A situação geopolítica actual na América Latina torna-se bastante favorável à Ucrânia. Pode parecer uma afirmação tanto quanto arriscada, mas vejamos essa ideia ao pormenor.
Por um lado, temos na região um grupo de países, encabeçados pelos lideres muitíssimo anti – EUA, casos óbvios de Venezuela e Bolívia. Por outro lado, temos uma decisão estratégica (e diga-se de passagem pragmática), da Rússia em apostar em dois países separadas pelas opções ideológicas: Venezuela e Argentina. Ao mesmo tempo, quer a Venezuela esquerdista, quer a Argentina neo – liberal, são dois opositores naturais e históricos do Brasil. E também existe a mais recente descoberta dum dos maiores campos petrolíferos do mundo no Brasil, que está prestes a tornar este país no principal produtor do petróleo da sua região e num dos maiores do mundo. (Os brasileiros sabem do que estou a falar, pois no país é pública a frase do Hugo Chavez que chamou Lula do “príncipe do petróleo” na recente cimeira ibero – americana).
Toda a gente sabe (mas ninguém diz publicamente), que Brasil pretende ter a sua arma nuclear. País tem a tecnologia, capacidade financeira e os cérebros nacionais necessários para o efeito. Mas adquirir uma arma nuclear convencional parece que fica mal e Brasil não quer ser confundido com Correia do Norte ou com Irão. Por outro lado, Brasil não pode se projectar internacionalmente (pretendendo obter o lugar permanente no futuro Conselho de Segurança alargado da ONU, por exemplo), sem ter essa capacidade superior de persuasão, perante os vizinhos instáveis ou até potencialmente agressivos. E por fim, não se pode esquecer, que vivemos num mundo, onde infelizmente, são respeitados os fortes e onde as riquezas naturais de um determinado país, são e serão cada vez mais cobiçadas quer pelos vizinhos, quer pelas grandes potencias mundiais.
O Ministro da Defesa do Brasil, Dr.
Nelson Jobim fez recentemente uma digressão pela França e pela Rússia, na procura da tecnologia de ponta para indústria da defesa brasileira. Prepara-se a sua visita aos EUA. Mas EUA não estão interessados em partilhar essa tecnologia, Rússia já fez a sua opção estratégica e neste momento não pode satisfazer a demanda brasileira, sem enfurecer a Venezuela e Argentina (ucranianos da Argentina que perdoem a minha maneira directa de dizer as coisas). Apenas a França parece que aceita construir para Brasil um submarino com capacidade de carregar os mísseis balísticos, inclusivamente com a carga nuclear. Acho que não é preciso explicar, que numa Europa presa ao politicamente correcto, Nicolas Sarkozy é a única figura que neste momento tem a ousadia de desafiar dois impérios de actualidade: EUA e a Rússia e tem meios suficientes próprios para faze-lo.
E aqui que nesta história entra a Ucrânia. País, que actualmente está fora dos blocos militares, mas tendo o claro rumo euro – atlântico, a Ucrânia possui vários interesses no Brasil. Primeiro, por causa da forte diáspora ucraniana (mais de 400.000 pessoas e hoje em dia a língua é um mercado), segundo porque a diversificação da demanda energética ucraniana claramente faz parte da politica da defesa e segurança do país. Já para não falar do projecto cósmico brasileiro (cosmódromo de Alcântara), desenvolvido em parceria com o sector público e privado da Ucrânia.
Ucrânia tem um grande potencial na indústria da defesa, e é a obrigação do país procurar os parceiros fora dos circuitos habituais de venda de armamento. Nesta situação, vender armamento ucraniano ao Brasil torna-se quase um imperativo patriótico e do bom senso, pois atenderemos as aspirações legitimas de um país – amigo em se tornar mais seguro e também ganharíamos um parceiro de peso em vários projectos internacionais, que interessam a Ucrânia: desde o reconhecimento do Holodomor, até à internacionalização e diversificação mais rápida da economia ucraniana.
