O processo de tomar a horilka, é sem duvida um ritual. Entre o primeiro e o segundo copo, como diz o ditado popular ucraniano, não deve passar uma bala. Depois do terceiro, pode-se fumar o primeiro cigarro. Depois do sexto ou sétimo, devem-se contar as anedotas de mau gosto e é obrigatório rir-se deles. Depois do nono, pode-se começar a cantar.
por: Yurii Andrukhovych (escritor, ensaista e tradutor ucraniano)
A palavra russa, “vodka” é o diminutivo da palavra “água”. Então, os russos (e são a maioria), que dizem “vodochka” (vodkinha), usam a denominação em quadrado.
Palavra ucraniana “horilka”, tem a origem completamente diferente, vem da palavra “arder”, em alemão “brennen”, que tem a ver com fogo, incêndio, ou a própria vodka, representando o circuito perfeito deste produto na natureza: a tecnologia de fabricação e a fisiologia do consumo.
As palavras, russa e ucraniana juntas, podem dar a designação dos índios norte – americanos: “água de fogo”. Mas de qualquer maneira, a horilka ucraniana e vodka russa são palavras femininas, são damas, que sentem-se melhor na companhia masculina.
Os russos educados afirmam, que a fórmula de vodka foi descoberta pelo químico Dmitriy Ivanovitch Mendeleyev, sogro do poeta Alexander Blok e pelo meio, inventor do sistema periódico dos elementos químicos.
Por centenas de anos, a Ucrânia pertencia aos diferentes estados, geralmente impérios. E sem assim desejar, ficou na sombra da cultura russa. E todo o mundo sabe, que a vodka é um atributo do estilo de vida russo, e muitas das vezes a própria essência deste estilo da vida. Combinação de palavras “vodka russa” parece tão natural e inseparável, que passa à tautologia. O fenómeno da “horilka ucraniana”, pelo contrario, ainda não foi estudado na perfeição e não é conhecido no mundo.
O processo de tomar a horilka, é sem duvida um ritual. Entre o primeiro e o segundo copo, como diz o ditado popular ucraniano, não deve passar uma bala. Depois do terceiro, pode-se fumar o primeiro cigarro. Depois do sexto ou sétimo, devem-se contar as anedotas de mau gosto e é obrigatório rir-se deles. Depois do nono, pode-se começar a cantar.
A diferença fundamental entre os dois modelos nacionais de consumo – ucraniano e russo – reside no facto, do que os russos são algo mais extremais.
Para um ucraniano, horilka é apenas meio de levantar o seu austral, já os russos procuram em vodka a junção total com o absoluto (e não o sueco) e afundamento em abismos extremos. Ucranianos querem apenas comer bem e cantar (último, para eles quase igual a respirar). Russos, ao mesmo tempo tentam alcançar a VERDADE, quer dizer cortar as suas veias ou então, influenciados pela iluminação inesperada e insuportável, pretendem rachar o crânio ao seu próximo. Depois de cada copo de horilka, os ucranianos trincam algo saboroso e nutritivo, por exemplo o toucinho tradicional. Os russos não petiscam nada, as vezes cheiram o pão. Eles acham que petiscos com vodka – dinheiro perdido. Importante não é o sabor, importante alcançar o efeito. E quando menos petiscos, maiores são as chances. Finalizando, pode-se dizer que ucranianos procuram o meio, e os russos o objectivo.
Por isso, os russos consideram amoral escolher a vodka ou recusa-la. Eles sempre dizem que existe a vodka apenas “boa” ou “muito boa”. E nada de terceiros variantes. Estatística de mortes ou envenenamentos graves, provocados por vodka sem qualidade, ou seja “boa” & “muito boa”, é igual ao martírio nacional russo. E se estamos falar da religião (e para os russos isso é exactamente o caso), então todos os anos, os mártires sagrados recebem centenas de milhar de camaradas novos.
Na última década, a industria de bebidas secas da Ucrânia, abertamente entrou no caminho profano de deliciação. Foram criados os tipos de horilkas mais variadas. Neste momento existe mais de mil tipos – apenas a sua lista, poderia ser comparada com a poesia barroca – as combinações de sabores sem fim.
Basta mencionar a combinação doce & picante do mel e malagueta, numa das marcas mais populares! Por isso, os meus amigos moscovitas, contaminados pela podridão do liberalismo europeu e traindo os valores nacionais milenares russos, sempre me pedem trazer como presente, uma ou duas garrafitas de horilka ucraniana. Embora a primeira vista, trazer a horilka à Moscovo, é o mesmo que trazer o arroz ao Xangai. Mas apenas a primeira vista. Porque vodka é uma coisa e horilka é algo diferente. Temos o caso de duas bebidas completamente diferentes. Ou então, temos outro caso gramático – estamos perante duas irmãs duma mesma família dos quarenta graus. O que os une em primeiro lugar, é a ameaça de extinção na vida juvenil, movida pela cerveja e outros produtos criados pela globalização: coquetéis “gin – tónico” ou “brandy – cola”.
