quarta-feira, outubro 19, 2005

Hector Babenco – ucraniano que venceu a morte

Apaixonados pelo trabalho do Hector Babenco, desde os primeiros dez minutos do filme “O beijo da Mulher – Aranha”. Desde ai, nunca paramos de pensar no Babenco: um verdadeiro génio da cinema, praticamente desconhecido na terra dos seus antepassados, a Ucrânia. E no resto do mundo, são quase desconhecidas as suas raízes ucranianas. Morreu, em São Paulo, no último dia 13 de junho, tinha ele 70 anos. Aqui vem a homenagem à este grande ucraniano.

HECTOR EDUARDO BABENCO (Filmes e Prémios)

Nascido na Argentina, na pequena cidade de Mar del Plata (outros dados apontam Buenos Aires) em 7 de Fevereiro de 1946 (1948?), filho do pai ucraniano-argentino, Jaime Babenco e da mãe judia de origem polaca. Hector Babenco se inicia no cinema como figurante no filme Caradura, de Dino Risi, filmado na Argentina em 1963. Viveu na Europa entre 1964 e 1968, onde viajou muito e exerceu vários ofícios (pintor de prédios, lavador de pratos, figurante em filmes dos directores espanhóis: Sérgio Corbucci, Giorgio Ferroni e Mário Camus). Em 1969 Babenco chegou ao Brasil para se instalar em São Paulo, em 1972, funda a HB Filmes e dirige curtas – metragens como Carnaval da vitória e Museu de Arte de São Paulo. Obteve a nacionalidade brasileira em 1977 (outros dados em 1970).

Aos 16 anos Hector Babenco estreia-se no teatro com as madeixas pintadas de branco, tentando convencer o público, no papel do chefe da família na peça naturalista "Em família", do uruguaio Florencio Sánchez. "Não convenci: eu queria apenas sair da minha timidez crónica, quase patológica, e acabei descobrindo o meu lugar", comenta. Mas o teatro nunca ficou definitivamente de lado. Foi ele quem encenou pela primeira vez no Brasil um texto do americano Sam Sheppard, Fool for Love, com sua mulher, Xuxa Lopes, e o novelissímo Edson Celulari. Segundo Renata Sorrah, "o (Hector) Babenco - que vem do cinema - apontou caminhos novos de interpretação, como o de conseguir fazer uma pergunta vital ao outro personagem olhando para uma xícara de café, em vez de jogar a pergunta de forma dramática, olho no olho". 

Em 1975, dirigiu sua primeira longa - metragem, O REI DA NOITE, que retractava a trajectória de um boémio paulistano, com a participação de Paulo José e Marília Pêra. Com seu segundo filme, LÚCIO FLÁVIO, O PASSAGEIRO DA AGONIA, inspirado em factos reais, conseguiu uma das melhores bilheterias do cinema brasileiro (5,4 milhões de pessoas). Em 1981, dirigiu PIXOTE, A LEI DO MAIS FRACO, sobre as crianças abandonadas do Brasil. Graças à interpretação inesquecível de Fernando Ramos da Silva (10 anos na época do filme; assassinado pela polícia em 1987), descoberto no subúrbio de São Paulo, o filme foi um sucesso mundial e recebeu vários prémios internacionais. Pela Associação dos Críticos de Los Angeles e Nova York, foi considerado o melhor filme estrangeiro (1981) e Marília Pêra recebeu menção de melhor actriz do ano pela Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema nos Estados Unidos. No final dos anos 80, PIXOTE foi eleito pela revista "American Film" como um dos filmes mais marcantes da década, apenas atrás de RAN, de Akira Kurosawa, e FANNY & ALEXANDER, de Ingmar Bergman. Com o filme O BEIJO DA MULHER ARANHA (1984), adaptado do romance do escritor argentino Manuel Puig, Hector Babenco trabalhou com parceiros internacionais, um modelo seguido depois por diferentes produções brasileiras. Interpretado por William Hurt e Raul Julia, o filme foi apresentado no Festival de Cannes, em que William Hurt recebeu o Prémio de Interpretação Masculina. O BEIJO DA MULHER ARANHA também teve quatro indicações ao Oscar daquele ano (melhor filme, melhor director, melhor adaptação e melhor actor) e levou o de melhor actor, para William Hurt. Em 1987, Hector Babenco dirigiu IRONWEED, segundo o romance de William Kennedy (Prémio Pullitzer), com Jack Nicholson e Meryl Streep, indicados para o Oscar de Melhor Actor e Melhor Actriz, respectivamente. Em 1990, Babenco dirige AT PLAY AT THE FIELDS OF THE LORD (Brincando nos Campos do Senhor), outra adaptação, desta vez do romance de Peter Mathiessen. O filme foi produzido por Saul Zaentz (VÔO ACIMA DE UM NINHO DE CUCOS, AMADEUS, O PACIENTE INGLÊS). Inteiramente filmado na Amazónia, AT PLAY AT THE FIELDS OF THE LORD foi interpretado por Tom Berenger, Daryl Hannah, Aldann Quinn e Kathy Bates. Dois anos após ter se submetido a um transplante de medula óssea, para se curar de um câncer do sistema linfático, Babenco dirige CORAÇÃO ILUMINADO, seu projecto mais pessoal, inspirado em suas lembranças de adolescência.

