A vida de uma das santas mais veneradas da Geórgia cruzou-se com a de missionários portugueses há vários séculos e a sua história acabou representada num painel de azulejos que está hoje numa parede do Convento da Graça, em Lisboa, Portugal.
Segundo a imprensa georgiana, as autoridades locais já ofereçam cerca de dez mil euros pelo painel, que “vive” meio escondido por armários numa sala que funciona como infantário.
Entre os reis e rainhas georgianos, Santa Ketevan é uma das mais veneradas pela Igreja Ortodoxa da Geórgia, por ter sacrificado a vida em prol da fé cristã e da independência do seu país.
Ketevan reinou na Kakhétia, estado feudal situado no Este da Geórgia, no início do séc. XVII, e foi vítima de uma das tentativas de Abbas I, xã da Pérsia, de conquistar a Geórgia e converter o seu povo ao Islão.
Os georgianos, tal como os arménios, são dois povos do Cáucaso que adoptaram o Cristianismo como religião oficial quase ao mesmo tempo que o imperador romano Constantino.
Esposa do rei David, Ketevan passou a estar à frente do reino depois da morte do marido. O seu cunhado Constantino, que entrou na história com o cognome de Maldito, converteu-se ao Islão em 1605, assassinou o seu próprio pai, Alexandre II, e o irmão Georgi e tentou obrigar a rainha Ketevan a casar com ele.
Ketevan reuniu as suas tropas e derrotou o cunhado, que era apoiado pelos persas. Porém, o xã Abbas I fez refém o filho da rainha, o príncipe Teimuraz, que, não obstante todas as ameaças e promessas, não aceitou converter-se ao Islão. O senhor da Pérsia acabou por o libertar, mas prometeu transformar a Geórgia em ruínas.
A fim de impedir a desgraça, a rainha, juntamente com dois netos, foi entregar-se como refém a Abbas, que a encerrou dez anos na prisão. O xã chegou a prometer fazer dela rainha da Pérsia caso se convertesse ao Islão, o que ela recusou. A 22 de Setembro de 1624, depois de ser sujeita a torturas, a rainha georgiana foi queimada.
Segundo uma biografia de Ketavan, dois missionários agostinhos portugueses, Ambrósio dos Anjos e Pedro dos Santos, que tinham assistido ao suplício da mártir, “ofereceram ao xã 120 mil rublos em troco do corpo da mártir, mas ele não os quis sequer ouvir. Depois de longas buscas, encontraram a sepultura, encomendaram secretamente um caixão, onde depositaram o santo corpo”.
Três anos depois, os missionários portugueses conseguiram retirar os restos mortais da Pérsia. Parte dos restos mortais da santa georgiana foram depositados na Igreja de Santo Agostinho de Goa.
Arqueólogos indianos e georgianos descobriram esses restos mortais em Novembro de 2006. Outra parte foi enviada pelos padres portugueses a Teimuraz I, filho de Ketevan, a fim de o convencer a permitir a actividade missionária católica no seu país. Dessa forma, Ketevan acabou por ser importante para a entrada de missionários portugueses no Oriente. Uma terceira parte foi sepultada na Basílica de São Pedro, em Roma. A Igreja Ortodoxa da Geórgia canonizou Ketevan, sendo a festa da santa realizada a 22 de Setembro.
Segundo a lenda, o painel de azulejos que representa o martírio de Ketavan e se encontra no Convento da Graça, em Lisboa, foi pintado em conformidade com o relato do padre Ambrósio dos Anjos.
A imprensa georgiana escreve que o painel de azulejos necessita de obras de restauro e que as autoridades de Tbilisi já demonstraram o interesse à Igreja Católica Portuguesa em adquirir essa obra por cerca de dez mil euros. Fonte da paróquia da Graça disse à Lusa desconhecer qualquer proposta para a aquisição do painel.
Foto: André Kosters
Fonte:
http://darussia.blogspot.com/2008/09/uma-ranha-e-santa-georgiana-vive-no.html
P.S.
FC Gil informa que em Portugal se encontra publicado um trabalho de autoria de Roberto Gulbenkian, com o titulo «Relação Verdadeira do Glorioso Martírio da Rainha Ketevan da Geórgia», Lisboa 1985, Sep dos Anais da Academia Portuguesa da História., p. 107 - 186.
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