Não quero atrair a desgraça, mas as tendências recentes mostram que, quer a vodka, quer a horilka, gradualmente perdem o seu prestígio entre a juventude. E se essa tendência dominará, então daqui a alguns dezenas de anos, caso estivermos vivos, poderemos presenciar o cataclismo nunca visto nessa civilização – uma total lucidez dos eslavos.
Ler o texto original em alemão:
Palavra ucraniana “horilka”, tem a origem completamente diferente, vem da palavra “arder”, em alemão “brennen”, que tem a ver com fogo, incêndio, ou a própria vodka, representando o circuito perfeito deste produto na natureza: a tecnologia de fabricação e a fisiologia do consumo.
As palavras, russa e ucraniana juntas, podem dar a designação dos índios norte – americanos: “água de fogo”. Mas de qualquer maneira, a horilka ucraniana e vodka russa são palavras femininas, são damas, que sentem-se melhor na companhia masculina.
Os russos educados afirmam, que a fórmula de vodka foi descoberta pelo químico Dmitriy Ivanovitch Mendeleyev, sogro do poeta Alexander Blok e pelo meio, inventor do sistema periódico dos elementos químicos.
Por centenas de anos, a Ucrânia pertencia aos diferentes estados, geralmente impérios. E sem assim desejar, ficou na sombra da cultura russa. E todo o mundo sabe, que a vodka é um atributo do estilo de vida russo, e muitas das vezes a própria essência deste estilo da vida. Combinação de palavras “vodka russa” parece tão natural e inseparável, que passa à tautologia. O fenómeno da “horilka ucraniana”, pelo contrario, ainda não foi estudado na perfeição e não é conhecido no mundo.
O processo de tomar a horilka, é sem duvida um ritual. Entre o primeiro e o segundo copo, como diz o ditado popular ucraniano, não deve passar uma bala. Depois do terceiro, pode-se fumar o primeiro cigarro. Depois do sexto ou sétimo, devem-se contar as anedotas de mau gosto e é obrigatório rir-se deles. Depois do nono, pode-se começar a cantar.
A diferença fundamental entre os dois modelos nacionais de consumo – ucraniano e russo – reside no facto, do que os russos são algo mais extremais.
Para um ucraniano, horilka é apenas meio de levantar o seu austral, já os russos procuram em vodka a junção total com o absoluto (e não o sueco) e afundamento em abismos extremos. Ucranianos querem apenas comer bem e cantar (último, para eles quase igual a respirar). Russos, ao mesmo tempo tentam alcançar a VERDADE, quer dizer cortar as suas veias ou então, influenciados pela iluminação inesperada e insuportável, pretendem rachar o crânio ao seu próximo. Depois de cada copo de horilka, os ucranianos trincam algo saboroso e nutritivo, por exemplo o toucinho tradicional. Os russos não petiscam nada, as vezes cheiram o pão. Eles acham que petiscos com vodka – dinheiro perdido. Importante não é o sabor, importante alcançar o efeito. E quando menos petiscos, maiores são as chances. Finalizando, pode-se dizer que ucranianos procuram o meio, e os russos o objectivo.
Por isso, os russos consideram amoral escolher a vodka ou recusa-la. Eles sempre dizem que existe a vodka apenas “boa” ou “muito boa”. E nada de terceiros variantes. Estatística de mortes ou envenenamentos graves, provocados por vodka sem qualidade, ou seja “boa” & “muito boa”, é igual ao martírio nacional russo. E se estamos falar da religião (e para os russos isso é exactamente o caso), então todos os anos, os mártires sagrados recebem centenas de milhar de camaradas novos.
Na última década, a industria de bebidas secas da Ucrânia, abertamente entrou no caminho profano de deliciação. Foram criados os tipos de horilkas mais variadas. Neste momento existe mais de mil tipos – apenas a sua lista, poderia ser comparada com a poesia barroca – as combinações de sabores sem fim.
Basta mencionar a combinação doce & picante do mel e malagueta, numa das marcas mais populares! Por isso, os meus amigos moscovitas, contaminados pela podridão do liberalismo europeu e traindo os valores nacionais milenares russos, sempre me pedem trazer como presente, uma ou duas garrafitas de horilka ucraniana. Embora a primeira vista, trazer a horilka à Moscovo, é o mesmo que trazer o arroz ao Xangai. Mas apenas a primeira vista. Porque vodka é uma coisa e horilka é algo diferente. Temos o caso de duas bebidas completamente diferentes. Ou então, temos outro caso gramático – estamos perante duas irmãs duma mesma família dos quarenta graus. O que os une em primeiro lugar, é a ameaça de extinção na vida juvenil, movida pela cerveja e outros produtos criados pela globalização: coquetéis “gin – tónico” ou “brandy – cola”.
Não quero atrair a desgraça, mas as tendências recentes mostram que, quer a vodka, quer a horilka, gradualmente perdem o seu prestígio entre a juventude. E se essa tendência dominará, então daqui a alguns dezenas de anos, caso estivermos vivos, poderemos presenciar o cataclismo nunca visto nessa civilização – uma total lucidez dos eslavos.
Ler o texto original em alemão: