A CNN mostrou estes dias uma conversa entre o seu jornalista e um soldado georgiano, que disse com algum cansaço, mas com muita calma: “pode dizer ao mundo, que o exército georgiano não se vai render”. O homem não era nenhum super – herói, era baixinho e aparentemente não era fã de musculação. Mais tarde, o Presidente Saakashvili disse o mesmo numa entrevista telefónica directa para a CNN: “A Geórgia nunca se renderá, nós nunca se renderemos! Porque a democracia é mais forte que todas as bombas e todas as armas deles. Nos vivemos 70 anos sobre o comunismo e não queremos mais”.
A imprensa internacional continua sem conseguir responder uma pergunta muito simples. Como “cidadãos russos” apareceram na Ossétia do Sul? O Kremlin diz que está lá para defender os seus cidadãos, como é obrigado pela constituição, mas ninguém explica como estes cidadãos lá pararam. E a resposta é simples: os passaportes russos foram larga e generosamente distribuídos, exactamente para um momento destes. Quando um país soberano decidir acabar com o banditismo e o separatismo dentro das suas fronteiras, de repente, é confrontado com uma realidade “paralela”, todos os bandidos, todos os “fora da lei”, todos os separatistas são cidadãos de um país estrangeiro. E a prisão de qualquer ladrão, violador ou salteador pode ser vista como “genocídio” e “crime da guerra” pelo país... vizinho.
Não se sabe ao certo qual é o objectivo principal do Moscovo no caso da Geórgia. E os cenários vão do mau ao muito mau. Provavelmente o Kremlin pretende derrubar o Presidente Saakashvili, pondo como a condição para negociar a paz, a sua demissão. Eles podem até tentar matar o Presidente georgiano, como já aconteceu em 1994 com o primeiro Presidente da Geórgia independente, Zviad Gamsahurdia. Podem tentar convencer o mundo que Presidente Saakashvili cometeu o “genocídio”, é para isso que Moscovo enviou a Tshinvali (capital separatista), uma equipa de 150 “peritos”, cuja missão é reunir as “provas” de tais actos “genocidários”. A Rússia já começou a falar sobre os “operativos” da Geórgia, que alegadamente pretendiam cometer os actos de sabotagem na Rússia (algo semelhante foi feito em 1999, quando os guerrilheiros chechenos foram acusados em explodir alguns edifícios nos blocos residenciais russos). Neste cenário mau, os tanques russos até podem atacar a cidade de Tbilisi e talvez por isso o exército georgiano está tentar reforçar as defesas da capital. Se este cenário se tornar a realidade, será quase o fim da Europa pós – queda do murro de Berlim, pois significará que a Rússia pretende restaurar o império soviético, retomando o controlo sobre uma grande parte da ex – URSS, com pequenas excepções dos Estados Bálticos, talvez a Galiza ucraniana e algumas teocracias da Ásia Central.
No cenário menos mal, a Rússia irá ocupar uma zona – tampão entre a Geórgia e as zonas separatistas de Ossétia do Sul e Abecásia, obrigando o Presidente Saakashvili comprometer-se a não poder aproximar-se daquela região. O Moscovo usará como padrão as práticas de Israel e quando for chamado a razão, irá justificar-se: “Se o Israel pode, nós também podemos”. Assim como já declarou Konstantin Kosachev, um dos responsáveis da Duma (Câmara baixa do parlamento russo), na entrevista à jornalista da CNN, Fionula Swinney: “Nos não iremos bombardear o Tbilisi, como a NATO bombardeou o Belgrado”. Infelizmente não há muita coisa a dizer, lembro que na altura achava que o bombardeamento do Belgrado e das infra – estruturas sérvias era um grande erro. Agora este erro é usado com algum sucesso para justificar a agressão contra a Geórgia.
No momento, quando escrevo estas linhas, sabe-se que o exército russo capturou a cidade de Gori, que está no território genuinamente georgiano, fora da zona de conflito da Ossétia do Sul. Kremlin nega as tais acusações, mas ninguém poderá acreditar que os separatistas da Ossétia, ainda ontem esmagados pelo exército da Geórgia, hoje podem ter a tal capacidade combativa.
Parece que a Europa e os EUA enganaram outra vez os georgianos (e vão enganar todos, aqueles que neles confiaram), ninguém vai defender a Geórgia, ninguém vai mexer uma palha, para parar a ofensiva militarista russa. Os únicos soldados com quais a Geórgia poderá contar, são as suas tropas estacionadas no Iraque e no Afeganistão. E com alguma solidariedade internacional, que nestas coisas de guerra, não valem lá muita coisa...
