A Ucrânia irá comemorar no dia 26 de Novembro, o Dia da memória das vitimas da Grande Fome e das repressões políticas, recordando as pessoas que morreram durante o Holodomor – Grande Fome artificial, que abateu-se sobre a Nação em 1932-33.
Causas da Grande Fome: A primeira fome de caracter artificial, castigou a Ucrânia em 1921, depois da ocupação do país pelo exército da Rússia bolchevique e de liquidação do Estado ucraniano, em 1919. A fome sentiu-se em províncias do Sudeste da Ucrânia: Zaporizhia, Donetsk, Katerynoslavl (Dnipropetrovsk), Mykolaiv e Odessa. As suas principais causas eram: a prática agriculta socialista, diminuição dos campos cultivados em consequência das políticas do “comunismo militar”, as directrizes compulsivas do Partido – Estado, que dividia os recursos alimentares existentes, favorecendo os grandes centros urbanos, em primeiro lugar, fora da Ucrânia.
A Grande Fome de 1932 – 33, que afectou todas as regiões da Ucrânia, tinha as raízes basicamente políticas, era o resultado do acto voluntário do poder político da URSS, um genocídio em forma da fome artificial, dirigido directamente contra a Nação ucraniana.
O extermínio em massa dos camponeses ucranianos, através da Grande Fome, foi um acto do terror direccionado, vindo de todo o sistema político da URSS, contra a população civil, que tive como consequência o desaparecimento de não apenas da uma classe dos camponeses auto-suficientes e prósperos, mas algumas gerações do campesinato. Foram destruídas as bases sociais da nação ucraniana, as suas tradições, a sua cultura e a sua peculiaridade.
O historiador americano, James Meis, que dedicou-se ao estudo da Grande Fome, escreveu: “A colectivização compulsiva foi a tragédia de toda a sociedade soviética, mas para os ucranianos isso foi uma tragédia particular. Em consequência da destruição de facto das elites urbanas, ela (colectivização) significava a sua destruição como um organismo social e factor político”.
Analisando cerca de 30 Directrizes, publicadas nos anos 1929 – 30, pelo Comité Central do Partido Comunista da URSS e da Ucrânia Soviética, Conselho dos comissários do povo da União e Ucrânia Soviética, podemos facilmente perceber que a Grande Fome de 1932 – 33 foi uma acção construída e planeada! Os documentos demostram, que nestes anos, a Ucrânia não tinha a carência do trigo e de outros cereais, mas estes cereais foram retirados à força.
Os documentos do Bureau Político do Comité Central do Partido Comunista da Ucrânia demostram que no Outono de 1932, os comboios especiais retiravam vários produtos alimentícios, para fornecer a alimentação às grandes centros urbanos da Rússia, para as festas do aniversário da Revolução Bolchevique, celebrada em Novembro. Da Ucrânia retirava-se não apenas o trigo, impossibilitando a semeadura futura, mas até os conservas de pepinos, couve, tomates, deixando as pessoas morrer da fome.
Em 1932 o Governo soviético proíbe qualquer comércio alimentar nas zonas rurais, o abastecimento alimentar destas zonas é “interrompido temporariamente”, qualquer uso do pão como moeda do pagamento era sentenciado com a ordem da prisão de 10 anos ou fuzilamento (nas zonas que não entregassem todo o pão requisitado pelo Governo central).
Consequências da Grande Fome: Os historiadores e especialistas em demografia até hoje não conhecem os números exactos das pessoas que morreram em consequência da Fome, fala-se entre 3 à 10 milhões de vitimas mortais! Usando como a base o Censo populacional da Ucrânia de 1937 e contando com os envenenamentos por alimentos impróprios (pessoas comiam raízes silvestres), suicídios, repressões, actos de canibalismo e todo o colapso social, podemos chegar a conclusão, que as perdas da Ucrânia em população foram de pelo menos 7 milhões de pessoas.
A catástrofe nacional da fome, que durou dois longos anos e castigou uma nação de 40 milhões de habitantes, tinha a causa não natural, mas criada pelo homem. A marca, deixada pela Grande Fome na Ucrânia, entra na linha das outras tragédias que o povo ucraniano suportou no século XX: guerra civil e fome de 1921 – 23, repressões comunistas de 1937 – 38, II Guerra Mundial e ocupação nazi, fome de 1946 – 47. Mas as consequências humanitárias da Grande Fome não podem ser comparadas com mais nada! Na sua direcção anti – ucraniana e na amplitude do uso, a Grande Fome foi o principal arma de destruição em massa e do escravidão social do campesinato ucraniano, usada pelo o regime totalitário soviético na Ucrânia.
