sábado, setembro 05, 2009

Profissão: anti – ucraniano virtual

A Rússia semioficial costuma usar a Internet em benefício próprio, geralmente contra as nações vizinhas no tempo da guerra, caso dos ataques informáticos coordenados contra a Geórgia em Agosto de 2008. Mas também abusa da Internet no tempo da paz (caso da Estónia ou a Ucrânia). Neste artigo explica-se em pormenores, como as novas tecnologias são usados por Kremlin para ressuscitar as fobias antigas.

Por: Olexander Kharchenko *

As vezes até se sente a pena deles. Só de imaginar este trabalho tedioso e rotineiro! Assim eles se sentem nos seus computadores, entram na Net, abrem as páginas “vigiadas” e começam “se comunicar”. O objectivo desta comunicação é simples – “killar” os oponentes e as suas ideias, ou pelo contrário, promover a imagem positiva daqueles para quem trabalham.

Obviamente, durante algum tempo, isso até pode ser interessante. Mas se praticar todos os dias? Apesar dos elementos de criatividade, atirar a sujidade significa atirar a sujidade. Mesmo se dizes que és o blogueiro ou o spammer, existe outro termo, que começa ganhar o terreno – poluidor (do inglês, pollute – sujar). Claro, aquilo que fazes, se chama poluição. Nem é preciso traduzir. Também existem os poluidores internos. Estes se dedicam apenas às questões ucranianas, mas sobre eles numa outra ocasião.

“Escrevo ao vosso Banderstadt...”

Hoje vamos falar sobre os especialistas internacionais. A página da Agência noticiosa UNIAN, como um dos líderes noticiosos da Internet ucraniana, já muito tempo tornou-se “vigiada” por os representantes da profissão citada, provenientes de um país bastante vizinho. O nível das capacidade literárias e políticas obviamente difere, mas a função de “killar” os ucranianos, os “banderistas”, Yushchenko, a Ucrânia em geral e tudo que a auto – identifica como um país independente. Os exemplos desta criatividade aparecem como comentários debaixo de praticamente qualquer artigo sobre os relacionamentos russo – ucranianos. Mudam os pseudónimos dos “autores”, endereços, regiões, onde alegadamente moram os seus autores. O que não muda é a tonalidade, terminologia e as conclusões: “ucranianos roubam o gás”, “ucranianos são “banderistas”, “laranjinhas”, são governados pela “peste laranja” e muito brevemente, todos eles, vão “finalmente morrer, no seu Banderstadt”.

Claro, alguém irá nós persuadir, que tudo isso é a “vox populi”, os cidadãos de um país vizinho, democrático e livre, encabeçado por o presidente e primeiro – ministro mais democráticos do mundo, manifestam a sua preocupação pelo destino da quase familiar Ucrânia. Mas basta gastar uma – duas horas, para a análise dos endereços (IP), estilística e os truques típicos desta “criatividade”, para ter a certeza que as coisas não se passam desta maneira. Os lugares comuns, o léxico bastante específico, e até as “orelhas” que de vez em quanto traem estas “postagens”, demonstram sem a sobra de dúvida quem se dedica a esta “criatividade”.
E não importa onde fisicamente estão alojados os autores, na Lubianka, nos arredores do Moscovo ou no interior da Rússia (hoje tudo isso é possível, graças as comunicações modernas). Também é irrelevante onde eles recebem os seus “honorários” – directamente nos serviços secretos, numa empresa “guarda – chuva”, que formalmente não possui nenhuma ligação com estes serviços ou numa agência das RP, contratada para o tal. O que importa é perceber, que não estamos perante “entusiastas” da ideia, que trabalham pelo amor a camisola, mas as pessoas que perseguem o resultado concreto, tecnicamente e financeiramente abastados, com um sistema de organização laboral clara e a base tecnológica forte.

Como isso se faz?

Um grupo das pessoas trabalha na direcção “ucraniana”. Alguém trabalha no “serviço”, ouros trabalham a partir de casa, outros conjugam o trabalho de marketólogo ou publicitário com o do “comentarista”. Cada um possui dezena ou dezena e meia de pseudónimos (nick) permanentes, dependendo da situação, também podem gerar uma quantidade dos nicks alternativos.

Por exemplo, usuário Filipppok... Escreve no estilo: “O autor do artigo ou um idiota, ou é bem pago pelo bando do Yushchenko”.

