terça-feira, maio 24, 2005

Final do Eurovisão: favores em cadeia

Entre doze países, que obtiveram a melhor classificação, seis pertencem a Europa Central e Oriental, mais representantes da Suíça, que nasceram em Tallinn. Para o ano, vamos se encontrar na Grécia, até ai recomendo vos GreenJolly: www.greenjolly.net

Outra vez apresentado por Pavló e Maria, o final do Festival Eurovisão começou na hora e data certa. Eram 21:00 (hora de Moçambique), dia 21 de Maio de 2005. O Palácio de Desporto de Kyiv (que o apresentador português continuava a teimar de chamar de Kiév), estava repleto de pessoas, milhões de espectadores, assistiam o Festival pela televisão.
No início, actuou a Ruslana. Canção lembrava a “Dança selvagem”, nas mãos, Ruslana tinha um mini lança – chamas e parecia muito sexy...

1. Primeira concorrente era da Hungria e continuava em grande forma. Szilvia e grupo Nok, cantou a “Spin world” em húngaro e agradou a plateia. Violino chorava, a letra evocava a deusa da noite (o nosso bom comentador português continuava de chamar a deusa de eslava). A coreografia era simples, mas muito bonita.
2. Javine Hylton, a rapariga, que representava o Reino Unido, parecia uma mistura de Beyonce com Shaquira. Os dançarinos eram vestidos à oriental e parecia que saíram de Mil e Uma Noite árabe. Mas o seu “Touch my fire” não agradou a plateia.
3. Terceira concorrente era da Malta. Chiara, já participou no Eurovisão em 1998, mas desde aí, engordou um bocado. Apelidada de “A Voz” por jornais da sua terra, ela era uma séria candidata para vencer o Festival. Cantava em inglês e não tinha nenhum dançarino. No final ficou em segundo lugar.
4. A canção da Roménia, “Let Me Try”, tinha estilo. Luminita, famosa na Roménia desde 1995, tem uma bela voz, o grupo “System” conseguiu demonstrar uma boa coreografia. Eles pretendiam ficar entre dez primeiros. Conseguiram, pois foram terceiros.
5. Noruega, representada pelo Wig Wam, cantou “In my Dreams”. O solista Glam, sósia de Marlyn Manson outra vez abanava um pano cor de laranja, evocando a Revolução ucraniana. Música tinha bastantes semelhanças com as do Marlyn, Bon Jovi, “Europe” e talvez “Quinn”. Mas apesar do tudo isso, os europeus gostaram e deram ao grupo o nono lugar no final.
6. Gülseren, que representou a Turquia, era muito tradicional, a sua coreografia também. Penso que o país não acertou com escolha, pois moda do oriental começa a passar um pouco.
7. Moldova era o número sete. O seu representante, grupo Zdob si Zdub, liderado pelo Roman Yahupov, mostrou um drive fenomenal e energia completamente louca. Desta vez Roman tirou a camisa e fiz um desenho no corpo, que imitava a bordagem tradicional da Moldova. Dançarinos continuavam voar pelo palco e bisavó Boonika, apareceu no palco para tocar o tambor. Foi uma actuação memorável. Canção da Moldova, uma das poucas, que entrou na minha memória, ficou no sexto lugar no geral.
Recomendo muito bastante: http://www.zdob-si-zdub.com/
8. A Ledina Çelo da Albânia apostou na coreografia albanesa, embora cantou em inglês: “Tommorow I Go”. A namorada do meu melhor amigo, disse que o peito dela é de silicone (Rita Lee não ia gostar). Ledina perdeu-se um pouco.
9. O homem do Chipre, Constantinos, cantou “Ela Ela” e lembrou o Ricky Martin. Constantinos já participou no Festival em 1996 e tinha um apeal bastante comercial. Usava um grito: “Oi”, que me pereceu ser copiado da Ruslana.
10. A Espanha apostou em três meninas conhecidas como “Son de Sol”, que lembravam a Shaquira e cantaram uma música chamada “Brujería”. Um dos seus dançarinos tinha ar de gangster, e no meio da música apareceu em pouco de rap. Foi uma coisa muito colorida, muito viva, mas também algo cansativa e previsível. Público não gostou.
11. Shiri Maimon do Israel, antes de ser cantora nocturna, cumpriu o serviço militar obrigatório, cantando na Força Aérea israelita. Moça parecia uma mistura ente M. Karrey e W. Huston, mas agradou o público, que a presenteou com quarto lugar no final.
