TIRADENTES (MG) – Com as chuvas já mais calmas, ao menos nas redondezas de Tiradentes, a 15ª edição da Mostra de Cinema, que toma até o próximo sábado a histórica cidade mineira, correu tranquila do ponto de vista da estrutura, mas com bastante emoção pela perspectiva das homenagens e da celebração dos 15 anos do evento.
por: LUIZ JOAQUIM
Não há, talvez, melhor retrato do sucesso desta Mostra, que promove o cinema brasileiro contemporâneo e a vertente mais ousada de sua linguagem, que a imagem das mil cadeiras na praça do Largo das Forras completas de espectadores para ver um filme como “Iván: De Volta ao Passado”, do paranaense Guto Pasko.
“Sua primeira exibição nacional não podia ser em melhor lugar”, lembrou Pasko no sábado à noite, referindo-se ao ambiente histórico que possui Tiradentes. Isto porque o documentário acompanha o retorno a Ucrânia de Iván Bojko, 91 anos, que reside em Curitiba. Entre sua saída para o Brasil, fugindo da 2ª Guerra Mundial, e este retorno promovido pela produção do filme, foram 68 anos de distância.
Um tanto `quadrado` pela óptica de sua estrutura, o documentário vai, entretanto, ganhando o espectador aos poucos. Seja pela figura absolutamente humilde e cativante do sofrido Iván, seja pela paisagem geográfica e humana que o filme vai desvelando ao chegar na Ucrânia de hoje. Há, é claro, o apelo dramático do reencontro de Iván com os amigos da juventude, com a irmã da qual havia perdido contacto, da chegada na Igreja que frequentava e na casa que viveu na infância e que ajudou a construir ao lado do pai.
“De Volta ao Passado” procura evitar a emoção fácil, e consegue, uma vez que todo o sofrimento mostrado pelo humilde Iván a todas estas situações são autênticas. O filme abre portas também para o espectador repensar nos efeitos da Guerra, quando dizima a cultura de um povo, em particular a da Ucrânia, primeiro vilipendiada pelos soviéticos e depois pela Alemanha.
Mas o maior valor do documentário talvez seja mesmo abrir nossa cabeça para a potência de como um homem pode carregar solitária e resignadamente por quase 70 anos um amor pela sua terra e sua família. Iván Bojko faz pensar também na fugacidade da vida, e na desimportância dela se, na velhice, não tivermos ninguém para escutá-la e repassá-la.
Foto ©Leo Lara/Universo Produção 21.01.2012
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