Ou simplesmente Slava: “Vocês são os grunhos de consciência ucraniana da 2ª categoria. Todos os ucranianos são a nação inferior, juntamente com o presidente Apicultor e o símbolo nac. Morto – Vivo Taras Shevchenko ”.

Ainda existe o “Vingador”, “Cínico”, “Fim da Ucrânia” e muitos outros. No início, um ano atrás, assinavam com os seus nicks, mas mencionavam como o endereço as cidades ucranianas. A UNIAN colocou os identificadores, daí os comentários dos poluidores ficavam deste jeito: “Sergey, Lutsk”, mas o computador informava entre os parênteses (“Russian Federation”). Ficaram indignados, depois acostumaram-se e já não tentam enganar, assinando com os endereços ucranianos.

Outros poluidores tentam imitar a conversa dos intelectuais. Usam as alusões históricas, os discursos filosóficos, baseiam os seus comentários no “senso comum”. Por exemplo: “A Ucrânia será admitida na UE apenas após o Kosovo, e os kosovares são necessárias na Europa para lavar pratos e retretes. E vocês querem entrar na EUROPA!” Mas o mesmo poluidor usa na mesmíssima discussão o “pacote” de vários pseudónimos, para sempre ter a capacidade de manobra. Por exemplo, se a “discussão” mantida pelo poluidor ganhou um rumo não desejável, ou se os argumentos dos oponentes eram mais credíveis, o poluidor reentra na discussão já como a imagem de um brutamontes quaisquer, usa as palavrões contra os oponentes, “matando” a discussão desta maneira.

Será que o trabalho dos poluidores é coordenado? Já que a “linha do partido” (podem chamar de Centro), é sempre mantida, independentemente de todas as variações criativas, sim, este trabalho é coordenado. O coordenador de cada grupo envia uma espécie de “glossário”, usado pelos poluidores para garantir a tal “linha do partido”. Isso é possível detectar em cada tema, que o Centro deles determina como “importante e actual”.

Por exemplo, o conflito de gás. Primeiramente, “de lá” foram mandadas as seguintes mensagens: “então, seus benderistas, agora vocês todos vão congelar”. Quando se tornou claro, que não iremos congelar, entrou o novo “glossário”: “É pá, vocês gamaram para ter o stock?” Paralelamente “trabalhava-se” um outro tema: “Por vossa causa, vai congelar toda a Europa”. Quando no fim, se chegou ao acordo e o gás outra vez fluiu a Europa, começaram pedalar a tese: “De qualquer maneira, não conseguirão pagar o gás”. Quando se percebeu que gás será pago, o tema simplesmente desapareceu. Claro, até a segunda ordem.

Ou a situação com o relógio do Patriarca do IOR, Kirill. Depois do Patriarca mostrar o seu relógio de pulso, avaliado em cerca de 30.000 euros, os comentaristas “populares” gritaram: falsidade, montagem (“Tudo isso é o fotoshop judaico – ucraniano e ilusão óptica católica”). Quando foi claro, que não é a montagem, usaram a tese: “Imitação chinesa, na realidade, o relógio não é tão caro”. A tese não era credível, por isso apareceu uma outra: “O relógio é uma oferta, porque o patriarca não o pode usar?” Quando a tenção baixa um bocado, aparece o “Zé do povo” e faz o seu resumo: “P’ro que repitir? Que merd@ da pergunta”. Significa que foi destacado para um outro tema.

Como “Cazaquistão” apoiou Medvedev na Ucrânia

Outra tarefa dos poluidores nordestinos é formar a opinião popular, usando para o efeito as votações na Internet. Isso, quando aparece na Internet a pergunta do tipo “Você apoia as acções da Rússia no conflito com a Ucrânia?” Aqui o poluidor precisa do mínimo das suas capacidades intelectuais: encontra o botão certo e começa “clickar”, dependendo do nível de segurança, o sistema poderá permitir apenas um voto por cada IP ou mesmo vários votos de um mesmo IP.

No dia 12 de Agosto último, a agência UNIAN propôs aos seus leitores avaliar a mensagem do Medvedev ao Presidente da Ucrânia, Victor Yushchenko. O usuário tinha várias opções, entre eles: “Positivamente, ele disse a verdade”, “Negativamente, é uma campanha anti – ucraniana”, “Tanto faz” ou dar a sua própria opinião.