[Pelos cálculos dos especialistas em demografia franceses, uma das consequências directas da Grande Fome na Ucrânia é o não nascimento de cerca de 1 milhão de crianças. (Os registos cíveis da época, foram interditos pelo Estado soviético de registrar as mortes das crianças com idades inferiores a 1 ano). Ainda, já que neste período, morriam em primeiro lugar as crianças e os jovens, os cientistas chegaram a conclusão, do que a esperança média da vida entre os ucranianos em 1933 era de 7,3 anos para os homens e 10,9 para as mulheres. Algo, até então nunca visto em toda a historia da humanidade! (Fonte: Agência de informação Media International Group, 27.11.2003)]
Reacção da comunidade internacional sobre a Grande Fome: os países estrangeiros sabiam da existência e da amplitude da fome na Ucrânia, informados pelos seus consulados de Kyiv, Odessa e Kharkiv. O Governo da Ucrânia no exílio, sediado em Paris (França) e encabeçado pelo Professor Oleksander Shulgin, informava sobre os acontecimentos terríveis na Ucrânia a Liga das Nações, a Cruz Vermelha Internacional, as organizações comerciais. Mas os políticos e empresários ocidentais observavam a tragédia ucraniana calados, ou pior ainda, não reparavam a sua existência, iludidos pela maquina poderosa da propaganda estalinista. Podemos citar o Primeiro – Ministro da França Eduard Errio, o escritor britânico Bernard Shaw ou o correspondente do “New York Times” em Moscovo Walter Duranti, que pura e simplesmente negava a existência da fome na Ucrânia.
[Temos que admitir, que o próprio termo “genocídio” foi introduzido no campo do direito internacional apenas no dia 11 de Dezembro de 1946, através da uma resolução da ONU que determina: “Genocídio é crime, condenado pelo mundo civilizado e pela prática do qual, os seus principais responsáveis devem ser castigados”. Às 9 de Dezembro a Assembleia Geral da ONU votou unanimemente a “Convenção sobre prevenção do crime do genocídio e o seu castigo”, que entrou em vigor a 12 de Janeiro de 1951].
A Diáspora ucraniana nos EUA, conseguiu que o Congresso americano criasse uma comissão do inquérito, encabeçada pelo Senador James Meis, que classificou mais tarde a Grande Fome na Ucrânia de 1932 – 33 como genocídio. Uma outra Comissão internacional, encabeçada pelo Professor Sandberg do Instituto do Direito Público Internacional (Suécia), foi criada nos anos oitenta. Em Novembro de 1989, a Comissão do Sandberg publicou o seu veredicto, identificando as causas directas da Fome: armazenamento do trigo em excesso. Por sua vez, como condições previas da Grande Fome foram identificadas: colectivização compulsiva, a política das nacionalizações no campo e o desejo do governo soviético de esmagar “o nacionalismo tradicional ucraniano”. Os juristas identificaram nesta Grande Fome, o desejo claro do Kremlin em definir a segmento nacional do terror. Outra vez, a Grande Fome na Ucrânia foi classificada como genocídio.
Nesta óptica, decorreram as comemorações do 70-ssímo aniversario da Grande Fome em 2003. O seu início foi dado pela secção especial da Varkhovna Rada (Parlamento Ucraniano), dedicada a memória das vitimas da Grande Fome (secção boicotada pelo Partido Comunista). Parlamento ucraniano aprovou o apelo ao povo ucraniano que dizia: “Grande Fome foi artificialmente criada pelo regime de Stalin e deve ser publicamente condenada pela sociedade ucraniana e pela comunidade internacional, como um dos maiores genocídios na história universal da Humanidade”. Em Setembro de 2003, o Presidente da Ucrânia, apelou aos participantes da 58-va secção da Assembleia Geral das ONU, para apoiarem a iniciativa ucraniana da condenação da grande Fome na Ucrânia, como acto do genocídio. Divulgado como o documento oficial da Assembleia Geral das ONU, o Comunicado conjunto das delegações – membros da ONU sobre 70-ssímo aniversario da Grande Fome na Ucrânia em 1932 – 33, pela primeira vez na história da ONU, classificou a Grande Fome de 1932 – 33 como a tragédia nacional do povo ucraniano, apresentou as condolências às suas vitimas, apelando à todos os países – membros da ONU, as organizações especializadas da ONU, organizações internacionais e regionais, FAO, fundos e associações, pagar o devido tributo à todos aqueles, que morreram neste período trágica da história.