Neste contexto é muito importante mencionar o equilíbrio das forças, que neste momento se sente na política interna ucraniana. Por um lado, a parte mais beneficiada de todos os contactos e contractos com o Brasil, será o Leste industrial ucraniano (tradicionalmente bastante disperso culturalmente e politicamente). Por outro lado, importante é o facto do que actual Governo ucraniano é dirigido por
Yulia Timochenko, líder histórico do
BYuT – partido do centro – esquerda, que conseguiu nas últimas eleições desalojar do governo ucraniano o Partido de Regiões, “guarda – chuva” da grande oligarquia ucraniana.
Na minha recente deslocação ao Brasil, tive a honrosa oportunidade de conversar com dois políticos brasileiros mais brilhantes da sua geração, que embora pertencem a duas famílias políticas diferentes, são grandes, permanentes e fieis amigos da Ucrânia. Assim proponho vós os trechos das conversas que tive com um dos mais influentes políticos da oposição liberal, Senador
Heráclito Fortes (eleito pelos Democratas) e com a Senadora mais bonita, elegante e charmosa, afecta à base governista, Sra.
Serys Slessarenko do Partido dos Trabalhadores. As nossas conversas tiveram lugar no Senado brasileiro, entre dias 13 e 14 de Fevereiro de 2008.
Por questões da cortesia e do género, começaremos pela Senadora
Serys Slessarenko:
— Como Senadora e membro da Comissão das Relações Exteriores e Defesa Nacional, até que ponto a Senhora é envolvida nas relações actuais entre Brasil e Ucrânia? Ao seu ver, o que poderá ser feito, para aumentar os níveis de cooperação entre nossos países?— Tenho excelentes e permanentes contactos com a Embaixada da Ucrânia, com anterior e actual (Sr. Volodymyr Lákomov) embaixador ucraniano. Vejo a minha posição como facilitadora de relações entre nossos países, esforço pelo qual recebi a diploma de honra do Governo ucraniano. Fiquei muito feliz ver que uma mulher se tornou a Primeira – Ministra da Ucrânia. Neste momento estamos fazer esforços para que
Yúlia_Timochenko visite o Brasil, pensando em incrementar as relações comerciais entre nossos países. Se isso acontecer, gostaria contribuir ao máximo para desenvolvimento de temas como: questões de género, mudanças climáticas, bio – combustível, etc. Alem disso temos a perspectiva de ver o Presidente Lula da Silva ir visitar a Ucrânia e chefe do Parlamento Ucraniano (Sr.
Arseniy Yatsenyuk), visitar o Brasil. Enfim, posso dizer que estamos fazer um esforço grande, para que de forma concreta, através de visitas e contactos bilaterais chagar aos progressos políticos na relação entre nossos países.
— Fazendo parte do Grupo Parlamentar Brasil – Ucrânia (grupo misto composto pelos parlamentares da Câmara de Deputados e do Senado do Brasil, presidido pelo advogado Cláudio Cajado ), como define as prioridades nas relações bilaterais entre Brasil e Ucrânia?— Estamos emprenhados no aprofundamento da política de inter – relações entre Brasil e Ucrânia. Neste momento a questão em que estamos a trabalhar é a questão de supressão dos vistos de entrada dos brasileiros na Ucrânia e ucranianos no Brasil. Temos que superar este problema do visto turístico, embaixador Lákomov já fez o pedido formal neste sentido junto ao Itemaraty (Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Ministro Dr.
Celso Amorim ), mas
Itemaraty ainda não mandou essa proposta para o Senado. Obviamente, essa questão só pode ser resolvida do ponto de vista de facilitação bilateral. O próprio Presidente Lula quer que a resolução seja bilateral, por isso temos que ter a paciência necessária para esperar.
Alem disso, apesar de existir o esforço definido pelo grupo parlamentar em aproximar nossos países, terá que haver o esforço pessoal de cada membro do grupo. Assim já ocorreram algumas missões parlamentares da Câmara de Deputados e do Senado à Ucrânia (eu ainda não foi, mas pretendo se deslocar à Ucrânia na próxima oportunidade). Como também missões dos parlamentares ucranianos já visitaram o Brasil. Acredito que nós parlamentares, temos que fazer maior esforço legislativo neste sentido.
