Já é uma tradição, que nenhum processo eleitoral na Rússia passa sem uma forte interferência dos especialistas das Relações Públicas (ou como são mais conhecidos na Rússia, das tecnologias políticas), um eufemismo para designar as pessoas que através das técnicas ultra sofisticadas de RP procedem a manipulação da opinião pública em grande escala. A campanha eleitoral do primeiro ministro da Ucrânia, Viktor Yanukovich, foi feita pelos dois maiores manipuladores russos, o chefe do Fundo da Política Efectiva, Gleb Olegovich PAVLOVSKIY e Marat GELMAN (http://www.guelman.ru/).
Geralmente, este tipo de especialistas, não gosta de falar com a comunicação social. Mas, na necessidade de melhorar a sua imagem, o senhor PAVLOVSKIY, concedeu, ultimamente, uma série de entrevistas à mídia, nomeadamente ao jornal moscovita “Nezavisimaya Gazeta” (http://www.ng.ru/) onde fala sobre o seu envolvimento nas eleições ucranianas.
Pergunta: Muita gente acha que a presença dos políticos e politólogos russos causou estragos no processo eleitoral na Ucrânia.
Gleb Pavlovskiy: Estragos no processo eleitoral foram causados pela Revolução (laranja) que no seu devido tempo não levou um murro na cara. A presença da Rússia foi mínima, acho que nos (Rússia) não interferimos na Ucrânia de maneira suficientemente aceitável. Embora a situação equilibrou-se, tudo começou demasiadamente tarde.
Pergunta: Então, você não acha que a interferência da Rússia nos assuntos da Ucrânia não é aceitável?
Gleb Pavlovskiy: Não houve uma interferência de verdade, e eu tenho a certeza que os nossos amigos ucranianos podem nos recriminar por isso. Rússia, infelizmente, com um enorme atraso, aprende formular a sua política de presença na vida dos países vizinhos. <...> Putin tomou os primeiros passos nesta direcção. Qualquer futura administração russa vai ter uma política activa nos assuntos ucranianos.
Pergunta: Parece que você ficou descontente pela maneira como a Rússia usou a sua influencia?
Gleb Pavlovskiy: Eu fiquei descontente com muita coisa. Por exemplo, com o nível de conhecimento em Moscovo da realidade ucraniana. Contando comigo próprio. Nos se acostumamos de olhar para os países de espaço pós soviético como análogos da Rússia. Mas isso está errado. Na Ucrânia, a Rússia estava atenta com os mecanismos de eleições e deixou escapar a revolução. Provavelmente foi um erro.
Se nos teríamos os plenos poderes de consultar os nossos parceiros ucranianos sobre (as medidas) da contra revolução preventiva e não sobre as eleições, podíamos evitar a desgraça. Mas não tínhamos estes direitos. Infelizmente, os parceiros ucranianos não queriam estudar este assunto, e para dizer a verdade, os circuitos políticos e oficiais da Rússia, também não empenharam-se à fundo.
Pergunta: O Sr. está a dizer que não recebia o dinheiro de nenhuma parte na Ucrânia e que todos os seus contactos estão em Moscovo. Quem são estes contactos?
Gleb Pavlovskiy: O Fundo da Política Efectiva – é uma organização privada e entrevem apenas, sob o contrato. Na Ucrânia eu não tinha contratos. <...> Os meus clientes em Moscovo pediram trabalhar para a coligação do poder, essa apoiava Viktor Yanukovich. É um grupo de políticos que é mais largo do que a “equipe de Yanukovich” e mais representativo do que a sua maioria parlamentar. É um grupo formado à volta do presidente Kuchma (presidente cessante da Ucrânia), ligado pelos acordos complexos, é um certo consenso – temporal e bastante instável, como podemos ver. O seu problema principal está no próprio Kuchma, que não queria nenhum equilíbrio alem do seu próprio.
Pergunta: Você vê a situação na Ucrânia como a tentativa ocidental de destruir a Rússia?
Gleb Pavlovskiy: Aquilo que se passa agora na Ucrânia é a mistura dos processos diferentes. <...> Mas existe uma maquinaria brilhante de iniciação e de exploração de protesto forasteira. <...> É o repacotamento dos elites no poder pela pressão da rua e da embaixada, ao mesmo tempo. Vocês deviam ver a maneira mansa como Kuchma recebe qualquer embaixador ocidental e até simples general na reserva (Javier Solana) à primeira demanda deles. <...> Em Kiev, realmente, trabalharam como consultores, práticos, pessoas que participaram nos acontecimentos em Sérvia e Geórgia. Uma parte deles oficialmente trabalhava com financiamento americano. Mas destruir a Rússia podem especialistas nacionais. A possibilidade de destruição foi demonstrada pelos acontecimentos de 1990 – 1991 e em projecto da Tchetchénia.
Pergunta: Qual é o orçamento russo para promoção do “nosso” candidato nas eleições ucranianas?
Gleb Pavlovskiy: A Rússia apoia com o dinheiro os oligarcas na Ucrânia? Não, nos não tínhamos problemas com o dinheiro. A elite no poder na Ucrânia é mais rica que a nossa. Ela simplesmente, é mais compacta.
