Quando escrevo estas linhas, já se sabe que os territórios separatistas da Geórgia: Abecásia e Ossétia do Sul foram reconhecidos pelas duas câmaras do parlamento russo e pelo presidente Medvedev.
O mercado bolsista russo respondeu a notícia com uma queda acelerada dos índices dos fundos russos, o índice RTC baixou em 6,06 pontos percentuais e o índice MMVB baixou em 4,92%, informou a Gazeta.Ru.
Quem é quem na Ossétia do Sul?
Geralmente os jornalistas ocidentais repetem a sentença sobre a “defesa dos cidadãos russos na Ossétia”. Ainda não vi ninguém perguntar como estes cidadãos foram lá parar. Mas se fossem apenas os cidadãos...
O chefe do KGB da Ossétia do Sul é Anatoliy Baranov, o ex – chefe do FSB da Mordóvia, o chefe do Ministério do Interior Mikhail Mindzaev é o ex – chefe do MINT da Ossétia do Norte (Rússia), o Ministro da Defesa Vasiliy Lunev – é o ex – comissário militar da cidade siberiana de Perm, o secretário do Conselho da Segurança Anatoliy Barankevich – é o ex – vice – comissário militar da província de Stavropol. O primeiro – ministro é um russo étnico, Yuri Morozov. Único ossetino é o presidente Eduard Kokoity.
(Extraído de Yulia Latynina, 8 de Agosto, em Jornal Diário)
A maquina de fazer o dinheiro
Apenas o novo gasoduto que deverá fornecer o gás aos cerca de 7.000 moradores de Tshinvali custou 570 milhões de USD. Moscovo, alegadamente, providencia um orçamento – sombra de defesa de aproximadamente 800 milhões de USD, paga os salários e pensões de 80.000 cidadãos. Embora apenas cerca de 30.000 pessoas “de facto” residem na Ossétia, outros, na procura de trabalho mudaram-se para a Rússia.
A cidade de Tskhinvali*
Em 1886 os judeus georgianos (hebraeli), eram o grupo étnico principal dos moradores de Tshinvali, 1953 pessoas no total; georgianos – 1135; arménios – 744. Os ossetas não viviam na cidade.
Dados de 1917: judeus — 38,4%; georgianos — 34,4%; arménios — 17,7%; ossetas — 8,8%.
1926: georgianos — 33%; judeus — 30,4%; ossetas — 19,8%; arménios — 14,2%; russos – 2%.
1959: ossetas — 57,4%; georgianos — 21,5%; russos – 7,3%; arménios — 4%; judeus — 0,2%.
1989: ossetas — 66,2%; georgianos — 29%; russos – 2,2%; arménios — 1%; azeris – 0,1%, outras nacionalidades — 1,5%.
(* Extraído de: Tshinvali 122 anos atrás)
Quando se fala sobre os bombardeamentos de Tshinvali, é preciso perceber o que é Tshinvali. Dos três lados a cidade é cercada pelas aldeias georgianas, último prédio da cidade é um ponto fortificado. Da cidade dispara-se sobre as aldeias georgianas, os georgianos repostam aniquilando os atiradores. Para que os georgianos não disparem sobre a cidade, basta mandar avançar os atiradores uns cem metros para frente. Mas é a essência do princípio terrorista, você cria focos de resistência nas áreas civis, quando outros disparam sobre você, você traz os corpos das suas crianças até as câmaras televisivas.
A especulação sobre a tragédia **
O blogger russo conhecido no Live Journal pela alcunha de Grend, voltou recentemente da Ossétia do Sul (18.08), onde trabalhou como consultor para ONG Human Right Watch. Eis a sua história.
Cruzei a pé praticamente toda a cidade de Tshinvali (4,5 km x 2 km). Falando dos factos: realmente muitos edifícios foram destruídos e danificados, no entanto as vítimas mortais não são 1.500 – 2.000 pessoas, mas cerca de 70 (registados até agora, mais de metade são os milicianos). Feridos – cerca de 300, praticamente todos eles neste momento se encontram na Rússia. Refugiados não são 30.000 – 35.000, mas ⅓ deste número. E a maioria saiu da cidade antes de 7 de Agosto (início dos combates na cidade). Obviamente que estes números não são finais, mas as grandezas são estas.