No dia seguinte constatamos que votaram quase 7 mil usuários, quase 80% escolheram a opção “Positivamente, ele disse a verdade”, 95% (!) dos votos pró – Kremlin foram recebidos de um único IP: 212.116.245.54. Verificamos nas bases de dados e constatamos que o IP pertence à agência de publicidade STYX & Leo Burnett, sedeada na cidade de Almaty no Cazaquistão. A direcção da Agência e o seu departamento de IT assegurara, que de maneira nenhuma estavam metidos neste caso e que o seu IP foi usado sem o seu conhecimento (a operação tecnicamente nada complicada). Claro, que na realidade, ninguém fica em frente do computador, pisando os botões, isso faz o “robô”: o computador com IP de Cazaquistão recebe o algoritmo de votação e a maquina começa “votar”. Com uma boa velocidade, 3 votos por segundo...

O que fazer? Era possível bloquear o endereço IP dos poluidores. Mas decidimos simplesmente mudar a ordem dos botões de votação, para obrigar o “robô” do Kremlin trabalhar contra Medvedev. O “robô” demorou apenas 1 minuto e 52 segundos para mudar o algoritmo, passando do novo botão “Negativamente, é uma campanha anti – ucraniana” para o botão “correcto” e com a mesma velocidade (3 cliks por segundo), continuou votar em apoio do Medvedev.

Depois de anular todas as “almas mortas”, podemos informar sobre a votação real na página da UNIAN: votaram 27.000 pessoas, 63% acham que a mensagem do Medvedev é uma continuação da campanha anti – ucraniana, 25,9% acham que o presidente russo tem a razão. Essa é a opinião real dos usuários que participaram na nossa votação.

Isso significa viver junto a um império...

Que resumo podemos fazer de toda esta história?

Primeiro, as acções virtuais de “killar” os ucranianos em interesses do Kremlin são feitas por um numeroso grupo de pessoas. Eles fazem isso sistematicamente, qualitativamente e quase 24 / 24 horas.

Segundo, eles fazem o seu trabalho com certas precauções. Em vez de usar o servidor proxy de Cazaquistão, poderiam usar o servidor ucraniano. Mas não fizeram isso, pois na Ucrânia poderiam ser desmascarados mais rapidamente. Óptimo que eles tem este tipo de medos.

Como disse um politólogo bem conhecido, tivemos o azar de viver junto ao império. Por mais que fazermos, o império nunca vai nós deixar em paz. Usando todas as artimanhas, todos os meios técnicos, eles vão meter o seu nariz nos nossos assuntos internos, tentando nós obrigar a viver na nossa própria casa, seguindo as vontades deles. Internet, hoje em dia forma as opiniões das pessoas. Por isso, colocando ao serviço do poder as média escritas e televisivas, eles entraram na Internet. A rede, dá a oportunidade não apenas de zumbificar os cidadãos russos, mas também jogar no nosso próprio território. E eles jogam.

Os recursos inimagináveis são lançados para fazer crer, que milhões de usuários da Net russa apoiam organizadamente a política do seu poder estatal, condenando iradamente aqueles, que na Ucrânia pretende “recusar” a amizade do Kremlin. Eles pretendem fazer crer, que o oficial do exército, professor, médico e gestor de vendas vivem exclusivamente para repor a sua energia sexual, sublimando as guerras de propaganda com os seus interlocutores ucranianos.

O que fazer?

Confesso, que o autor destas linhas não possui uma reposta clara e definitiva. Apenas uma coisa é óbvia, as respostas adequadas devem ser dadas pelos jornalistas, políticos, politólogos, especialistas em tecnologias políticas, sociólogos, e é claro, serviços secretos, que devem provar, estes serviços existem no nosso país. O autor apenas propõe, que este artigo seja o início de uma longa conversa.

Mesmo agora, podem ter a certeza, você ainda não acabou a sua leitura, mas o nosso poluidor, fica sentado no computador a milhares de quilómetros da distância e escreve o comentário, alegando o seu nome.

* Chefe – Editor da Agência Noticiosa UNIAN

Fonte
http://www.unian.net/rus/news/news-333114.html

O modo – operandi dos poluidores na Rússia:
http://tribuna.com.ua/articles/conflicts/124985.htm

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