A Ucrânia futebolística
e não só está indignada, a FIFA decidiu que o próximo jogo Ucrânia – Polônia
será jogado em Kharkiv no estádio vazio, o estádio “Lviv Arena” foi banido até
2018 e a Federação de Futebol foi multada em 45.000 francos suíços.
O Comité Disciplinar da
FIFA acusa os fãs ucranianos de uso de pirotecnia no jogo contra São Marino (6.09.2013)
e baseando-se na informação providenciada pela ONG (!) FARE (Football Against
Racism Europe), acusa os fãs de “incidentes racistas e discriminatórios” (FONTE1).
O que FARE classifica
como “simbologia discriminatória e ofensiva”?
Estranhamente, a
bandeira vermelha-negra (usada pela FSLN sandinista, pela ELN da Colômbia e pelo
Exército Insurgente Ucraniano – UPA), retratos do líder histórico da
Organização dos Nacionalistas Ucranianos Stepan Bandera (prisioneiro
de campo de concentração nazi Sachsenhausen) e do comandante-chefe do UPA,
Roman Shukhevych, além do baner da 14ª
Divisão Militar Galiza (1ª Ucraniana).
Nenhum destes símbolos
é proibido na Ucrânia, tal, como nenhuma das personalidades citadas foi alguma
vez considerada criminosa, tal como a própria Divisão Galiza, que não foi
citada no julgamento de Nuremberga. Muito pelo contrário, a Comissão de
Investigação dos Crimes de Guerra do Canadá (também conhecida como Comissão Deschênes),
caracterizou os membros ucranianos da Divisão Galiza de seguinte modo:
Enquanto na Itália
estes homens foram escrutinados pelas missões soviética e britânica e nem então,
nem posteriormente, foi descoberta qualquer evidência que pudesse sugerir que qualquer
deles lutou contra os aliados ocidentais ou foi envolvido em crimes contra a
humanidade. O seu comportamento, desde que vieram ao este país tem sido bom e eles
nunca indicaram em qualquer forma que eles estão infetados com qualquer
vestígio de ideologia nazi.
[...]
A partir dos relatórios
da missão especial criada pelo Ministério da Guerra para escrutinar esses
homens parece claro que eles se ofereceram para lutar contra o Exército
Vermelho por motivos nacionalistas que receberam maior impulso pelo
comportamento das autoridades soviéticas durante a sua ocupação da Ucrânia
Ocidental após o Pacto Nazi-Soviético. Embora a propaganda comunista tem
constantemente tentado retratar eles, como tantos outros refugiados de “traidores”
e “criminosos de guerra”, é interessante de notar que até agora nenhumas acusações
específicas de crimes de guerra foram feitas pelos soviéticos ou qualquer outro
Governo contra qualquer membro deste grupo. [FONTE2]
Por sua vez, o diretor
executivo da FARE, Piara Powar, que em 2012 chamou no seu twitter um dos fãs
britânicos de “coco” (FONTE3)
explicou a razão de os símbolos ucranianos forem banidos pela sua rede:
“Esta simbologia tem um
impacto negativo, não reflete a opinião da maioria das pessoas. Além disso, ela
pode ser usada pelas pessoas que são membros de grupos associados com a
discriminação e os fatos racistas”.
Ou seja, uma ONG
britânica, apoiada pela Comissão Europeia e UEFA, tem o poder de proibir e
banir os determinados símbolos nacionais na base da sua opinião pessoal, sem
necessidade de se apoiar em nenhuma decisão valida reconhecida internacionalmente.
Embora o Sr. Powar
afirma que os símbolos ucranianos estavam na sua lista pelo menos há quatro
anos, os fãs ucranianos e os funcionários da Federação Ucraniana de Futebol
afirmam que estes elementos só apareceram na lista após o jogo Ucrânia – São
Marino.
O comissário de segurança (steward) do FC Dynamo
Kyiv, Anatoliy Bankivskiy, conta que pela primeira vez os responsáveis de segurança
do clube foram informados sobre essa proibição no dia 25 de setembro de 2013.
Informação passada pelo delegado da UEFA e confirmada pela Federação Ucraniana
de Futebol, escreve jornalista Olga
Khudetska.
Os
funcionários de futebol gostam de recordar que a “propaganda política é proibida
nos estádios”, mas nunca ninguém disse que é proibida a história ucraniana. Por
sua vez os fãs do Dynamo Kyiv já anunciaram que em todos os jogos que se seguem
haverá bandeiras vermelhas-pretas em todos os setores dos estádios.
Para já, os fãs ucranianos
das equipas FC Dynamo Kyiv e FC Carpaty já escreveram uma carta aberta ao presidente
do FIFA, Joseph Blatter. Na carta, os fãs expressaram as suas dúvidas sobre a
competência dos peritos da FARE na história da Ucrânia e nas necessidades de
tomar as decisões globais com base em tais julgamentos preconceituosos.
“Não é tarefa da FARE avaliar
figuras históricas, que para muitos ucranianos são heróis nacionais. Nenhuma organização
respeitável pode se permitir fazer avaliações tão unilaterais e tendenciosas,” –
se lê na carta.
Quando se preparava este
artigo se soube que a FARE, sem nenhuma explicação, retirou o seu “Manual de símbolos
ofensivos e discriminatórios” da sua própria página e do local do armazenamento
externo, issuu.com, onde este estava guardado.
Não é menos caricata a
situação à volta do jogador da seleção da Ucrânia e do FC Metalist, ucraniano-brasileiro
Edmar Halovskyi
de Lacerda. Os observadores anônimos da FARE acusam os adeptos ucranianos de
“gestos racistas” contra o jogador, comportamento categoricamente desmentido
pelo próprio Edmar nos seguintes termos: “Para ser honesto, eu não ouvi nada
disso. Pelo contrário, os fãs me apoiavam. Fiquei surpreso com tais declarações.
Através do clube eu escrevi a carta que não tenho queixas”, disse jogador citado
pela Gazeta.ua
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