segunda-feira, dezembro 13, 2010

Wikileaks e Ucrânia

Ucrânia é mencionada em 8 das 278 comunicações das embaixadas americanas vazadas até agora e Holodomor é mencionado duas vezes no período dos últimos dois anos.

por: Stephen Bandera *

No fim de Outubro de 2008, a embaixadora dos EUA no Kyrgistão, Tatiana Gfoeller estava presente em um lanche em Bishkek com o príncipe Andrew da Grã-Bretanha, nas vésperas do encontro entre o príncipe e o governo kyrgis. Muitos assuntos foram discutidos e o príncipe revelou a história que foi lhe contada pelo presidente do Azerbeijão, Ilham Aliyev:

...." [Príncipe Andrew] declarou que essa história foi lhe relatada recentemente pelo presidente do Azerbeijão [Ilham] Aliyev. Aliyev recebeu a carta do presidente Medvedev, dizendo que se Azerbeijão apoiar no seio da ONU a definição da fome artificial bolchevique na Ucrânia como o “genocídio”, então “poderá esquecer Nagorno-Karabakh para sempre.” Príncipe Andrew adicionou, que todos os outros presidentes da região lhe disseram que receberam as cartas “directivas” semelhantes, vindas do Medvedev, excepto Bakiyev. Ele perguntou Embaixadora se Bakiyev tinha recebido algo similar. A Embaixadora respondeu que não tem o conhecimento sobre nenhuma carta deste tipo.”....

Mais recentemente, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov discutiu Holodomor com o seu homólogo israelita Avigdor Lieberman, quando os dois se encontraram em Moscovo no início de Junho de 2009, de acordo com a comunicação da embaixada dos EUA em Moscovo:

...."Lavrov falou da preocupação russa como o “revisionismo histórico” do passado soviético e da II G. M., que, ele disse, é particularmente agudo na Europa Oriental, mas também é presente em Israel. Ele citou o reconhecimento oficial pelo Israel do Holodomor, a fome dos anos 1930, ocorrida na Ucrânia. Lieberman explicou que reconhecendo essa tragédia, Israel não disse que a Rússia é culpada por causa-la, nem (reconheceu) que isso foi um acto do genocídio."....

Lieberman provavelmente não leu o ensaio do Raphael Lemkin sobre o genocídio soviético na Ucrânia. Lemkin era o jurista judeu que viveu na Polónia nas proximidades com a fronteira da Ucrânia Soviética durante os anos de Holodomor; ele também é o homem que é conhecido por cunhar o termo “genocídio”.

Além disso, Israel deixou de se interessar por essa história. Pelo menos, essa é a mensagem que o presidente israelita Shimon Peres recentemente deixou na Ucrânia, discursando em um fórum público:

Se me perguntarem que conselho dar a Ucrânia, eu diria: esquecem a história, a história não é importante... vocês não serão capazes de evitar os erros do passado, vocês simplesmente cometerão os novos,” cita o blogue Ucrânia – Moçambique.

Porque o presidente russo ameaçou os líderes dos estados do espaço pós – soviético com as consequências terríveis, se eles reconhecerem Holodomor como genocídio? Porque o ministro russo dos Negócios Estrangeiros discutiu a mesma matéria com o seu homólogo israelita?

Ucrânia nunca acusou a Rússia, como estado, de nada, de facto o tribunal ucraniano estabeleceu a culpa dos sete organizadores da fome, liderados pelo José Stalin: dois russos, dois judeus, um georgiano, um polaco e um ucraniano.

Então, porque a Rússia ficou tão irritada com a campanha do Presidente Victor Yushchenko do reconhecimento do Holodomor?

Uns podem argumentar que (Ucrânia) poderia exigir da Federação Russa as reparações financeiras, na qualidade de sucessora legal da URSS, se a comunidade internacional reconhecer o genocídio (tal como Alemanha paga pelo Holocausto).
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Se argumentaria também que Rússia não se importa em pagar, é mais preocupada em perder a face.

Outros argumentarão que a narrativa ucraniana do Holodomor e qualquer outra narrativa histórica independente da Rússia é inaceitável, pois minaria os planos da Rússia de restabelecer a hegemonia.

A Rússia deseja não apenas que Ucrânia faça parte do Espaço Económico Comum, mas quer ver todas as repúblicas ex-soviéticas como parte do Espaço Histórico Comum. (O Espaço Religioso Comum e o Mundo Russo do Patriarca Kiril fazem parte do plano, mas é um outro assunto).

Ali não haverá o espaço para o Holodomor ucraniano único, na experiência comum partilhada da União Soviética. A Colectivização só poderá (existir como) a tragedia comum compartilhada por todas as pessoas da Grande Pátria (como por exemplo a Grande Guerra Patriótica em vez de II G. M.).

Moscovo apenas não conseguiria obter isso de outra maneira, o que foi demonstrado pelo Wikileaks. Isso faz do Holodomor e outros eventos do passado mais do que apenas a história longínqua: isso é a geopolítica do futuro muito próximo.

* Stephen Bandera é o repórter e o antigo jornalista do Kyiv Post, ele também mantém um blogue na Internet kyivscoop.blogspot.com
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** O título do artigo é da responsabilidade do blogue Ucrânia em África.

Fonte (em inglês)

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