Por isso os gritos sobre genocídio (da Geórgia) e catástrofe humanitária – é uma mentira deliberada. Os números sobre as vítimas e destruições são do conhecimento quer das autoridades da Ossétia, quer das russas.
Como consegui perceber, o plano táctico do exército georgiano em Tshinvali era este: através dos bombardeamentos massificados pelos GRAD (sistemas de lançamento simultâneo dos mísseis, primeira classificação da NATO: M1964), obrigar a população civil esconder-se nas caves. Dispersar o exército da Ossétia do Sul (praticamente sem nenhum poder combativo real) e ocupar a cidade. O plano resultou quase na totalidade, se não for a interferência do exército russo.
Não foram registados os casos de humilhações sistemáticas das populações civis da cidade de Tshinvali pelo exército da Geórgia (no dia 10 de Agosto foi registado o incidente que envolvia as mulheres, mas tudo acabou com umas puxadas de cabelos).
As mulheres do distrito de Leningorski contaram o que os soldados georgianos fizeram com um miliciano (preso com a arma nas mãos!): confiscaram a metralhadora, bateram, partiram uma costela e o libertaram. Realmente é um genocídio. Rasgaram todos os passaportes russos que encontraram (moradores de Tshinvali possuem dois – três passaportes: georgiano, russo e da Ossétia do Sul).
Por outro lado, usar o sistema GRAD para disparar contra os bairros habitacionais é demais. Mas saber ao certo quem fiz isso é bastante complicado. Na noite de 7 para 8 de Agosto, com certeza foram georgianos, após disso, não se sabe. O exército russo tem sistemas GRAD e até a Ossétia do Sul possui 06 unidades (04 funcionais).
Visitei a aldeia de Khetagurovo. A localidade sofreu: na parte sul várias casas destruídas, morreram uns 15 – 17 pessoas, na sua maioria – milicianos. Em geral, a situação lá é confusa: na noite de 7 para 8 de Agosto aldeia foi bombardeada pelos georgianos, na manha do dia 8 foi ocupada pelo exército da Geórgia. Mas na segunda metade do mesmo dia os georgianos saíram, vendo o avanço do exército russo. Os russos entraram na tarde do dia 8 sem receber a resistência, mas também acabaram por sair. Na noite de 8 para 9 a parte sul da aldeia foi severamente bombardeada pelos GRAD, com os disparos vindos da direcção de Tshinvali. Na manha do dia 9 chegaram os georgianos, foram muitíssimo surpreendidos pelo que viram, perguntando um velhote local: “Precisa de alguma ajuda?”
Os saques em Kehvi, Achaveti do Cima, Achaveti do Baixo e Tamarasheni foram controlados pelos russos no dia 13 de Agosto, quando eles bloquearam a estrada. Os russos comportam-se muito bem, eu vi pessoalmente um osseto que estava literalmente asfixiar o tenente – coronel russo (exigia a passagem para um corta – mato), o oficial russo até cruzou as mãos atrás das costas.
Uma parte da imprensa russa (que está trabalhar no terreno), ou enlouqueceu na base do patriotismo ou está se transformando em moços de recados das autoridades da Ossétia do Sul. Uma criatura com cabelos longos da televisão NTV tentava verificar os meus documentos e ameaçava “informar a quem do direito”. Os rapazes e meninas que são normais e entendem tudo, sentam-se embaraçados, mas concordam silenciosamente com a ordem estabelecida. O canal (de televisão de expressão inglesa) “Russia Today” pede a qualquer pessoa que encontrar “contar uns horrores” para as suas filmagens – “é, pá, entende – lá, os chefes exigem de nós”.
Foi ver as filmagens dos jornalistas georgianos e fiquei com a inveja, eles estão viver e trabalhar nos arredores de Gori como antigamente, tudo é real.
** Ler a história completa do Grend sobre a sua viagem à Tshinvali
Na primeira foto: o chefe dos separatistas, Eduard Kokoity bebe 3 litros de vinho para comemorar a independência do território, © AP Photo/Dmitriy Lovecki/Scanpix
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