sexta-feira, dezembro 06, 2024

A espiã russa formalmente acusada pelo Departamento de Justiça dos EUA

A russa Nomma Zarubina, residente nos Estados Unidos, foi acusada pelo Departamento de Justiça dos EUA de colaborar com os serviços secretos russos e de reportar informações falsas sobre si própria aos agentes do FBI. 

O Departamento de Justiça dos EUA acusou a cidadã russa Nomma Zarubina, de 34 anos, que vive em Nova Iorque, de colaborar com os serviços secretos russos e de reportar informações falsas sobre si própria a agentes do FBI. Isto foi noticiado pelo advogado Igor Slabykh, autor do TG canal das notícias jurídicas dos EUA e pelo projeto Russian America for Democracy in Russia (RADR), escreve a publicação Meduza.io 

Tudo indica que Zarubina foi incumbida pela direcção regional de FSB de Tomsk, de desenvolver uma rede de contactos nos EUA entre jornalistas, funcionários de grupos de reflexão e professores universitários, ela também recebia periodicamente as tarefas de “trabalhar em determinados indivíduos” com vista à possibilidade de os convencer de adotar a “visão russa da situação”. Em algum momento, Zarubina contactou FBI, mas escondeu dos agentes que tinha contactos com os serviços de informação russos. De acordo com a RADR, o FSB recrutou Zarubina em 2020, atribuindo-lhe o nome de código de «Alyssa». Zarubina “trabalhou e manteve uma relação pessoal próxima”, com Elena Branson, a responsável do Centro Russo em Nova Iorque (RCNY). Em setembro de 2020, o FBI conduziu uma busca em casa da Branson, após a qual ela fugiu para a rússia. As autoridades norte-americanas acusaram-na de espalhar a influência russa sob as ordens da rússia, de conspiração e de violar a lei dos «agentes estrangeiros». Branson nunca mais voltou aos Estados Unidos. 

Neste momento Zarubina só é acusada de reportar informações falsas; não foi formalmente acusada de espionagem ou de ser uma “agente estrangeira” não registada; segundo Dr. Slabykh, Zarubina foi detida a 21 de novembro e depois libertada sob fiança de 25 mil dólares com restrições adicionais: o seu passaporte foi retido, foi proibida de ter contactos com as autoridades russas e de viajar para fora de Nova Iorque. 

O antigo chefe de gabinete de Alexei Navalny, político russo Leonid Volkov, escreveu publicamente que se lembrava da Zarubina, que viu em Washington, em janeiro de 2023, numa reunião pública com apoiantes. O político disse que reparou numa menina que estava sentada na primeira fila da plateia, esteve a olhar para o telefone durante toda a reunião e não mostrou nenhum interesse na conversa. “Mas assim que a reunião terminou, ela foi a primeira a saltar na minha direção e a pedir uma selfie. E imediatamente após a selfie, saiu”, escreveu Volkov. 

Da forma muito semelhante Zarubina se comportava nos diversos outros eventos: “interesse zero no conteúdo da conversa, mas uma selfie obrigatória a qualquer custo com o maior número possível de figuras públicas”. 

Zarubina mantem perfis em diversas redes sociais  VK, Facebook, Instagram, Linkedin. Em 2014, ela publicou um vídeo com um discurso do neofascista russo Alexander Dugin sobre Ucrânia e o discurso de Vladimir Putin sobre a anexação da Crimeia, e em 2016  citações críticas de Dostoiévski sobre liberais e artigos sobre “sujidade e devastação” nos Estados Unidos . A julgar pelas publicações, pouco depois de se ter mudado para os Estados Unidos, em março de 2016, Zarubina casou-se. 

Em entrevista ao Sibir.Realii, Zarubina contou que era originária de Tomsk, foi para os EUA como turista, conseguiu um visto de estudante e veio para a rússia pela última vez em março de 2022 – levou a filha, que vivia com a avó. Segundo a própria, os serviços secretos russos contactaram-na em 2020, durante uma das suas visitas à rússia, para depois “manter contacto por alguns dos seus motivos internos”. 

De dezembro de 2020 à 2022 Zarubina, comunicou regularmente com um oficial do FSB de Tomsk, cujas mensagens incluíam “um pedido para realizar determinadas tarefas nos Estados Unidos”. Por exemplo, em 2021, Zarubina deveria visitar o Fórum Económico Internacional de São Petersburgo (SPIEF) e encontrar jornalistas que estivessem dispostos a publicar “histórias positivas sobre este acontecimento e sobre a rússia”. Também no telefone de Zarubina estava uma foto dos contactos de um produtor de uma “empresa estatal de media internacional” alemã, tirada, segundo o FBI, sob instruções de um oficial dos serviços de informação russos. 

Zarubina no espaço ucraniano Ukraine House em Nova Iorque

O documento cita a própria Zarubina dizendo que quando se encontrou pela primeira vez com o oficial do FSB em Tomsk, ele queria “mapear” os seus contactos nos Estados Unidos e “encontrar formas de tirar partido de ligações úteis”. Zarubina terá concordado em trabalhar com ele. 

Zarubina tem sido repetidamente oradora em reuniões do Fórum dos Povos Livres da Pós-rússia, uma plataforma para discutir a descolonização da rússia. No final de Novembro de 2024, o Supremo Tribunal da federação russa declarou o Fórum e as suas divisões estruturais como “organizações terroristas”. 

Agora Zarubina espera pelo julgamento. Espera-se que o FBI apresente as provas e o juiz decidirá se Nonna Zarubina será julgada e em que concretamente será acusada. 

Zarubina em Kyiv na Maydan em 2016

Tudo indica que Zarubina era usada pelo FSB para espiar a comunidade emigrante russa nos EUA e também para tentar se aproximar às organizações ucraniano-americanas, usando, como a mais valia, a sua origem étnica supostamente «siberiana».

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