A imprensa russa têm sido e continua a ser uma arma de guerra de informação (e das Relações Públicas) contra a Ucrânia. E agora, esta qualidade, que não é assim tão nova, mas sempre bem oculta, começa a ser cada vez mais evidente.
Por: Olexiy Bessarabov, «Glavred»
15.10.08 // 13:04
O desenvolvimento rápido da situação do conflito armado russo – georgiano levou à situação em que o Kremlin tropeçou. Bem preparado antecipadamente, e aparentemente sem falhas, a guerra de informação contra a Geórgia deu um erro. O conteúdo, que as mídias russas esperavam de receber dos seus militares durante a guerra era fraco e praticamente não cobriu todas as previsões e expectativas dos estrategos do Kremlin. Durante a evolução da situação, para salvar as honras da casa, a Rússia precisava dos factos que justificariam, em última instância, a agressão contra um estado soberano. E quando se tornou claro que não havia provas, as mídias tinham que mentir.
Uma directriz especial do Kremlin desencadeou a guerra de informação em larga escala contra a Ucrânia. A base de desinformação e manipulação da opinião pública foi a noção de vendas “ilegais” de armas a Geórgia e a participação dos mercenários ucranianos no conflito, ao lado de Tbilisi. Por sua vez, o principal canal de difusão e interpretação da informação “correcta” e “necessária” foram os líderes da imprensa russa. Os seus representantes tinham conhecimento prévio das histórias e acontecimentos sobre os quais deviam informar o público.
É por isso nas reportagens televisivas russas apareciam os separatistas da Abecásia, gritando “Ucrânia! Ucrânia!”, quando estes apreendiam as “armas ucranianas” no Alto do Kodori. Na reportagem de televisão do Ministério da Defesa russo, TV “Zvezda”, o locutor dizia que “na maior parte dos sistemas portáteis de defesa antiaérea os textos são escritos em ucraniano”. Mas quando foram mostradas as inscrições nas armas, efectivamente se viu que o texto era escrito em língua sérvia: «Зa извршење гађања потребно je», que significa «Para efectuar o disparo é necessário».
A imprensa russa também difundia declarações múltiplas e sem o fundamento de diplomatas e altos patentes militares sobre a participação dos ucranianos na Guerra do Cáucaso. Um exemplo é a publicação na revista militar russa “Independent Military Review”, de 19 de Setembro deste ano, do artigo sobre a visita do navio de guerra americano à Sebastopol. A missão dos navios da Marinha dos EUA no Mar Negro foi descrita assim: “O navio “Pathfinder” se atracou na área restrita da marinha ucraniana [...] Segundo a fonte próxima da marinha ucraniana, naquela noite (o navio) foi carregado com a “carga 200”, ou seja os cadáveres de instrutores militares ucranianos e os mercenários que foram mortos durante o conflito na Geórgia”.
Na realidade, o “Pathfinder” estava a participar numa expedição científica conjunta ucraniano – americana, para encontrar o navio soviético “Arménia”, que se afundou durante a II Guerra Mundial no Mar Negro. “Pathfinder” não entrou em nenhum porto georgiano, nem sequer nas águas territoriais georgianas que ficaram sob o controlo rígido da marinha russa. O ponto mais extremo da estadia do navio americano foi a zona do Cabo de Ayu-Dag, na costa sul da Crimeia, sem efectivamente ultrapassar as fronteiras marítimas da Ucrânia. Como podem ver, independentemente dos factos reais, o tema dos mercenários ucranianos foi publicado.
A primeira década do mês de Outubro marcou uma nova série de ataques contra a Ucrânia. O Moscovo apressadamente retornou ao tema do abastecimento do Tbilisi pelas armas ucranianas. O jornal russo “Izvestia”, foi o mais bem sucedido nesta operação de desinformação.
No artigo intitulado: “O presidente Yushchenko vendeu as armas a Geórgia, retirando as da prontidão combativa”, saiu no dia 1 Outubro, exactamente na véspera da reunião da Yulia Timoshenko com o primeiro – ministro russo, Vladimir Putin. O jornal “Izvestia” afirmou que “a Geórgia, desde início, tinha planeado fazer a guerra ofensiva não só contra a Ossétia do Sul, mas também contra a Rússia” e que “todas as entregas de armas a Geórgia se realizaram não só com o conhecimento, mas também com o aval directo do Viktor Yushchenko”, que “conhecia os planos de Mikeil Saakashvili de atacar a Ossétia do Sul” e até “não apenas sabia, mas também apoiava a Geórgia na agressão contra a Ossétia do Sul e como o resultado iminente, contra a Rússia”. O jornal afirma que: “agora existem as provas documentais para considerar (o Presidente) Yushchenko como cúmplice do presidente georgiano na organização do genocídio do povo da Ossétia do Sul”.