P.S. Parece que as coisas já não estão tão más para a Geórgia, como eu previa no pior cenário: a) Angela Merkel já disse que a entrada da Geórgia na NATO não é uma questão “se”, mas uma questão “quando”. b) Richard Holbrooke já falou publicamente sobre as limpezas étnicas contra as populações georgianas; c) Human Right Watch já desmentiu a informação sobre os 2.000 mortos na Ossétia do Sul, informando que entre o dia 6 até o dia 12 de Agosto (após a ofensiva georgiana cessar), no hospital de Tshinvali deram entrada 273 feridos e 44 mortos. Entre militares e civis, com uma grande predominação dos militares.
Não se sabe ao certo qual é o objectivo principal do Moscovo no caso da Geórgia. E os cenários vão do mau ao muito mau. Provavelmente o Kremlin pretende derrubar o Presidente Saakashvili, pondo como a condição para negociar a paz, a sua demissão. Eles podem até tentar matar o Presidente georgiano, como já aconteceu em 1994 com o primeiro Presidente da Geórgia independente, Zviad Gamsahurdia. Podem tentar convencer o mundo que Presidente Saakashvili cometeu o “genocídio”, é para isso que Moscovo enviou a Tshinvali (capital separatista), uma equipa de 150 “peritos”, cuja missão é reunir as “provas” de tais actos “genocidários”. A Rússia já começou a falar sobre os “operativos” da Geórgia, que alegadamente pretendiam cometer os actos de sabotagem na Rússia (algo semelhante foi feito em 1999, quando os guerrilheiros chechenos foram acusados em explodir alguns edifícios nos blocos residenciais russos). Neste cenário mau, os tanques russos até podem atacar a cidade de Tbilisi e talvez por isso o exército georgiano está tentar reforçar as defesas da capital. Se este cenário se tornar a realidade, será quase o fim da Europa pós – queda do murro de Berlim, pois significará que a Rússia pretende restaurar o império soviético, retomando o controlo sobre uma grande parte da ex – URSS, com pequenas excepções dos Estados Bálticos, talvez a Galiza ucraniana e algumas teocracias da Ásia Central.
No cenário menos mal, a Rússia irá ocupar uma zona – tampão entre a Geórgia e as zonas separatistas de Ossétia do Sul e Abecásia, obrigando o Presidente Saakashvili comprometer-se a não poder aproximar-se daquela região. O Moscovo usará como padrão as práticas de Israel e quando for chamado a razão, irá justificar-se: “Se o Israel pode, nós também podemos”. Assim como já declarou Konstantin Kosachev, um dos responsáveis da Duma (Câmara baixa do parlamento russo), na entrevista à jornalista da CNN, Fionula Swinney: “Nos não iremos bombardear o Tbilisi, como a NATO bombardeou o Belgrado”. Infelizmente não há muita coisa a dizer, lembro que na altura achava que o bombardeamento do Belgrado e das infra – estruturas sérvias era um grande erro. Agora este erro é usado com algum sucesso para justificar a agressão contra a Geórgia.
No momento, quando escrevo estas linhas, sabe-se que o exército russo capturou a cidade de Gori, que está no território genuinamente georgiano, fora da zona de conflito da Ossétia do Sul. Kremlin nega as tais acusações, mas ninguém poderá acreditar que os separatistas da Ossétia, ainda ontem esmagados pelo exército da Geórgia, hoje podem ter a tal capacidade combativa.
Parece que a Europa e os EUA enganaram outra vez os georgianos (e vão enganar todos, aqueles que neles confiaram), ninguém vai defender a Geórgia, ninguém vai mexer uma palha, para parar a ofensiva militarista russa. Os únicos soldados com quais a Geórgia poderá contar, são as suas tropas estacionadas no Iraque e no Afeganistão. E com alguma solidariedade internacional, que nestas coisas de guerra, não valem lá muita coisa...
P.S. Parece que as coisas já não estão tão más para a Geórgia, como eu previa no pior cenário: a) Angela Merkel já disse que a entrada da Geórgia na NATO não é uma questão “se”, mas uma questão “quando”. b) Richard Holbrooke já falou publicamente sobre as limpezas étnicas contra as populações georgianas; c) Human Right Watch já desmentiu a informação sobre os 2.000 mortos na Ossétia do Sul, informando que entre o dia 6 até o dia 12 de Agosto (após a ofensiva georgiana cessar), no hospital de Tshinvali deram entrada 273 feridos e 44 mortos. Entre militares e civis, com uma grande predominação dos militares.
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