O beijo da Mulher - Aranha
Numa cadeia no Brasil, dois prisioneiros dividem a mesma cela. Um é homossexual, o outro é um prisioneiro político da esquerda. O primeiro, para fugir da triste realidade que o cerca, inventa filmes cheios de mistério e romance, o outro tenta se manter politicamente o mais firme possível, em relação ao momento que vive. Esta convivência faz com que os dois homens se compreendam e se respeitem.

Elenco: William Hurt (Luis Molina), Raul Julia (Valentin Arregui), Sônia Braga (Leni Lamaison / Marta), José Lewgoy (Warden), Mílton Gonçalves (policia bruto), Mirian Pires (mãe), Nuno Leal Maia (Gabriel), Fernando Torres (américo), Patrício Bisso (Greta), Hérson Capri (Werner), Denise Dumont (Michelle), Miguel Falabella (tenente nazi), Ana Maria Braga (Lídia), Cláudio Curi, António Petrin.

Prémios arrecadados pelo filme

- Ganhou o Oscar de Melhor Actor (William Hurt), além de ter recebido outras 3 indicações: Melhor Filme, Melhor Director e Melhor Roteiro Adaptado;
- recebeu 4 indicações ao Globo de Ouro: Melhor Filme, Drama, Melhor Actor de Drama (Raul Julia e William Hurt) e Melhor Actriz Secundária (Sônia Braga);
- ganhou o Prémio de Melhor Actor (William Hurt) no Festival de Cannes.- Ganhou um Prémio especial do Independent Spirit Awards.

Curiosidades

- O actor Burt Lancaster, que recebeu um agradecimento especial ao término dos créditos finais, foi quem iniciou o projecto de “O Beijo da Mulher – Aranha”, quando ainda tinha o nome "Molina" como título provisório.

