Entrevista do Presidente da Ucrânia Viktor Yushchenko ao jornal português “Público”, edição de 24 de Junho de 2008, Caderno 2, pp.16 – 17. Entrevista foi conduzida pela Sra. Dulce Furtado.
Ucrânia quer a NATO e a UE para não voltar a ser esquecida
26.06.2008, Dulce Furtado
Kiev espera que nem a Aliança nem o bloco dos Vinte e Sete cedam às pressões da vizinha e poderosa Rússia
A integração euro – atlântica oferece garantias de segurança e soberania de que a Ucrânia não pode abrir mão, asseverou o Presidente ucraniano, Victor Yushchenko, numa entrevista ao PÚBLICO durante a visita de dois dias a Portugal, que terminou terça-feira. É um rumo sem retrocesso, a escolha da nova geração do país.
26.06.2008, Dulce Furtado
Kiev espera que nem a Aliança nem o bloco dos Vinte e Sete cedam às pressões da vizinha e poderosa Rússia
A integração euro – atlântica oferece garantias de segurança e soberania de que a Ucrânia não pode abrir mão, asseverou o Presidente ucraniano, Victor Yushchenko, numa entrevista ao PÚBLICO durante a visita de dois dias a Portugal, que terminou terça-feira. É um rumo sem retrocesso, a escolha da nova geração do país.
PÚBLICO: Porque quer a Ucrânia aderir à NATO apesar da forte oposição da Rússia?
Victor Yushchenko: A adesão à NATO e a integração no sistema colectivo de segurança responde em absoluto aos nossos interesses nacionais. Não é contra ninguém, seguramente não é contra a Rússia. Ao longo do século XX a Ucrânia declarou a independência seis vezes e em cinco perdeu-a: não foi por não termos um exército nem por as pessoas não quererem um Estado soberano, mas sim por factores internacionais que fizeram com que a Ucrânia fosse esquecida.Quem argumenta que a nossa integração constitui uma ameaça está a contar contos de fadas. Há 15 anos, a Ucrânia largou mão de 200 ogivas nucleares e deu todas as garantias de que não terá nenhum depósito nuclear militar no seu território. Ao mesmo tempo, fomos vítimas muitas vezes do jogo travado entre as grandes potências e não queremos que esta história se repita. A Ucrânia precisa de uma política de segurança que garanta que os nossos filhos e netos vivam num país independente. E esta é a filosofia central do Tratado do Atlântico Norte.
PÚBLICO: Acredita que receberá o Membership Action Plan (MAP), antecâmara de adesão à NATO, na reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Aliança em Dezembro?
Victor Yushchenko: Temos todas as possibilidades para o conseguir. Cumprimos com êxito o trabalho determinado no enquadramento do plano de acção da Ucrânia com a NATO. Somos o único país parceiro que participa em todas as missões de paz da Aliança. Prosseguimos com as reformas necessárias para dar resposta às prioridades, objectivos e princípios da política da Aliança.Acredito que os países da NATO estão sensíveis às nossas aspirações de abertura de um diálogo franco para reunir as condições para que a Ucrânia se torne membro da Aliança. E espero que a decisão de integração no MAP seja tomada pelos países da NATO, não por um país terceiro.
PÚBLICO: Enfrenta também forte oposição interna sobre a adesão à NATO: há uma cisão na elite política, uma maioria desfavorável na opinião pública e sugestões de separatismo latente nas regiões russófonas. Como pensa inverter esta tendência?
Victor Yushchenko: Não vou esconder que alguns círculos políticos fazem reivindicações sobre território ucraniano. As declarações de Yuri Luzhkov, presidente da Câmara de Moscovo, ou por [Serguei] Ivanov [vice-primeiro-ministro russo], por exemplo, não acrescentam valor às relações entre a Rússia e a Ucrânia. E a nossa integridade territorial não está aberta a debate.
De resto, a atitude dos ucranianos em relação à NATO é muito similar à que existia na Polónia, República Checa, Eslováquia, Bulgária e nos países bálticos. Todos vivemos num regime comunista, onde todos os dias eram propagadas mentiras sobre a Aliança. A única diferença é que os países bálticos, a Bulgária e a Polónia viveram nesse mundo de tirania durante 35 ou 37 anos enquanto a Ucrânia viveu nele durante 73 anos. Mas temos a mesma geração moderna, que não se revê senão nos valores europeus. A integração euro – atlântica é a escolha da geração moderna ucraniana.
PÚBLICO: No cenário actual é possível a Ucrânia estar de bem com o Ocidente e com a Rússia?
De resto, a atitude dos ucranianos em relação à NATO é muito similar à que existia na Polónia, República Checa, Eslováquia, Bulgária e nos países bálticos. Todos vivemos num regime comunista, onde todos os dias eram propagadas mentiras sobre a Aliança. A única diferença é que os países bálticos, a Bulgária e a Polónia viveram nesse mundo de tirania durante 35 ou 37 anos enquanto a Ucrânia viveu nele durante 73 anos. Mas temos a mesma geração moderna, que não se revê senão nos valores europeus. A integração euro – atlântica é a escolha da geração moderna ucraniana.
