportam como os combatentes e lutadores pela liberdade.
Ver o trecho do filme no YouTube:
http://ru.youtube.com/watch?v=BpTfs0ELwis
Ler a última versão do romance, corrigida pelos irmãos Strugatsky em 1992:
http://lib.ru/STRUGACKIE/ostrow2.txt
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