Pergunta: Você tenciona voltar à Ucrânia?
Gleb Pavlovskiy: Não tenho essa intenção. Eu estive lá no período de eleições nos termos do meu contracto moscovita, que não tem nada ver com a Ucrânia. Porque a Ucrânia é o aspecto dos nossos problemas políticos internos, não mais que isso.
Pergunta: Que tipo de problemas?
Gleb Pavlovskiy: Agora <...> eu me interesso pelo seguinte – o Estado e a revolução. <...> Olhem hoje (para a praça de Independência de Kiev) lá existem outras caras – dos severos camponeses ucranianos que vieram à Kiev ensinar “amar a nação”. <...> E eles são secundados pelos idiotas de Bruxelas. O topo de nomenclatura hoje, muitas vezes é estrangeira, e eu dizia já muito tempo: os recursos americanos na Ucrânia são os recursos administrativos.
Pergunta: Se Yanukovich perder, quando você fiz tanto para a sua vitoria, os cidadãos russos podem perder a fé nos possibilidades de Kremlin...
Gleb Pavlovskiy: Yanukovich pode perder? Claro. Yanukovich apostou demasiado, na sua fé que Kuchma não o vai trair, ele ignorava muito tempo os factos. Se Kuchma optar pelo arranjo por sua conta, a situação (de Yanukovich) fica apanhada. <...> Isso será a razão para dizer: é pá, outra vez falhamos, outra vez nos ganharam? Na Rússia existe uma minoria activa que aprende com as derrotas. <...> Espero, que da situação ucraniana pode ser retirada uma lição importante. Nos não perdemos para qualquer um, perdemos para a revolução. Perdemos, por sorte, não no nosso território.
A palavra do tradutor.
A entrevista não necessita de comentários na maior. Apenas queria chamar atenção para os seguintes momentos. Primeiro é toda a vontade, com que o manipulador russo, defende o seu (e do seu país) direito(?!) de interferir nos assuntos de um país soberano. Nem ele, nem o país dele parecem querer saber nem da ética, nem da boa vizinhança, nem de qualquer tipo de relações de direito internacional. Os tipos são mais que empenhados de continuar com o legado intelectual de Lénin, que defendia que “ético é tudo que ajuda à causa revolucionaria”. Por isso, não sei como a Rússia vai conseguir viver no futuro, pois, com certeza, que com a continuação de uma política agressiva assim, nos próximos 10 – 15 anos será totalmente rodeada por países, que de certeza, não irão nutrir muita amizade por si.
Parece que Pavlovskiy e outros manipuladores russos perderam o “caso ucraniano”. E têm medo que ninguém os poderá querer contratar no futuro. Por isso, uma parte de linguagem agressiva provem do seu medo profundo de ficar sem o pão já amanha. É por isso Pavlovskiy tenta demonizar o Ocidente, mas principalmente o povo ucraniano. Porque é o povo que derrotou as suas estratégias, é o povo que não foi “suficientemente evoluído” para ir nas cantigas e votar num criminoso de delito comum. Isso realmente dói muito, já que na sua própria casa, os manipulados facilmente conseguem eleger qualquer um, desde que tenha o dinheiro necessário para pagar os serviços, que, diga-se de passagem, não são nada baratos. Essa diferença entre as mentalidades incomoda os manipuladores, porque demonstra de maneira mais clara possível, que os ucranianos não são “o mesmo povo” que os russos. Demonstra, que apesar dos séculos de separação, a Ucrânia continua pertencer à Civilização Ocidental e que o povo ucraniano nunca mais será mantido em cativeiro por uma potência estrangeira.
Os profissionais das Relações Públicas trabalham com os partidos políticos em todo o mundo. Por exemplo, o PSD em Portugal tinha um acessór de imprensa brasileiro, que cuidava da imagem do Durão Barroso durante as eleições de 2004. Por outro lado, os RP’s russos costumam afirmar a superioridade em termos da eficiência de penetração da sua mensagem no público – alvo. Neste contexto, apenas queria dizer o seguinte. Os RP’s russos, pelos vistos, só conseguem funcionar nas sociedades semi – autoritárias, nas sociedades onde existe a censura, onde as televisões estatais interferem fortemente na campanha eleitoral, onde os apoiantes da oposição são perseguidos e ameaçados, onde o Governo exige votos favoráveis dos membros de Forças Armadas e das pessoas que cumprem as penas nas prisões, enfim nos países que ainda estão no processo de aprendizagem democrática. Talvez por isso, que os RP’s russos são um produto de consumo interno e quando tentam intervir fora de casa, falham sem a glória e são vistos como perdedores. Talvez por isso que o mundo inteiro costuma usar os RP’s brasileiros ou americanos: eles também manipulam as opiniões publicas, mas fazem isso dentro das regras de jogo das sociedades democráticas abertas.
@Este artigo pode ser livremente reproduzido, desde que seja mencionada a fonte de citação:
http://ucrania-mozambique.blogspot.com
1 comentário:
Acho que os ladroes e criminosos devem ser condenados e NUNCA podem ter algum "accesso" ao poder estatal do país.
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