Filmografia completa do director Hector Babenco

2003
Carandiru: longa - metragem baseado no livro “Estação Carandiru”, de Drauzio Varella, com distribuição internacional da Sony Pictures Classics.
1998
Coração Iluminado: com Xuxa Lopes, Maria Luisa Mendonça, Miguel Angel Sola e Walter Quiroz. 1998 - Selecção Oficial no Festival Internacional do Filme (Cannes) França.
1991
Brincando nos Campos do Senhor: produzido por The Saul Zaentz Company, Berkeley, EUA, com Tom Berenguer, Daryl Hannah e Kathy Bates. Baseado em livro de Peter Matthiessen. 
1987
Ironweed: longa – metragem com Jack Nicholson e Meryl Streep. 1988 - Indicação para o Oscar de Melhor Actor: Jack Nicholson; 1988 - Indicação para o Oscar de Melhor Actriz: Meryl Streep.
1985
O Beijo da Mulher Aranha: baseado no livro de Manuel Puig, com William Hurt, Raul Julia, Sônia Braga e José Lewgoy. William Hurt recebeu o prémio de Melhor Actor no Festival Internacional de Cannes (85) e o Oscar (85) por seu trabalho. 1985 - Melhor Actor: William Hurt - Cannes Festival - Palme d'Or; 1985 - Melhor Actor: William Hurt - Academy of Motion Picture Arts and Sciences - Oscar; 1985 - 4 indicações para o Oscar – Melhor Director: Hector Babenco; Melhor Filme; Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Actor.
1980
Pixote, a Lei do Mais Fraco: baseado em livro de José Louzeiro, com Marília Pêra, Jardel Filho e Fernando Ramos da Silva. Vários prémios internacionais. 1981 - Melhor longa - metragem: New York Critics Association; 1981 - Melhor longa - metragem: Los Angeles Film Critics Association; 1981 - Grande Prémio: Biarritz Film Festival (França); 1981 - Segundo Prémio: Locarno Film Festival – Leopardo de Prata (Suíça); 1981 - Melhor Actriz: Marília Pêra - Film Critics National Association (EUA); 1981 - Terceiro Melhor Director: Hector Babenco - Film Critics National Association - EUA; 1981 - Melhor Actriz: Marília Pêra – “Air France Cinema Festival” (São Paulo);1981 - Melhor Filme Brasileiro – “Air France Cinema Festival” (São Paulo); 1981 - Grande Prémio: XIX Festival de San Sebastian (Espanha); 1989 - Terceiro Melhor Longa - metragem da Década: Film Critics National Association (EUA).
1977
Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia : baseado em livro de José Louzeiro, com Reginaldo Farias, Ana Maria Magalhães e Paulo César Pereio.
1975
O Rei da Noite: primeiro longa - metragem dirigido por Hector Babenco, com Paulo José e Marília Pêra.
1975 - O Fabuloso Fittipaldi (documentário)

Fonte: http://www2.uol.com.br/hectorbabenco

Coração Iluminado

O filme "Coração Iluminado" é mais pessoal e intimista, o filme promete surpreender o público por se diferenciar, e muito, da linha seguida pelo cineasta. Numa das entrevistas, Babenco disse que o filme o manteve vivo na época em que se curava de um câncer no sistema linfático. "O facto de ter terminado o filme vivo foi uma dádiva. Achei que este seria o meu último filme ", disse em tom de desabafo.

O director ucraniano, nascido na Argentina e naturalizado brasileiro, é um dos poucos do cinema brasileiro que possui uma produção consistente e real projecção internacional. Dos seis longas - metragens que realizou, dois foram consagrados: "Pixote" (1981) e "O Beijo da Mulher Aranha" (1984).

O “Coração iluminado” mistura realidade e ficção e traz duas partes bastante distintas. A primeira conta a história de Juan (representação do próprio Babenco, feita pelo argentino Walter Quiróz), um jovem de 17 anos que mora em Mar del Plata e sonha em ser cineasta, e seu envolvimento com Ana (Maria Luísa Mendonça), uma mulher mais velha, confusa e com um passado de internações em hospitais psiquiátricos. Juntos eles vivem uma grande paixão, um pouco inconsequente, um pouco complicada.

A segunda parte do filme é mais simbólica e traz Juan com 40 anos (interpretado pelo argentino Miguel Angel Solá), já cineasta em Hollywood, seu retorno à cidade natal para uma visita ao pai moribundo e sua procura pela antiga paixão. Prepare-se: o desfecho de "Coração Iluminado" é, no mínimo, desconcertante.

Acompanhe entrevista que o director Hector Babenco concedeu ao Diversão e Arte.

O que o levou a fazer um filme tão pessoal?
Quando eu havia acabado o "Brincando nos Campos do Senhor", em 1991, estava um pouco saturado de filmar histórias dos outros. Tinha vontade de fazer um filme pessoal, só não sabia o quanto. Sabia apenas que não queria fazer algo totalmente autobiográfico, mesmo porque não tenho idade suficiente para contar a história de minha vida. Queria utilizar algumas lembranças, polaroides de minha adolescência, para construir uma história. Pensava apenas em estruturar um filme a partir dessas lembranças, não queria fazer um exercício de memória e resgatar meu passado. Por isso, "Coração Iluminado" é ficção também. Abri mão do realismo em nome da ficção.