Será que essas conclusões são aleatórias? Certamente que não, porque eles se inserem na estratégia global da guerra do Kremlin no espaço da mídia. Privados de base lógica, aparentemente, eles parecem absurdas. Mas o pequeno burguês (russo e não só), não precisa de saber disso.
O “Izvestia” continua a sua ofensiva: “a Geórgia, desde o início, havia planeado de conduzir uma guerra agressiva não só contra a Ossétia do Sul, mas também contra a Rússia. Isto é evidenciado pela aquisição de sistemas de defesa antiaérea. E o vendedor (a Ucrânia), tinha consciência contra quem ele está armando (o Presidente) Saakashvili”. Ao serviço do Kremlin, o “Izvestia” esquece que os sistemas de defesa antiaéreos não são os meios de ataque, mas de defesa.
Em forma um pouco mais subtil o “Izvestia” apresentou ao público o mito dos “mercenários ucranianos”. Com a referência ao parecer de peritos anónimos, o “Izvestia” afirma que os técnicos ucranianos, não só acompanhavam os complexos de mísseis “BUK – M1”, adaptando os às condições locais e à paisagem, mas também os operavam durante os combates no início de Agosto. De acordo com o jornal, na Geórgia, os complexos “BUK – M1” eram ligados por um instante, localizavam o alvo, disparavam e eram desligados imediatamente. Mas as tácticas da acção descrita não são um saber – fazer exclusivamente ucraniano. Pela primeira vez este tipo de “artimanha” foi usada pelos militares soviéticos que se faziam passar pelos vietnamitas na sua luta contra a força aérea dos EUA no Vietname.
No entanto, quando mais absurda parece a mentira, mas fácil torna-se de acreditar nela. Hoje, a liderança russa, apoiada pela imprensa, procura a justificação das suas acções no Cáucaso, ao mesmo tempo tentando resolver uma série de outras questões importantes. Distanciar o Kyiv da NATO e enfraquecê-lo como um concorrente sério no mercado mundial de armamento.
E a imprensa russa é convidada para fazer a sua quota – parte desta cantiga. Este é o papel e as funções que a imprensa desempenha na Rússia actual.
O artigo original em russo:
http://glavred.info/print.php?article=/archive/2008/10/15/130415-9.html
Tradução: YT e JnW
15.10.08 // 13:04
O desenvolvimento rápido da situação do conflito armado russo – georgiano levou à situação em que o Kremlin tropeçou. Bem preparado antecipadamente, e aparentemente sem falhas, a guerra de informação contra a Geórgia deu um erro. O conteúdo, que as mídias russas esperavam de receber dos seus militares durante a guerra era fraco e praticamente não cobriu todas as previsões e expectativas dos estrategos do Kremlin. Durante a evolução da situação, para salvar as honras da casa, a Rússia precisava dos factos que justificariam, em última instância, a agressão contra um estado soberano. E quando se tornou claro que não havia provas, as mídias tinham que mentir.
Uma directriz especial do Kremlin desencadeou a guerra de informação em larga escala contra a Ucrânia. A base de desinformação e manipulação da opinião pública foi a noção de vendas “ilegais” de armas a Geórgia e a participação dos mercenários ucranianos no conflito, ao lado de Tbilisi. Por sua vez, o principal canal de difusão e interpretação da informação “correcta” e “necessária” foram os líderes da imprensa russa. Os seus representantes tinham conhecimento prévio das histórias e acontecimentos sobre os quais deviam informar o público.
É por isso nas reportagens televisivas russas apareciam os separatistas da Abecásia, gritando “Ucrânia! Ucrânia!”, quando estes apreendiam as “armas ucranianas” no Alto do Kodori. Na reportagem de televisão do Ministério da Defesa russo, TV “Zvezda”, o locutor dizia que “na maior parte dos sistemas portáteis de defesa antiaérea os textos são escritos em ucraniano”. Mas quando foram mostradas as inscrições nas armas, efectivamente se viu que o texto era escrito em língua sérvia: «Зa извршење гађања потребно je», que significa «Para efectuar o disparo é necessário».
