Lembro que uma vez li a frase, que me impressionou de certa maneira: “qualquer capital que se preze, deverá ter uma Chinatown”. Na altura achei muito bacana. Depois, as minhas prioridades mudaram e hoje em dia acho que qualquer capital que se preze, deve ter pelo menos um restaurante e uma discoteca ucranianos.
Mas infelizmente (e felizmente também), Maputo não é uma Nova York, nem Londres, nem uma outra mega metrópole, que existe neste mundo fora. Maputo é uma cidade pequena, bastante pacata (ainda bem que seja assim), e por isso, francamente falando, ainda não vejo o espaço possível para uma discoteca ucraniana à sério.
Mas o restaurante, este já temos. Chama-se “La bela muchacha” (os donos acharam por bem criar um nome mais internacional e caliente possível, como maneira simpática de cativar os clientes). Como já deviam perceber, não há tantos ucranianos em Maputo, para que uma casa poder sobreviver, trabalhando única e exclusivamente para a comunidade. Bom, nem este é o objectivo. Muito pelo contrário, seria muito agradável, passar o gosto das comidas ucranianos ao público: moçambicano, português, ou estrangeiro em geral. Porque é saboroso, porque é exótico, porque não é tão distante da cozinha luso – moçambicana, como alguém pode pensar.
O restaurante é gerido por uma simpática família multicultural: Dona Dina e sua filha Lecia são ucranianas, o seu marido Sr. João é moçambicano de gema. Casados e felizes durante muitos anos, neste momento a família Tengamaze embarcou nesta aventura gastronómica, que pode ser apreciada no recinto da Feira Popular de Maputo (baixa da cidade, Av. 25 de Setembro).
Alguém pode achar que o restaurante é bastante modesto. Pois será assim, a Roma também não se criou de um momento para outro. O mais importante é a qualidade de comida servida ao cliente, o calor humano do staff e perdoem me a repetição, a qualidade dos petiscos oferecidos ao gosto de freguês.
O nosso bom restaurante propõe várias delícias da cozinha ucraniana, entre elas podemos destacar:
Borsh ucraniano (sopa de legumes e carne, feita na base de beterraba http://en.wikipedia.org/wiki/Borsh). A beterraba, quem não sabe, é a cultura mais importante da Ucrânia, usada no fabrico de açúcar e de horilka (vodka tradicional http://en.wikipedia.org/wiki/Horilka ucraniana). Lembro que na capa portuguesa do filme “Little Odessa” (http://www.imdb.com/title/tt0110365/), era escrito “Little Odessa, o bairro nova iorquino, onde nos restaurantes bebe-se o borsh”. Peço que não sejam como aquele crítico sabichão, que afinal sabia pouco. Borsh ucraniano definitivamente come-se, nunca bebe-se.
Costeleta de Kiev (peito de galinha enrolado com ovo e outros ingredientes secretos do cozinheiro). Quem é que não lembra do famoso filme de acção de Arnold Schwarzenegger Red Heat (1988), onde o seu herói, capitão ucraniano de polícia moscovita, Ivan Danko explica ao seu companheiro americano, sargento Art Ridzik (James Belushi), que tornou-se verdadeiro cop na Academia de polícia de Kiev, sítio onde aprendeu conduzir os autocarros (daquela maneira louca).
Varenyky – massa folhada com variadíssimos tipos de recheio (queijo fresco, puré de batata, couve refogada, cerejas, etc). Varenyky é uma espécie de ravioli italiano, mas têm o triplo de tamanho e possuem a forma de meia – lua bem cheinha. Outros “primos” de varenyky são: jiaozi e wonton chineses, pelmeni russos, momo tibetianos e kreplachs judáicos. Veja: http://en.wikipedia.org/wiki/Vareniki
Oseledec pid shuboyu – uma salada de batata, beterraba, cenoura e peixinho salgado, tudo arrumado por camadas. Este prato não é genuinamente ucraniano, mas é apreciado e consumido na Ucrânia actual, nos ambientes festivos, como Ano Novo e outras festas de cunho mais citadino do que tradicional.
Varenyky com queijo fresco (receita simples)
Massa folhada: 3 copos de farinha de trigo, 3/4 copo de leite ou água, 1 ovo, 1/2 colher de chá de sal. Para recheio: 800 gr de queijo fresco, 1/2 como de açúcar, 2 ovos, sal.
Modo de preparação
Uma parte de farinha é misturada com água ou leite a ferver (1/3 de toda a água), depois misturam bem, acrescentando na massa o resto da água /leite de temperatura ambiente, sal, ovo (melhor a gema), o resto de farinha e preparam a massa, deixando-a para crescer durante uns 40 min. Queijo fresco misturam com o sal, açúcar e ovos crus. Massa folhada é cortada aos circuitos, dentro de cada circuito é colocado o recheio, as extremidades de cada circuito são juntados com as mãos. Depois os varenyky são postos um por um na água salgada à ferver, onde são cozidos durante 5-7 min. Os varenyky cozidos podem ser regados com azeite, também se comem com as natas.
UPD: o restaurante foi encerrado há bastante tempo, o artigo fica no nosso blogue apenas para a memória.