Discutindo a II G.M.,
muitas vezes somos confrontados com os seus modelos simplistas. Uns invariavelmente
são heróis e vítimas, outros carrascos, traidores e criminosos. Mas a vida é
muito mais interessante e rica do que os clichés. Entre os ucranianos e judeus
podemos encontrar aqueles que serviram os ocupantes estrangeiros, as vítimas
inocentes e aqueles que lutaram pela independência ucraniana.
por: Volodymyr
Vyatrovych, historiador
O veterano do Exército
Insurgente Ucraniano (UPA), judeu Mandyk Khasman vive na província de Volyn, um
dos redutos da resistência ucraniana contra diversos invasores estrangeiros. Os
arquivos do NKVD não mencionam o seu nome, pois jovem Volodymyr Dmytrenko,
preso pelo NKVD em 1945 não revelou as suas atividades ou a origem étnica…
Mandyk (Mendel) nasceu em 11 de
outubro de 1929, penúltima criança do Jisik (Djisik), chamado pelos vizinhos
ucranianos de Djysko e da Carolina Khasman. Teve três irmãs, Ginda, Hana e Frida
e três irmãos Itzik, Idol e Savik. A sua família não diferia muito dos vizinhos
ucranianos ou polacos, no dia-a-dia se falava ucraniano e polaco.
Na I G.M., Jisik Khasman
serviu no exército austro-húngaro, acabou a guerra com patente do capitão.
Depois da guerra ganhava o sustento transportando os passageiros numa carroça,
uma espécie de táxi da época. A família não era rica, mas não passava as
necessidades. Os Khasman viviam entre os ucranianos, Mandyk os recorda com
ternura.
A vida calma da Galiza
ucraniana foi perturbada em 1939. A queda da Polônia e a chegada do regime
soviético se intrometeram na vida dos Khasman: uma das irmãs casou com oficial
soviético, outra foi aprender a enfermagem. Mais tarde isso salvou Hana e Ginda
da perseguição nazi, a enfermeira foi mobilizada para o exército soviético,
outra foi evacuada para o Leste. O resto da família ficou na cidade e acabou no
gueto de Drohobych. Frida foi presa pelos nazis e enviada para Auschwitz.
No verão de 1942 os
nazis começaram a liquidação do gueto. Jisik, Carolina, Itzik e Idol Khasman
foram fuzilados. Num intervalo que os assassinos aproveitavam para descansar,
Mandyk levou o irmão Savik e a prima Kaili e fugiu. A sua corregem explica de
maneira simples: “Apenas queria viver”.
Conseguiram chegar até
a Volyn, onde se escondiam entre as famílias ucranianas. Mandyk se batizou e
escolheu um novo nome: Volodymyr Dmytrenko. Fugindo das rusgas nazis, que
levavam os jovens ucranianos aos trabalhos forçados na Alemanha, Mandyk decidiu
se juntar ao UPA, assim aos 14 anos ele se torna um insurgente ucraniano.
Quando o perguntam se
não tinha medo dos nacionalistas ucranianos, Khasman responde: “O bom-troco
levavam os delatores, diversos traidores, independentemente da sua
nacionalidade”. No UPA Mandyk cuidava dos cavalos, se tornou o “condutor” dos
diversos comandantes da guerrilha.
Nos anos 1943-1944
participava nos combates contra os alemães e polacos. UPA atacava as guarnições
dos nazis, destruía as suas comunicações. Khasman tinha uma pistola polaca,
sempre com falta de munições. Na primavera de 1944, juntamente com a centena do
comandante “Khoma”, Mandyk participou na defesa das aldeias ucranianas contra a
ofensiva da guerrilha anticomunista polaca, Armia Krajowa.
Além da preparação
militar, Khasman recebeu o preparo ideológico, até hoje consegue citar o
“Decálogo do Nacionalista Ucraniano”, desde sempre honrou a sua tese principal:
“Obterás o Estado ucraniano ou morrerás lutando por ele”. Mandyk adora cantar as canções insurgentes.
Na primavera de 1944 a
ocupação nazi da Volyn foi substituída pela ocupação soviética. Por isso no
verão de 1945 UPA se divide em pequenas unidades móveis que continuam a luta.
No inverno do mesmo ano Khasman é ferido em combate (uma rajada da metralhadora
atingiu as duas pernas) e preso pelo NKVD. Nos interrogatórios o batiam sem
piedade, mas Mandyk, alias Volodymyr Dmytrenko, sempre dizia o mesmo: no UPA se
escondia dos nazis, tratava dos cavalos deles. Sendo menor, nove meses mais
tarde foi libertado.
Mandik ficou a viver na
Volyn, aqui se casou, em 1949 foi mobilizado para o Exército soviético. Cumpriu
o serviço militar no Extremo Oriente, onde a contrainteligência militar soviética o obrigou
a confessar o verdadeiro nome e a origem étnica. Voltando para Volyn, 35 anos
Mandyk trabalhou numa mina. Desde 1991 serve ativamente na Irmandade Ucraniana
dos Veteranos da OUN-UPA. Como a maioria dos seus companheiros não recebeu nenhuma
distinção oficial do estado ucraniano. “Poder ucraniano não gosta dos
seguidores do Bandera”, diz Khasman.
As organizações
judaicas também não reconheceram os sacrifícios do Mandyk. Eles recordam os
judeus que lutaram contra os nazis nas unidades da Armia Krajowa e Armia Ludowa,
Exército Vermelho ou partisanes comunistas. Os veteranos do UPA por enquanto continuam
no esquecimento.
Fonte:
http://www.istpravda.com.ua/articles/2011/06/8/41955
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