PÚBLICO: No cenário actual é possível a Ucrânia estar de bem com o Ocidente e com a Rússia?
Victor Yushchenko: Não estamos a dizer que as relações com a Rússia falharam ou deixaram de ser estratégicas. A Rússia é um país muito grande, com enorme impacto político na arena internacional. E é nosso vizinho. Queremos construir relações correctas, em pé de igualdade, que estão no cerne dos nossos objectivos estratégicos.No ano passado, as nossas exportações para a Rússia aumentaram em 48 ou 49 por cento. Ao mesmo tempo, o maior parceiro comercial da Ucrânia nos últimos dois anos tem sido a União Europeia, no valor de 37 mil milhões de dólares, e isto traduz-se em milhões de empregos, melhores salários e rendimentos, reformas, maiores receitas orçamentais. O nosso objectivo é construir boas relações com ambos, sem fazer políticas de exclusão.
PÚBLICO: Qual é o atractivo da UE?
Victor Yushchenko: O mercado europeu atrai todos os países, incluindo a Rússia, que exporta 50 por cento do que produz para a UE. Porque é que a Ucrânia não pode ter os mesmos objectivos? E os valores europeus abrem novas oportunidades para a Ucrânia; todos os cidadãos ucranianos querem viver de acordo com os padrões democráticos da Europa: de imprensa livre, tribunais independentes, concorrência económica.Creio que a cada ano que passa a União Europeia compreende melhor a necessidade de se expressar a uma só voz na defesa das melhores práticas e políticas europeias. A Europa precisa de estar mais bem integrada, incluindo a Ucrânia. Faremos uma UE mais forte e isso funcionará em prol dos nossos interesses comuns.
PÚBLICO: A Ucrânia pretende obter em breve o estatuto de membro associado da UE. Crê que isso pode acontecer na cimeira Ucrânia – UE em Setembro?
PÚBLICO: Qual é o atractivo da UE?
Victor Yushchenko: O mercado europeu atrai todos os países, incluindo a Rússia, que exporta 50 por cento do que produz para a UE. Porque é que a Ucrânia não pode ter os mesmos objectivos? E os valores europeus abrem novas oportunidades para a Ucrânia; todos os cidadãos ucranianos querem viver de acordo com os padrões democráticos da Europa: de imprensa livre, tribunais independentes, concorrência económica.Creio que a cada ano que passa a União Europeia compreende melhor a necessidade de se expressar a uma só voz na defesa das melhores práticas e políticas europeias. A Europa precisa de estar mais bem integrada, incluindo a Ucrânia. Faremos uma UE mais forte e isso funcionará em prol dos nossos interesses comuns.
PÚBLICO: A Ucrânia pretende obter em breve o estatuto de membro associado da UE. Crê que isso pode acontecer na cimeira Ucrânia – UE em Setembro?
Victor Yushchenko: Temos um plano ambicioso e acreditamos que a cimeira pode trazer notícias positivas. O nosso objectivo para Setembro é formular a parte política do Enhanced Agreement [Acordo Avançado] entre a Ucrânia e a Europa e esperamos que durante a presidência francesa da UE sejamos bem – sucedidos na definição da fórmula da associação política.A segunda parte é económica e requer mais tempo, em particular no acordo de comércio livre em que começámos a trabalhar em Fevereiro. Estou convicto de que será implementado no início de 2009.
O que a Ucrânia quer do esboço deste acordo é um sinal e o reconhecimento de que abrimos portas para a adesão e que só precisamos de enveredar por um certo caminho para chegar a objectivos perfeitamente determinados e expressos. O que gostaríamos de ter é aquilo que no mar torna a navegação mais fácil: a definição de um destino. Isto não implica uma concessão automática de adesão, mas a definição da meta em direcção à qual devemos ir.
O que a Ucrânia quer do esboço deste acordo é um sinal e o reconhecimento de que abrimos portas para a adesão e que só precisamos de enveredar por um certo caminho para chegar a objectivos perfeitamente determinados e expressos. O que gostaríamos de ter é aquilo que no mar torna a navegação mais fácil: a definição de um destino. Isto não implica uma concessão automática de adesão, mas a definição da meta em direcção à qual devemos ir.
Fonte:
Fotos: Mykola Lazarenko & Mihaylo Markiv
http://www.president.gov.ua/gallery/1089.html
http://www.president.gov.ua/gallery/1089.html
P.S.
A entrevista do Presidente Viktor Yushchenko ao canal da SIC Online (programa Sociedade das Nações, jornalista Nuno Rogério), poderá ser vista na íntegra no próximo sábado, dia 28 de Junho, às 21h30 e será disponibilizada online na próxima segunda-feira, em www.sic.pt/sdn.
A entrevista do Presidente Viktor Yushchenko ao canal da SIC Online (programa Sociedade das Nações, jornalista Nuno Rogério), poderá ser vista na íntegra no próximo sábado, dia 28 de Junho, às 21h30 e será disponibilizada online na próxima segunda-feira, em www.sic.pt/sdn.
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