— Tendo a forte ligação familiar com ucranianos, a senhora mantêm alguns contactos com associações ucranianas no Brasil?— Tenho contacto permanente e directo com a Embaixada da Ucrânia, mas também mantenho os contactos com as colónias dos ucranianos, pretendo se deslocar (ao Paraná) para manter um contacto mais directo, para conversar com a comunidade ucraniana residente no Brasil.
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Presidente da Comissão das Relações Exteriores e Defesa Nacional e membro do Grupo Parlamentar Brasil – Ucrânia, Senador
Heráclito Fortes foi um dos mentores de trazer a exposição sobre o Holodomor ao Senado brasileiro. Acção fortemente e pouco civilizadamente contestada pela Embaixada da Rússia no Brasil, que chegou ao cúmulo de espalhar no Senado uns panfletos que em tentou desmentir a ocorrência do Holodomor, a maior tragédia da Nação ucraniana.
— Como Senador e Presidente da Comissão das Relações Exteriores e Defesa Nacional, como define as relações entre Brasil e Ucrânia?— Brasil está interessado em ampliação das relações diplomáticas e comerciais com todos os países da Europa. A partir da sua independência, a Ucrânia tornou-se um parceiro individual muito importante para o Brasil. Pois o Brasil está interessado em manter a sua balança comercial equilibrada, aumentando oportunidades de negócio. País não pode ficar apenas o parceiro da União Europeia, pois a curto prazo seremos afectados pelas decisões muito problemáticas tomadas em bloco (recente embargo da carne brasileira na UE). Por isso, no aspecto comercial é muito mais vantajoso ter um mercado seguro individual, do que depender das decisões tomadas em bloco.
— Ao seu ver, o que poderá ser feito, para aumentar os níveis de cooperação entre nossos países?— Temos que fortalecer os grupos de amizade parlamentar. Fundamental que sejam incrementadas as idas recíprocas dos parlamentares para aumentar os níveis do conhecimento mútuo e para o fortalecimento das relações bilaterais.
Temos no Brasil uma comunidade ucraniana muito grande e isso foi muito positivo para formação do povo brasileiro. É muito importante preservar e fortalecer essas relações.
— A Ucrânia tem um grande potencial na indústria da defesa, abundância dos cientistas e da tecnologia que Brasil precisa. Porque as empresas brasileiras são tão tímidas em estabelecer os contactos bilaterais com a contraparte ucraniana?— Classe empresarial brasileira ainda não absolveu totalmente a noção do que a URSS já não existe. Empresário quando oiça sobre uma fabrica ucraniana pensa que isso fica na Rússia. Eu sei muito bem que a Ucrânia é responsável pelas pesquisas, pela ciência, mas para nós, brasileiros, a Ucrânia é o Chornobyl. A Embaixada da Ucrânia, ao meu ver, terá que fazer um trabalho mais intenso para desmistificar isso, falar com jornalistas, com fazedores de opinião.
— O que pode ser feito em termos práticos, para vencer este desafio?— Por exemplo, o cargueiro ucraniano Antonov. Seria muito interessante se a marca Antonov, optar por fazer uma parceria com a Embraer brasileira. Principalmente na produção do modelo AN – 320. Rússia não quer passar a tecnologia, isso não convém ao Brasil. Se Ucrânia trazer a tecnologia, se partilha-la, trocando os conhecimentos, então haverá o interesse mútuo, haverá aceitação desta cooperação.
Ministro (da Defesa do Brasil) Nelson Jobim foi a Rússia, França, irá para EUA. Mas em termos práticos ninguém quer partilhar o conhecimento. Por isso o país que quiser partilhar o conhecimento com o Brasil, sempre será bem vindo.
Meu modo de ver as coisas: se os países que fabricam os aviões não ficarem atentos, ficaremos por traz, ultrapassados pelos mercados asiáticos. Filosofia asiática é baixar o preço. Se eles dominarem a tecnologia aérea – baixarão os preços drasticamente. Por isso, quer Brasil, quer a Ucrânia tem que unir os esforços para criar sinergias na indústria de construção aérea.