terça-feira, agosto 23, 2011

Porque Ucrânia não é Rússia?


Ucrânia como país independente completou 20 anos da sua história. As diferenças entre Ucrânia e Rússia vistas pelo académico russo de origem ucraniana. 


Para a elite política russa Ucrânia se torna um ponto de rotura, anti-ego, no principal alvo da agressão da inconsciência colectiva. O primeiro – ministro russo discursa sobre Ucrânia na campa do general Denikin, chamando o país vizinho da “Pequena Rússia” e apelida de “criminosos” todos aqueles que a querem separar da Rússia (esquecendo que exactamente essa posição ditou a derrota do Denikin). [...] Ucrânia como anti – Rússia substitui gradualmente os EUA no retrato maniqueísta do mundo dos habitantes do Olimpo político russo. 

E não apenas porque a contraposição Rússia – EUA, apesar do seu prestígio parece cada vez mais cómica para um país que não consegue realizar o objectivo proclamado publicamente, de alcançar Portugal. Entre os criminosos e outros grupos desviantes frequentemente existe a proibição de saída. Os criminosos matam os renegados, alcoólicos (e drogados) tentam novamente seduzir aqueles que superaram o vício. A elite política russa fica extremamente emocionada: “Vocês são tão soviéticos como nós, apenas provinciais! Como vocês querem entrar na Europa?!” [...] 

Em 1991, 90,32% dos cidadãos da Ucrânia apoiaram a Independência estatal no referendo popular, cerca de 8% eram contra. Dados do serviço da pesquisa sociológica “Centro Razumkov”, apontam que em 2009 a Independência era apoiada por 52%, ¼ votariam contra, 23% ou não decidiram ou não votariam. No Ocidente da Ucrânia a Independência é apoiada por 86% contra 4%, a correlação no Centro é de 52% / 25%, no Leste 41% / 32% e no Sul 36% / 32%. [...] 

Mas se perguntar Ucrânia sobre aquilo que o país quer hoje, os dados serão diferentes. A maioria esmagadora dos ucranianos não quer a restauração da união com Rússia de nenhuma forma. Os dados do Instituto Gorshenin mostram que apenas 9,3% dos ucranianos querem ter a moeda comum com Rússia, 8,1% querem ter a legislação comum, 7,6% gostariam ter os órgãos comuns do poder estatal e 5,1% o exército comum. [...] 

Qualquer um que ganhe as eleições irá continuar o projecto Ucrânia, o curso de integração na Europa e não se integrará na Rússia. Pois Ucrânia já é diferente. Claro, que ela não é Anti – Rússia. Ela é Não – Rússia. Isso é o resultado da sua maioridade separada. 

Uma das diferenças visíveis entre Ucrânia e Rússia é existência das eleições na Ucrânia e a sua ausência na Rússia. Segunda diferença – o pluralismo da imprensa e a liberdade de expressão na Ucrânia e a ausência de tudo isso na Rússia. Terceiro: o mundo empresarial não é perseguido, tal como na Rússia. Não existe nada parecido com a “ausência da lei” por parte da polícia. A polícia de trânsito não conta, são como baratas, não é possível elimina-los. (Geórgia provou que isso é perfeitamente possível).  

Também existem muitas parecenças. Corrupção. Promiscuidade entre o mundo empresarial e o poder. A cultura empresarial, salvo erro, é pior do que na Rússia. Nas aldeias bebem menos e não existe a falta de esperança gritante, como nas aldeias russas. Talvez por isso a esperança da vida dos homens é maior. Embora em geral, os ucranianos hoje são tão soviéticos como russos [...] devem “espremer” o seu sovietismo nos próximos 15 anos, não menos do que isso. [...] 

Provavelmente a maior diferença entre dois países, é o facto da Rússia continuar considerar-se como império. Os russos, na sua maioria, estão prontos perdoar ao poder a limitação dos seus direitos em troca da grandeza aparente do país. Os cidadãos da Ucrânia certamente não estão prontos para isso. O complexo imperial russo se situa mais profundamente do que o imperialismo britânico, francês ou alemão. O imperialismo alemão foi eliminado em dois tempos. Totalmente e para sempre. Os britânicos e franceses o perderam e se não sem a sangue, certamente de forma consciente. Praticamente todas as nações imperiais já “espremeram” este seu imperialismo. [...] 

A Rússia consumiu a droga imperial em jejum, praticamente na meninice, antes de se tornar o estado nacional. Em apenas um instante histórico, entre o Ivan I e Ivan III, a Moscóvia engordou 30 (!) vezes. Somos maiores e mais grandiosos do mundo! Nesta frase, o sentido “MAIS” foi cristalizando antes de se formar o sentido de “NÓS”. Não importa quem somos! Importa que somos MAIS! Somos – Horda? Boa. Importante que somos horda superlativa. Somos o Império russo? Optimamente. Somos URSS! Belo! Importante que outra vez somos maiores e todos nós temem. Rússia – é o supra estado energético? Mas será que MAIOR? Sim, maior, não se preocupem. OK! Serve! 

Espremer o imperialismo será difícil para Rússia também porque do ponto de vista russo [...] o império é quando (o imperialista) tem o chapéu de coco e os locais são espancados com a chibata. Pelo contrário, o camarada Sukhov libertava as mulheres da Ásia Central. Como isso pode ser o império? [...] A fronteira entre a metrópole e a colónia não passa pelo mar, nem pela terra, mas passa entre a elite e a população. Nestes condições imperialismo é extremamente pegajoso. [...] 

Tudo supracitado permite tirar algumas conclusões. 

Primeiro, a julgar pelo comportamento das elites, nossos países entraram no seu 20° aniversário não como maiores de idade, mas como jovens problemáticos, que não conseguem superar os seus complexos. 

Segundo, as trajectórias da vida dos países separam-se cada vez mais. Rússia outra vez aquece o caldeirão da nação imperial. Ucrânia já rastejou fora dele e não pretende voltar. 

Terceiro, simplesmente é chato quando as pessoas [...] se tornam reféns dos políticos incapazes de crescer até a alcance das tarefas colocadas pela época.  

Fonte:
http://ej.ru/?a=note_print&id=9407

Wikipédia sobre Igor Yakovenko

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