terça-feira, março 15, 2011

Caso Gongadze quase encerrado


A morte do jornalista ucraniano Georgiy Gongadze assassinado pelas autoridades policiais aconteceu em 2000. A indignação popular originou o movimento nacional “Ucrânia sem Kuchma”, que por sua vez possibilitou a vitória da Revolução Laranja em 2005. Hoje, o novo presidente e o novo governo da Ucrânia pretendem encerrar o caso à todo o custo, tornando a Ucrânia numa ditadura sem Lei, sem liberdade e sem justiça.


por: Serhiy Leshchenko, " Ukrayinska Pravda"


Recentemente, a Procuradoria-Geral da Ucrânia decidiu retomar a investigação no caso Georgiy Gongadze. Na altura em que decorria o concurso a Procurador-Geral, Renat Kuzmin (Primeiro Vice-Procurador-Geral), um dos favoritos ao cargo, propôs a reabertura do referido caso em directo, num talk-show televisivo.


Muito menos publicamente, logo após o fim da corrida para o cargo ao Procurador-geral, foi tomada outra decisão – reformular a acusação contra o principal figurante – ex-general do Ministério do Interior (MINT) Olexiy Pukach.

Anteriormente, o general Pukach era acusado em "assassinato por encomenda” (Parágrafo "e" do artigo 93 do Código Penal da Ucrânia). Como mandante do crime foi pronunciado o Ministro do Interior na altura, Yuriy Kravchenko, que em 2005, após a vitória da Revolução Laranja “suicidou-se” com dois tiros na cabeça.

A investigação ucraniana concluiu que "... aproximadamente a 13 ou 14 Setembro de 2000, no seu escritório particular, em Kiev, Ministro do Interior da Ucrânia, Yuriy Kravchenko, deu oralmente ao Chefe do Departamento dos Assuntos Internos do MINT da Ucrânia, Olexiy Pukach, a ordem criminosa de matar o jornalista Georgiy Gongadze, de modo a pôr fim ao seu trabalho... O. P. Pukach, agindo em interesse pessoal e com intenções da prosperar na carreira, não querendo complicar as relações com o Dirigente do MINT da Ucrânia, contando agradar Y. Kravchenko e assim ser promovido a uma patente superior, concordou em cumprir a ordem de Y. Kravchenko, ou seja, matar por encomenda Georgiy Gongadze.


Dessa maneira, os passos de Y. Kravchenko foram qualificados pela Procuradoria-Geral ao abrigo do parágrafo "e" do artigo 93 do Código Penal de 1960 como"assassinato por encomenda".


Mas dois meses depois, quando Renat Kuzmin mudou a equipa de investigação, o processo de acusação contra Olexiy Pukach na parte de "assassinato por encomenda" foi discretamente fechado. O jornal on-line " Ukrayinska Pravda" publicou o documento, apresentado aos 03 de Dezembro de 2010, pelo novo investigador no caso Gongadze, Vladislav Gryshchenko:


"... Após uma investigação mais aprofundada do processo criminal e interrogatórios adicionais a Olexiy Pukach declarou-se que o assassinato de G. Gongadze não foi executado por encomenda, mas sim por execução de uma ordem manifestamente criminosa do Ministro do Interior, Y. Kravchenko, ou de outras pessoas não identificadas, e não foi premeditado por um grupo de pessoas…”


Entre o “assassinato por encomenda" e a "conexão com a execução da ordem manifestamente criminosa" existe uma grande diferença.


Qual será o impacto?


Se Olexiy Pukach fosse condenado por "homicídio por encomenda” e o tribunal reconhecesse tal crime, então o caso Gongadze não seria fechado até que todos os participantes do crime fossem revelados.


Hoje, pretende-se que Olexiy Pukach seja julgado pelo "assassinato cometido por uma conspiração de um grupo de pessoas", e na Procuradoria-Geral da República abre-se uma janela de oportunidades. A falta de indícios de Olexiy Pukach de assassínio por encomenda dará à Procuradoria-Geral a alternativa de fechar o caso contra ele por circunstâncias incongruentes – e eventualmente fechar todo o caso Gongadze.


Na verdade, se Olexiy Pukach não for julgado pelo assassinato por encomenda, isso permitirá mais eficazmente a chantagem de figuras políticas cujos nomes surgem nos registos do major Mykola Melnychenko. Por exemplo, em troca de encerramento do caso Gongadze podem ser garantidas concessões políticas a alguns dos figurantes deste caso ainda por desvendar.

1 comentário:

Anónimo disse...

É lastimável ver o rumo que a Ucrania está tomando com o atual governo. O país está se afastando cada vez mais do Ocidente. Enquanto o povo nos países árabes saem as ruas por democracia, a Ucrania dá um passo pra trás. Acho que o Ocidente tem sua parcela de culpa pois nao deu apoio a Ucrania quando deveria, ao governo da Revolucao Laranja, por exemplo. Parece-me que naquele encontro na Franca entre os chefes de estado daquele país mais Alemanha e Rússia ficou "acertada" a divisao da Europa. A parte da antiga URSS ficaria sob a esfera russa, parece que a Alemanha e a Franca aceitaram de bom grado isso. O próprio Obama já tinha admitido isso em sua nova política externa para regiao. A verdade é que a Europa Ocidental tem medo da Rússia com seu arsenal nuclear e seus chefes de estado loucos.