A imprensa russa também difundia declarações múltiplas e sem o fundamento de diplomatas e altos patentes militares sobre a participação dos ucranianos na Guerra do Cáucaso. Um exemplo é a publicação na revista militar russa “Independent Military Review”, de 19 de Setembro deste ano, do artigo sobre a visita do navio de guerra americano à Sebastopol. A missão dos navios da Marinha dos EUA no Mar Negro foi descrita assim: “O navio “Pathfinder” se atracou na área restrita da marinha ucraniana [...] Segundo a fonte próxima da marinha ucraniana, naquela noite (o navio) foi carregado com a “carga 200”, ou seja os cadáveres de instrutores militares ucranianos e os mercenários que foram mortos durante o conflito na Geórgia”.
Na realidade, o “Pathfinder” estava a participar numa expedição científica conjunta ucraniano – americana, para encontrar o navio soviético “Arménia”, que se afundou durante a II Guerra Mundial no Mar Negro. “Pathfinder” não entrou em nenhum porto georgiano, nem sequer nas águas territoriais georgianas que ficaram sob o controlo rígido da marinha russa. O ponto mais extremo da estadia do navio americano foi a zona do Cabo de Ayu-Dag, na costa sul da Crimeia, sem efectivamente ultrapassar as fronteiras marítimas da Ucrânia. Como podem ver, independentemente dos factos reais, o tema dos mercenários ucranianos foi publicado.
A primeira década do mês de Outubro marcou uma nova série de ataques contra a Ucrânia. O Moscovo apressadamente retornou ao tema do abastecimento do Tbilisi pelas armas ucranianas. O jornal russo “Izvestia”, foi o mais bem sucedido nesta operação de desinformação.
No artigo intitulado: “O presidente Yushchenko vendeu as armas a Geórgia, retirando as da prontidão combativa”, saiu no dia 1 Outubro, exactamente na véspera da reunião da Yulia Timoshenko com o primeiro – ministro russo, Vladimir Putin. O jornal “Izvestia” afirmou que “a Geórgia, desde início, tinha planeado fazer a guerra ofensiva não só contra a Ossétia do Sul, mas também contra a Rússia” e que “todas as entregas de armas a Geórgia se realizaram não só com o conhecimento, mas também com o aval directo do Viktor Yushchenko”, que “conhecia os planos de Mikeil Saakashvili de atacar a Ossétia do Sul” e até “não apenas sabia, mas também apoiava a Geórgia na agressão contra a Ossétia do Sul e como o resultado iminente, contra a Rússia”. O jornal afirma que: “agora existem as provas documentais para considerar (o Presidente) Yushchenko como cúmplice do presidente georgiano na organização do genocídio do povo da Ossétia do Sul”.
Será que essas conclusões são aleatórias? Certamente que não, porque eles se inserem na estratégia global da guerra do Kremlin no espaço da mídia. Privados de base lógica, aparentemente, eles parecem absurdas. Mas o pequeno burguês (russo e não só), não precisa de saber disso.
O “Izvestia” continua a sua ofensiva: “a Geórgia, desde o início, havia planeado de conduzir uma guerra agressiva não só contra a Ossétia do Sul, mas também contra a Rússia. Isto é evidenciado pela aquisição de sistemas de defesa antiaérea. E o vendedor (a Ucrânia), tinha consciência contra quem ele está armando (o Presidente) Saakashvili”. Ao serviço do Kremlin, o “Izvestia” esquece que os sistemas de defesa antiaéreos não são os meios de ataque, mas de defesa.
Em forma um pouco mais subtil o “Izvestia” apresentou ao público o mito dos “mercenários ucranianos”. Com a referência ao parecer de peritos anónimos, o “Izvestia” afirma que os técnicos ucranianos, não só acompanhavam os complexos de mísseis “BUK – M1”, adaptando os às condições locais e à paisagem, mas também os operavam durante os combates no início de Agosto. De acordo com o jornal, na Geórgia, os complexos “BUK – M1” eram ligados por um instante, localizavam o alvo, disparavam e eram desligados imediatamente. Mas as tácticas da acção descrita não são um saber – fazer exclusivamente ucraniano. Pela primeira vez este tipo de “artimanha” foi usada pelos militares soviéticos que se faziam passar pelos vietnamitas na sua luta contra a força aérea dos EUA no Vietname.
No entanto, quando mais absurda parece a mentira, mas fácil torna-se de acreditar nela. Hoje, a liderança russa, apoiada pela imprensa, procura a justificação das suas acções no Cáucaso, ao mesmo tempo tentando resolver uma série de outras questões importantes. Distanciar o Kyiv da NATO e enfraquecê-lo como um concorrente sério no mercado mundial de armamento.
E a imprensa russa é convidada para fazer a sua quota – parte desta cantiga. Este é o papel e as funções que a imprensa desempenha na Rússia actual.
O artigo original em russo:
http://glavred.info/print.php?article=/archive/2008/10/15/130415-9.html
Tradução: YT e JnW
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