O historiador ucraniano, Dr. Pavló Hay-Nizhnyk* analisa o Anteprojecto da Concepção de Programa Social Estatal Orientado da educação patriótica da população no período de 2013 – 2017.
A Concepção começa por afirmar que “o nível do patriotismo do povo da Ucrânia não é suficientemente alto”, pois “entre os jovens de 18-29 anos, a percentagem dos que gostariam de emigrar é de 50,4%, na faixa etária dos 30-39 anos é de 42,4%”. Embora é largamente sabido que a vontade de emigrar não é o sinónimo da falta de patriotismo, mas é resultado de incapacidade de se realizar na Ucrânia, da corrupção total, falta do emprego e salários baixos.
Um dos objectivos declarados da Concepção é “formar a atitude positiva em relação ao serviço militar e a motivação positiva dos jovens para com o serviço militar contratual e o recrutamento obrigatório”. Mas essa atitude só nascerá quando será restabelecida a ordem nas Forças Armadas, quando o exército ucraniano será reformado e devidamente financiado.
A Concepção advoga conceitos abertamente autoritários e totalitários, quando defende a “avaliação e o tratamento único dos principais eventos históricos, principais conquistas científicas, conquistas e vitórias militares das gerações anteriores”.
O orçamento do novo Programa é de 40,0 milhões de UAH (5,0 milhões de USD) no período de 2013 – 2017. Embora os seus autores não expliquem como chegaram a este valor, nem como e onde irão aplicar os fundos disponíveis. A Concepção menciona a necessidade de “preparar os programas de rádio e televisão do conteúdo patriótico, apoiar e promover os temas patrióticos nos programas de televisão, publicações periódicas, obras de literatura e arte e a edição de livros e publicações de temas militares e patrióticos”. Mas nada é dito sobre a necessidade de garantir que todas estas edições serão em língua ucraniana.
A Concepção dita sem disfarces que todas as conferências, festivais, concursos e exposições sobre os temas militares e patrióticos devem fornecer a “informação objectiva sobre a Grande Guerra Patriótica e o heroísmo do povo ucraniano”. Desta maneira, Concepção demonstra que não pretende estimular os estudos e o conhecimento dos outros temas históricos, como Revolução Ucraniana de 1917 – 1919, Holodomor, Ucrânia dos Carpatos, luta de libertação nacional ou as repressões contra os ucranianos durante os anos da ocupação soviética.
Usando a prática soviética, a Concepção planeia antecipadamente (!) a percentagem dos níveis do patriotismo da população (!), incluindo “as manifestações de patriotismo” nos “partidos da direcção patriótica”. Não se percebe quem e como irá medir o patriotismo das “direcções” partidárias...
* Doutorado em ciências históricas, pesquisador sénior do Instituto de Estudos Políticos, Étnicos e Nacionais I. F. Kuras da Academia das Ciências da Ucrânia.
2 comentários:
Hum... isso tá me parecendo que esses "estudo" tem a intenção mesmo é de criar culto a personalidade.
Bem, eu não acompanho o seu blog desde o início, não sei se vc já falou sobre ela, mas uma das maiores escritoras brasileiras era ucraniana, Clarice Laspector (esse nome era literário). Será que existe livros dela traduzidos para o ucranino?
Outro ucraniano proeminente no Brasil foi o jornalista Vladimir Herzog. Ele foi assassinado pela ditadura militar brasileira.
No campo da arte, vc poderia falar um pouco sobre o famoso arquiteto ucraniano que é chamado de o Gaudí da Ucrania?
Clarice Laspector: sim, já escrevemos sobre Clarice (Khaya) Lispector, não me parece que alguma obra sua foi traduzida para ucraniano.
Sobre Vladimir Herzog não escrevemos nada, esperamos que ele não era um comunista totalitário.
Como se chamava o tal famoso arquiteto ucraniano chamado de “Gaudí da Ucrânia”?
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