12. Os da Serbia & Montenegro, grupo de cinco rapazes, chamados “No Name”, tinham o violino cigano, os tambores e agradaram as jovens adolescentes em toda a Europa, que lhes deram o sétimo lugar.
13. A Dinamarca também apostou num grupo de rapazes, que canta para as adolescentes. Para convencer as meninas da Ucrânia, jovens até usaram os fatos – treinos cor de laranja. Mas parece que a sua música, “Talking to you”, foi menos convincente do que dos sérvios & montenegrinos.
14. Cantor da Suécia, Martin Stenmarck tinha a voz do Joe Cocker (que fiz nestes dias 61 anos), casaco de cabedal, ar de rockista e quatro lindas meninas para dançar: duas liras e duas morenas. Martin cantou em inglês “Las Vegas”, mas não devia fazer isso, os EUA são extremamente impopulares na Europa, nos dias de hoje.
15. A Macedónia (e NÃO F.Y.R. Macedónia), cantou “Make my day”, na voz do Martin Gucic, onde o inglês era misturado com alguns motivos étnicos, orientais, fruto da influência da minoria muçulmana da Macedónia. O rapaz tem apenas 23 anos, mas já é o disco de platina no seu país.
16. Depois actuaram os donos da casa, representantes da Ucrânia – grupo GreenJolly. Penso que faltou lhes um pouco de energia, do drive que a Moldova tinha até em excesso. Em defesa dos rapazes só posso dizer o seguinte: são novos nestes andanças, foram duramente criticados por muita gente, que odeia a Revolução Laranja e não tiveram todo o suporte necessário, para estar preparados 100% psicologicamente. Pior, muitos fizeram a questão de criar o clima de tenção, apenas para atrapalhar aqueles, que já foram considerados autores do hino da Revolução ucraniana. Mesmo assim, rapaziada não tive a pior classificação, ultrapassando os concorrentes muito mais fortes, caso da Grã - Bretanha ou França. Daqui alguns anos, poderão tentar outra vez!
17. A representante da Alemanha, Gracia, inspirou-se no grupo Ramstein. Daí o fato de cabedal e toda a outra parafernália, trazida por seus acompanhantes. Tinha uma bela voz e cantou em inglês.
18. Boris Novković, da Croácia acha que “Lobos morem sozinhos”. Alem disso, os croatas tocaram a gaita de foles / cornamusa e um violino. Continuo a achar que a canção foi muito “balcânica”, mas o público gostou e Croácia ficou no meio da tabela.
19. Helena Paparizou, nascida na Grécia, residente na Suécia, e em representação do seu país natal, também me lembrava a Shaquira. Quer pelo estilo de cantar, quer pela coreografia: foi recriada a imagem de uma mulher poderosa, rodeada por quatro belos rapazes. Música, ao meu ver não era nada helénica, mas a dança, de facto, lembrava o filme “Zorba, o grego”. Inexplicavelmente, acabou por ganhar o Festival...
20. Natalia Podolskaya da Rússia, cantou “Nobody Hurt No-one” em inglês, apostando no som mais rock. Público notou o estilo do seu vestido.
21. As três meninas loiras da Bósnia & Herzegovina, conhecidas como “Feminnem”, pareciam quer visualmente, quer musicalmente com ABBA. Sua canção chamava-se “Zovi” (Chama), mas era em inglês. Era uma cartada bastante retro, mas parece que não cativou muita gente.
22. Os representantes da Suíça, “Vanila Ninja”, nasceram na Estónia. Pareciam – gente cool, cantaram “Cool vibe” e até tinham um certo vibe, que lhes valeu o oitavo lugar na classificação geral.
23. Dois jovens da Letónia, Walters(18) & Kazha(18), cantaram em inglês “The war is not over”. Uma mistura de rock com country, sua música agradou a audiência, e apesar da voz do Walters ceder a pressão da actuação anterior, a dupla letã ficou no honroso quinto lugar do geral. A cantar assim, penso que dois jovens podem ter uma carreira bem promissora no Mundo do espectáculo e não será a última vez, que actuarão em concerto em Madison Square Garden, em Nova Iorque.
24. A cantora Ortal da França é filha do pai israelita e mãe da Andaluzia. Ela cantou a “Chacun pense à soi” em francês e ficou na penúltima posição. Não sei explicar porque...