A Declaração dizia entre outras coisas:
[Na ex – União Soviética milhões de homens, mulheres e crianças foram vitimas dos actos desumanos e da política do regime totalitário. Holodomor – a Grande Fome de 1932 – 1933 na Ucrânia, ceifou a vida de entre 7 à 10 milhões de pessoas inocentes e tornou-se a tragédia nacional para o povo ucraniano].
36 países – membros da ONU, foram co-autores desta Declaração, nomeadamente: Argentina, Azerbaijão, Bangladesh, Belarus, Benin, Bósnia e Herzegovina, Geórgia, Egipto, Irão, Kasaquistão, Canada, Qatar, Kirguisia, Kuwait, Macedónia, Mongólia, Nauru, Nepal, Emirados Árabes Unidos, Paquistão, Peru, República da África do Sul, Coreia do Sul, Moldova, Rússia, Arábia Saudita, Síria, EUA, Sudão, Tadjiquistão, Turcomenistão, Timor Leste, Uzbequistão, Ucrânia e Jamaica. A resolução foi também apoiada pela Austrália, Israel, Sérvia e Montenegro e todos 25 países – membros da União Europeia.
A Rússia, embora juntou-se a Declaração conjunta, fiz um esforço considerável para bloquear a iniciativa ucraniana de obter o reconhecimento internacional desta fome artificial. Assim, o MNE russo, manifestou por escrito a sua posição de encerrar a questão da Holodomor, considerando que “analise posterior deste tema na ONU é contraproducente”.
Ao mesmo tempo, o resto do mundo livre, produziu várias iniciativas em comemoração da tragédia, que abateu-se sobra a Ucrânia e a sua Nação, considerando a Grande Fome como acto do genocídio contra o povo ucraniano, posição defendida pelo:
Parlamento da Estónia (20 de Outubro de 1993);
Senado da Austrália (Resolução № 680 de 31 de Outubro de 2003);
Conselho Legislativo da província australiana New South Wells (Resolução de 20 de Novembro de 2003);
Senado da República da Argentina (Setembro de 2003);
Assembleia Legislativa da República da Hungria (24 de Novembro de 2003);
Director – Geral da UNESCO (16 de Dezembro de 2003).
Alem disso, o Senado da Canada apelou ao Governo canadiano para reconhecer o facto da Grande Fome de 1932 – 33 e condenar quaisquer tentativa de esconder a verdade histórica sobre o facto do que esta fome era um genocídio (19 de Junho de 2003). O documento canadiano prevê a comemoração desta data trágica, no último sábado do mês do Novembro em todas as escolas da Canada. A Câmara dos Representantes do Congresso dos EUA adaptou a resolução № 356 de 20 de Outubro de 2003 e preparou um projecto da Lei sobre a construção em Washington D.C. de um monumento em memória das vitimas da Grande Fome, no seu 75-to aniversário (em 2008).
Em várias países do Mundo, foram colocados monumentos dedicados a memória das vítimas da Grande Fome, nomeadamente em: Austrália, Áustria, Argentina, Bélgica, Estónia, Kasaquistão, Canada, Rússia (região da Tumen). Outros monumentos em Canada, EUA e Hungria serão construídos nos próximos tempos.
Discursando no plenário da Assembleia Geral da ONU, no dia 15 de Setembro de 2005, o Presidente da Ucrânia, Viktor Yuschenko disse: “Estimados lideres do mundo actual, temos a nossa capacidade de impedir as crimes contra as pessoas e contra a humanidade. Eu vós falo em nome da nação que perdeu dez milhões de pessoas por causa do Holodomor (Grande Fome) – genocídio, organizado contra o nosso povo. Naquela época, os governos de muitos dos países fecharam os olhos à nossa tragédia. Nós exigimos: o Mundo tem que saber a verdade sobre todos os crimes cometidos contra a humanidade. Apenas desta maneira nós todos teremos a certeza – indiferença nunca mais poderá compensar os criminosos”.
Agradecimentos especiais na preparação deste texto para a Embaixada da Ucrânia em Angola e pessoalmente para o Embaixador, Sua Excelência Sr. Volodymyr Lakomov.
Contacto da Embaixada:
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