Tendo escolhido um tema tão pessoal, por que deixar o filme na fronteira entre realidade e ficção?
Resolvi trabalhar com dois extremos muito opostos que não dialogam entre si e deixam para o espectador a complementação da história. Quando fiz o filme, estava vivendo um momento de fronteiras, de extremos. Vivi um transplante de medula, passei por uma situação extrema e o resultado não poderia ser diferente. O homem que escreveu, filmou e concluiu "Coração Iluminado", era um homem num extremo, cuja única opção era a radicalidade.

Fazer "Coração Iluminado" foi uma espécie de exorcismo para você?
Quando estava doente, pensava no filme como um testamento. Como achava que aquela seria a última produção de minha vida, imaginava o filme como a obra pela qual eu seria lembrado. Coloquei o polegar na tinta preta e marquei o papel. Pela minha situação, eu não tinha outra escolha a não ser fazer "Coração Iluminado". Eu me sentia culpado em relação a algumas memórias e tive que revisitá-las. Agora, por ter passado a limpo essas lembranças, posso me dar ao luxo de esquecê-las.

Por tudo o que esse filme representa para você, qual foi o tipo de prazer que você sentiu ao vê-lo pronto na tela?
O facto de ter terminado o filme vivo já era uma dádiva. Entre o nascimento da ideia e o começo das filmagens, houve um hiato de 3 anos, no qual "Coração Iluminado" ficava germinando na minha cabeça. Acho que me mantive vivo por esse filme. Ele era vida para mi e eu queria ficar vivo para fazê-lo. "Coração Iluminado" havia se tornado uma obsessão para mi. Como, no fim das contas, fiquei bom, me questiono: e agora?

Num primeiro momento, "Coração Iluminado" teria um elenco internacional, com Irene Jacob, William Dafoe e Nastassja Kinski. Como a mudança de actores reflectiu-se no resultado final do filme?
Faltando seis ou sete semanas para o início das filmagens, decidi que ele não poderia ser falado em inglês. Ele seria postiço e não verdadeiro. Tinha que ser em castelhano. Liguei para os actores, que entenderam a situação e chamei dois actores argentinos (Walter Quiróz e Miguel Angel Solá) e duas actrizes brasileiras (Xuxa Lopes e Maria Luisa Mendonça). Em termos de mercado, seria óptimo se ele fosse em inglês. Mas o filme ficou o que ele nasceu para ser. Decidi e tive que aguentar as consequências à base de muito Lexotan. Perdi todos os contratos de distribuição e dei sorte por não ter sido processado por ninguém.

Você acha que "Coração Iluminado" se encaixa no contexto actual do cinema brasileiro?
Sempre fui à parte no cinema brasileiro, não por opção mas por gosto. Apesar disso, sempre quis fazer parte do movimento do cinema brasileiro até que percebi que ele não existe. O que existe são vozes separadas aqui e ali. Às vezes, essas vozes tentam cantar juntas, mas a coisa fica sem graça. A beleza está no desigual.

Como você encara o que se tem chamado de "renascimento do cinema brasileiro"?
Acho que está havendo uma produção muito maior de filmes. Sobre esse aspecto, é um renascimento. Temos coisas boas, alguns erros, mas a batalha maior é a reconquista do público. Nós já o tivemos e o perdemos. Agora, não acredito em um movimento de renascimento do cinema brasileiro. Movimento é coisa para historiador. Acredito em bons filmes e maus filmes.

Fonte @http://www2.uol.com.br/hectorbabenco/entrevista.htm

Carandiru
Fascinado pela figura do médico que chegava a cadeia para cuidar da saúde dos detidos à moda antiga - com estetoscópio, sensibilidade e muita conversa, Hector Babenco via imagens cinematográficas em cada história narrada no livro "Estação Carandiru – Registro Geral", de seu médico e amigo, Drauzio Varella. Assustava-se porque são histórias inexistentes na literatura universal. Onde já se viu o caso de um preso condenado a 600 anos que entra em crise existencial porque não consegue mais matar, a única coisa que sabia fazer?