Como já disse antes, não vejo grande diferença entre actuação da Grécia, da Grã – Bretanha e da França. Todas as três meninas: Helena Paparizou, Javine Hylton e Ortal foram mais ou menos copias da Shakira: desde a guarda roupa até a maneira de cantar. Porque uma ganhou o Festival com 230 pontos arrecadados e duas outras ficaram nos últimos lugares, continua ser uma enigma para me. Mas competição é isso mesmo, uns ganham, outros perdem. É tal igual ao futebol: o Campeão de Portugal deste ano, foi a Benfica, os outros só podem chorar...
Depois os melhores pugilistas da Ucrânia, irmãos Vitaliy e Volodymyr Klichko, deram o inicio para votação europeia. Outra vez os dez minutos angustiantes, e finalmente temos a lista dos melhores. Eis a ela:

1. Grécia (230 pontos);
2. Malta (192 pontos);
3. Roménia (158 pontos);
4. Israel (154 pontos);
5. Letónia (153 pontos);
6. Moldova (148 pontos);
7. Sérvia & Montenegro (137 pontos);
8. Suíça (128 pontos);
9. Noruega (125 pontos);
10. Dinamarca (125 pontos);
11. Croácia (115 pontos);
12. Hungria (97 pontos);
<...>
20. Ucrânia (30 pontos, em igualdade de pontuação com № 19, Suécia). Ucrânia também ultrapassou a Espanha, Grã – Bretanha, França e Alemanha.

No fim, do Festival, podemos afirmar que muitos dos participantes se inspiraram em Ruslana: motivos étnicos, muitos tambores e uma boa pitada do pop comercial. Helena Paparizou, foi a mais honesta, afirmou que deve muito à Ruslana, inspirando inclusivamente a sua música na “Dança Selvagem”:
- Ruslana, foi uma inspiração para os outros países, para fazer as coisas mais tradicionais.
O Presidente Viktor Yushchenko, ofereceu a vencedora uma espectral de ouro, cujo modelo baseou-se na joalharia tradicional ucraniana, do grupo étnico Gutsul, que vive nos montes Cárpatos e que foi formado no século XIX AC.
- Este é o prémio ucraniano, para o melhor artista europeu, à favor de uma Europa unida, - disse Presidente Yushchenko, dando dois beijinhos à Helena Paparizou.

E finalmente, o que é preciso para ganhar o Festival? Acho que preciso ter amigos ao nível regional, apoio das comunidades emigrantes e algum dinheiro para a promoção. No ano passado, foram gastos 200 mil USD na promoção da Ruslana. Quanto foi gasto para promover os GreenJolly? Não sei, mas penso que muito menos...

Por sua vez, agradecemos a Polónia, Moldova, Portugal, Rússia e Espanha e todos os brasileiros e africanos em Portugal e em toda a Europa, que votaram na Ucrânia e no grupo Greenjolly!!!

Saudações revolucionários e até p’ra ano!

Alguns dados curiosos sobre os 50 anos do Festival Eurovisão
(Retirado do livro "The Eurovision Song Contest: 50 Years - The Official History”, por John Kennedy O'Connor, publicado pelo Carlton Books, preço: £14.99).

• No primeiro Festival, em 1956 na Suíça, havia só 7 concorrentes, certame era transmitido apenas pela TV local, perante a plateia de 200 pessoas. A maioria das canções falava do amor, mas também da lua, estrelas, céus, cometas e outros corpos celestiais.

Os altos do Eurovisão

• A Irlanda é o país ganhador do festival, tendo sete vitorias, seguida pela Grã – Bretanha, França e Luxemburgo com cinco vitorias cada.
• Desde 1968 o Eurovisão é transmitido em cores.
• Irlandês Johnny Logan, tornou-se a lenda do festival, quando o ganhou em 1987, pela segunda vez.

Os baixos do Eurovisão

• Em 1964 a transmissão do Festival foi interrompida por um manifestante.
• Em 1974 a britânica Katie Boyle usava um vestido salmão – rosa e nenhuma roupa interior.
• Na batalha em 2005, para representar o Reino Unido, a Javine Hylton venceu a favorita, Jordan. Uma vez perdendo, Jordan chamou a Javine Hylton de: "silly vaca e puta".

Países que tiveram a “votação nula" (quantas vezes)

Noruega 4, Áustria 3, Finlândia 3, Espanha 3, Suíça 3, Holanda 2, Bélgica 2, Alemanha 2, Portugal 2, Turquia 2.

Mais longa esperança para ganhar o Festival (em anos)

Bélgica 30, Jugoslávia 28, Turquia 28, Alemanha 26, Noruega 25, Suécia 16, Mónaco 12, Grã - Bretanha 10.

P.S. E já que vos falei de futebol, quero dizer mais uma coisa (sem ofensas para os benfiquistas moçambicanos). O verdadeiro espirito colonialista reside no facto do que a vitoria da equipa de futebol de um país estrangeiro, é promovida à causa nacional...

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