terça-feira, março 22, 2011

Bombardear Gaddafi até o fim!



Embora a operação “Odyssey Dawn” (Odisseia na Madrugada) prossegue no seu terceiro dia, o “cão raivoso do Médio Oriente”, ditador Gaddafi continua com os bombardeamentos massificados da Ajdabiya, Bengazi, Misurata e Zintan.



Quando o CS da ONU votou favoravelmente a resolução № 1973 e o ministro do Gaddafi prometeu o cessar-fogo imediato, logo fiquei com a sensação dolorosa do que o Ocidente, se calhar não leu ou já se esqueceu do romance 1984 do George Orwell. Pois todos os ditadores adoram a “novalíngua”, onde as palavras perdem o seu significado habitual e a palavra “paz” significa guerra, “libertar” significa roubar e “cessar-fogo” pode significar o ataque imediato.



E assim aconteceu, pois nas primeiras horas do sábado a cidade de Bengazi foi atacada pelas forças do Gaddafi, de fora e de dentro (a 5ª coluna dos homens que vestiam o fardamento militar sobre as calças de ganga). Naquela altura os insurgentes acidentalmente abateram o seu próprio Mig-23, que em segundos atingiu a terra como uma vela ardente. Ainda não sei o nome do piloto, mas infelizmente tudo indica que este corajoso oficial da força aérea líbia faleceu, pois se ejectou apenas uns 200 metros acima da superfície. Também não devemos esquecer Mohammed Nabous, o jovem câmara-man, que documentava em vídeo os acontecimentos em Bengazi. Mohammed morreu naquele mesmo sábado, atingido por um único tiro na cabeça, presumivelmente por assassinos de Gaddafi. Nunca pensei dizer isso, mas hoje sinceramente desejo que o Allah lhes concede o Jannah.



As mentiras do regime do Gaddafi sobre o número dos mortos são extremamente cínicas, mas também demasiadamente estúpidas, de maneira que só podem enganar apenas aqueles que desejam de serem enganados. Como aquela primeira notícia que dava conta da morte dos civis: “crianças, mulheres e clérigos”. Aos especialistas das RP do Gaddafi só faltava dizer que as vítimas eram “crianças recém-nascidas, mulheres grávidas que amamentavam as suas crianças recém-nascidos e os clérigos que estudavam o livro sagrado”. Pelo contrário, até agora não vi nenhuma prova séria da morte de alguma vítima civil que pareceu em resultado dos bombardeamentos aliados.



O jornalista sénior da Aljazeera English, Marwan Bishara disse uma coisa bem acertada sobre o estilo comunicacional do Gaddafi e do seu círculo próximo: “ameaçam e imploram”. De facto, um dia Gaddafi afirma estar “combater a Al-Qaeda do Magreb”, outro dia ditador promete “convidar Bin Laden ao Trípoli e financiar o terrorismo na Europa”; ora Gaddafi afirma que “a resolução do CS da ONU é inválida e o CS não é habilitado de tomar essa decisão”, mas já no dia seguinte “exige a reunião imediata do CS da ONU”. Já para não falar sobre as constantes decisões sobre o cessar-fogo que são violados no mesmo momento em que são anunciados aos correspondentes estrangeiros.



Quem tenta “suavizar” o destino do Gaddafi? No CS da ONU foi BRIC mais Alemanha, tanto preocupados com o destino dos civis, que não se importavam em nada de entregar todos os habitantes da Bengazi ao mercê do Gaddafi, que prometia nas vésperas “nenhuma pena, nenhuma compaixão”. Quando operação no terreno começou, foi a vez do Comité da União Africana se manifestar “contra os ataques aéreos”. Pelos vistos este grupo de ditadores e dos seus serventes (agradecidos de vez em quando com os dólares do Gaddafi), também só se preocupa com o destino do ditador, mas já não com o destino dos moradores da Ajdabiya, Bengazi, Misurata ou Zintan.



Quem mais se manifesta contra os bombardeamentos do Gaddafi? China e Chavez (se calar, sente que pode ser próximo); na Rússia o primeiro – ministro Putin usa a linguagem da Al-Qaeda falando em “cruzados”; enquanto presidente Medvedev adverte contra a linguagem “que sugere o choque civilizacional” e proíbe a entrada do Gaddafi e dos seus familiares no país. Se calhar, por um lado temos o velho jogo do “polícia bom e polícia mal”, por outro lado temos o início da campanha presidencial entre ambos, mais que as sondagens não são famosas para os lados do Medvedev.



Por último, “o dito por não dito” do Amr Moussa da Liga Árabe. Aqui é difícil discordar com Issaf Gaddafi, que apontou a necessidade urgente de Amr Moussa de agradar a “rua árabe”, na tentativa de se eleger como o próximo presidente do Egipto.



Por fim, espero que a operação militar poderá prosseguir no terreno para aniquilar rapidamente toda e qualquer capacidade do Gaddafi de agredir o seu próprio povo. E claro, Viva la France pelo esforço do Nicolas Sarkozy de desalojar Gaddafi do poder, neste caso mais vale tarde que nunca...

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