"Me interessou muito poder explorar a possibilidade de contar a histórias de homens que estão no limite extremo que um ser humano pode estar, privadas de todas suas funções básicas, e que mesmo assim tem de lutar para estar vivo. Não adianta estar preso, não adianta estar humilhado - ele ainda tem de lutar para estar vivo. Eu estava vendo os primeiros sequências do “Carandiru” quando percebi que estava fazendo um filme sobre os personagens do “Pixote” 25 anos depois. Essa sensação foi reforçada ao me encontrar na filmagem com o Chicão" (o actor Zenildo Oliveira Santos, que fez o papel de Chicão em “Pixote” e que reencontrou Babenco no “Carandiru”).

Cerca de 2.700 actores e actrizes fizeram testes para participar no "Carandiru". Num atendedor electrónico, cada um deixou seu recado, dizendo por que queria estar no filme. Desse total, cerca de 400 foram chamados para participar dos workshops com o preparador Sérgio Penna, o mesmo de "Bicho de Sete Cabeças". Os workshops aconteceram de Setembro de 2001 a Janeiro de 2002 na Oficina Oswaldo de Andrade, em São Paulo. Segundo Penna, foram fundamentais para o processo de preparação dos actores. No final, 120 actores dessas oficinas participaram das filmagens, abastecendo o elenco principal, secundário e os figurantes.

"Nós fazíamos jogos subjectivos de disputa de poder ou de estratégia de sobrevivência, confinávamos muitas pessoas em espaço pequeno, dávamos papéis de opressor a alguns e de oprimido a outros e assim por diante", conta Penna. A partir da reacção dos actores, Babenco percebia que eles se encaixavam no perfil de determinados personagens.

Fonte: http://carandiru.globo.com/ - o site do filme “Carandiru”
e-mail: carandiru@procultura.com.br - acessória de Imprensa Pró - Cultura
e-mail: columbia@carandiruofilme.com.br - distribuidor do filme no Brasil (Columbia Tristar)

Entrevista colectiva com Hector Babenco no chat do AOL

O filme que viu recentemente e recomenda?Magnolia. E brasileiro vem aí Eu, Tu, Eles.

A sua participação na Academia de Hollywood?
Eu acho que é uma conquista profissional fazer parte dela. Mas não acredito que seja uma honra.

O que você acha desta invasão nos anos 90 de cineastas "ratos de vídeo" como Tarantino?
Será que o Tarantino é um rato de vídeo? Eu acho que você se engana. Ele é um rato de história em quadrinhos. Pulp Fiction são romances baratos em quadrinhos e policiais de segunda. Eu acho Tarantino um reflexo muito contundente e muito legal, porque conseguiu fazer uma narração, utilizando todo o vocabulário que alimentou sua imaginação durante a juventude.

Diga qual a grande diferença entre a direcção para o teatro e para o cinema?
A diferença básica é que em teatro o espectáculo muda todo dia porque é feito por pessoas. O cinema já tem um registro em película que a única coisa que você precisa para o fenómeno acontecer é o escurinho de um cinema.

"Estação Carandiru" seja um filme de denúncia?
Este não é um filme – denúncia.

Qual a recomendação que você daria a quem está começando a escrever roteiros?
Ler muito livros e ver muitos filmes. Incessantemente. E viver. E ouvir as pessoas.

Que recomendação você dá em relação a direcção de actores?
Deixá-los actuar antes de você dizer o que espera deles.

É possível viver como cineasta no Brasil?
Não. Eu sou uma excepção.

Parece que a sua relação com William Hurt em "O Beijo da Mulher Aranha" foi conturbada, inicialmente, devido a ele estar transformando o personagem em algo que você não desejava. Como esse conflito de entendimentos dos personagens melhorou (ou prejudicou) o trabalho de ambos?
Eu acho sim, que houve uma fricção. Porém, totalmente aceitável. Pois se tratava de um jogo limpo onde o objectivo era um só. Fazer o melhor possível.

E os conflitos de ego entre você e os actores americanos durante as filmagens de "...Campos Do Senhor"?
Conflitos de ego? Eu acho que nenhum.

Você se preocupa em atingir as mesmas pessoas retractadas em alguns de seus filmes, ou seja, você tenta ser popular?
Adoraria ser popular. Só que quem escolhe é o outro, e eu não sei quantos são, nem onde estão, nem do que eles gostam, nem por que se interessariam em mi. Enfim...

Você sofreu algum problema com a censura?
Sim, com "Lucio Flávio" em plena ditadura. Foi muito complicado.

Por que não fazer um filme que exalte o patriotismo dos brasileiros, como por exemplo sobre a participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial, algo sobre os pracinhas?
Meu Deus, coitados dos pracinhas! Se eles tivessem tido a opção, teriam ficado em casa. Detesto falar de patriotismo. É uma palavra que representa um conceito fascista. Abomino guerras. Quem você é?

Como foi a experiência de voltar à Argentina em "Coração Iluminado"?
Veja o filme, está tudo lá.

Quais seus directores favoritos?
Eu acho que ser director de cinema já é tão complicado, que ainda você me pedir é muito difícil para mi responder. Mas, digamos, Visconti, Michael Powel, Mário Peixoto, e tantos outros...

Fonte @http://chat01.terra.com.br:9781/entrevistas/2000/05/hectorbabenco.htm

Mais informações sobre o Hector Babenco podem ser encontradas no Museo del Cine em Buenos Aires, museodecine.gov.ar onde existem cerca de 108 registros de materiais compilados dos jornais, revistas, etc.

Agradecimentos especiais na preparação deste artigo ao Sr. UBALDO RODRIGUEZ da Biblioteca Leopoldo Marechal em Mar del Plata, República da Argentina (Tel: 499-7884), e-mail: marechal@cultura-mgp.com.ar

Blogueiro: Estamos perante mais um caso típico, quando a origem étnica de um ucraniano (quando este é uma grandeza indiscutível na cultura, desporto ou arte) é abafada. Faz-se de tudo, para não mencionar a Ucrânia, como o seu país da origem. Mas quando um cidadão não ucraniano, originário da Ucrânia, é conhecido por algo negativo, algum crime, ai sim, toda a gente precipita-se a escrever que este é UCRANIANO! Se alguém pensa que estamos a exagerar, basta lembrar o seguinte: os pugilistas ucranianos Vitali e Volodymyr Klichko são constantemente chamados de russos, assim como a actriz Mila Yovovich. Mas um russo natural de Lviv, que matou o filho do comediante americano Bill Cosby foi imediatamente “identificado” como ucraniano, assim como é “ucraniano” para a imprensa internacional, o Dmitriy Piterman, proprietário de 51% das acções no clube espanhol de futebol “Alaves” (parece que o tipo é detestado por toda a gente na Espanha).

1 comentário:

Anónimo disse...

Nunca soube que Hector Babenco tivesse ascendência ucraniana. Respeitado e reconhecido por todos brasileiros, dá-me orgulho sabê-lo. E ele, por sua vez, orgulha-se de sua ascendência? Se é que é verdade, por que não averiguá-lo? Hoje , em Stutgart, Daiane dos Santos obteve medalha de ouro em Ginástica Olímpica. Seu treinador? é o Oleh Ostapenko, "nasci na Rússia," como ele se declara em entrevistas a jornais," mas sou ucraniano e me criei em Keiv".Um repórter da Rede Globo, em entrevista a uma especialista em ginástica olímpica, xenofobamente indagou-lhe: tinha que ser um ucraniano a treinar uma brasileira, por que ucraniano? Educadamente e com conhecimento de causa, em rede, foi explicado: Brasil não tem tradição como a Ucrânia, que está entre as melhores do mundo. Embora eu ouvisse, certe feita, pessoalmente, Oleh conversando com a própria esposa em russo.
Com é a comunidade ucraniana em Moçambique? Brancos, negros, pardos? No Brasil, dizem que os descendentes de ucranianos (e outros) estão se amorenando. (E.G., Curitiba).