Os ucranianos já estão mais que acostumados ao chauvinismo primário dos mais altos dirigentes russos. Se falar apenas sobre os anos após a queda da URSS, teremos na mente a postura paternalista do “czar” Yeltsin. Que por sua vez foi substituído por um mesquinho sargento da KGB, que ora lamentava que “os rapazes ucranianos o desiludiram”, ora afirmava com toda a convicção de neófito, que “ninguém no mundo precisará do toicinho ucraniano”. Posicionando-se como Stalin № 2, o homem se achava (acha) o especialista em tudo, da suinicultura às belas artes, da ginástica aos submarinos.
O actual presidente russo, além de ser um sujeitinho bastante complexadinho por causa da sua estatura baixinha, não consegue acertar no papel, que lhe calhou pela decisão do Kremlin. Escolhido a dedo para representar a peça chamada “a primavera kremlinista”, presidente Ursinho, digo Medvedev, no fundo da sua alminha adoraria de ser um “polícia mauzinho”, do tipo xerife do faroeste, que ora “guerreia” a Geórgia, ora dirige o sermão “imperial” a Ucrânia.
Antes de ontem, o presidente Medvedev, anunciou a sua (do seu pai político?) decisão de adiar o envio do novo embaixador russo a Ucrânia devido à alegada política “anti-russa” perpetuada pelos ucranianos, afirmando que espera por um novo homólogo ucraniano, para normalizar as relações bilaterais. Tudo isso, escrito e gravado na mensagem especial, que Medvedev enviou ao Presidente da Ucrânia, Victor Yushchenko.
Em que Medvedev acusa a Ucrânia?
1. Pelo “abandono dos princípios da amizade e cooperação com a Rússia reafirmados no Tratado de 1997” e pelos “esforços para dificultar as actividades da armada russa do Mar Negro”.
Basicamente, este tratado, assinado da parte ucraniana pelo 1° Presidente da Ucrânia independente, Leonid Kravchuk em 1993, estabeleceu as bases da armada russa no território da Ucrânia, bases, que a Rússia terá que desactivar já no ano 2017, mas não tem o dinheiro para tal e gostaria de poupar nas despesas. Além disso, a Rússia usa as suas bases na Crimeia, como a plataforma de propagação dos sentimentos anti – ucranianos e anti – Estado ucraniano, entre os colonos da origem russa, que o estado soviético enviou para aquela zona após II Guerra Mundial, na tentativa de preencher o lugar dos povos autóctones da península, deportados para a Ásia Central por Stalin (os Tártaros da Crimeia, os gregos, arménios, etc).
2. Pelo apoio que Ucrânia deu a Geórgia, durante a invasão do seu território pelo exército russo em Agosto de 2008.
Medvedev faz de conta que não sabe, que o armamento ucraniano, alegadamente vendido, era composto por sistemas da DEFESA anti – aérea, e de nenhuma maneira pode ser considerado como a ferramenta de ataque. E se, de facto, os BUK ucranianos ajudaram abater alguns invasores do espaço aéreo da Geórgia, ninguém os convidou para lá estar. Podiam voar no seu território nacional (lá, onde alguns deles foram sepultados), nada de mal iria os acontecer.
3. Pelo “desejo obstinado de ingressar na NATO contra a opinião dos cidadãos do país”.
Parece que Medved esqueceu, que não é nenhum porta – voz ou advogado dos tais “cidadãos” da Ucrânia. E que os ucranianos possuem os instrumentos legais para exprimir as suas próprias vontades, quer através do processo eleitoral livre, quer através dos outros processos, previstos na legislação nacional ucraniana.
4. Pelo “aposta na ruptura dos laços económicos existentes /.../ no sector da energia /.../, perigando a utilização estável do sistema único de transporte de gás”.
Na última década, a Rússia compra todo o gás que consegue na Ásia Central (alguns analistas consideram, que cerca de 63% do gás vendido pela Rússia a UE é proveniente daquela região), para que o mesmo não possa ser comprado pela Ucrânia. E depois tenta revender este mesmo gás a Ucrânia, drasticamente aumentando os preços, exactamente nas vésperas do tempo frio do Inverno.
5. Medvedev acusa a Ucrânia de “tentam rever a história comum”, de “glorificar os aliados dos nazis” e de “desalojar a língua russa da vida social na Ucrânia”.
Não consigo imaginar algum político português ousar de acusar o Brasil ou Moçambique em “rever a história comum”, por glorificar Tiradentes ou Samora Machel. Também não perceptível como é possível chamar o General do UPA, Roman Shukhevych do “nazi”, esquecendo que a Rússia actual quase “beatifica” os “feitios” do Stalin, que cooperava com a Alemanha nazi entre 1933 e 1939 de maneira clandestina e entre 1939 e 1941, fazia o mesmo de modo aberto. Todos estes aspectos foram muito bem formulados na crónica da Cristina Mestre, que escreve assim: “Muitas destas críticas pareceriam estranhas se aplicadas a outro país, por exemplo, a Suiça, em vez da Ucrânia, /.../ ao recordar que um país soberano tem o direito de aderir a alianças militares, de vender armamento a outros Estados, a não prestar atenção a uma língua estrangeira, etc.”.
6. Medvedev também não gostou da recente decisão de Kyiv de expulsar os diplomatas russos, por causa da sua ingerência nos assuntos nacionais da Ucrânia.
7. E por último Urso Jr., “pisca o olho” às próximas eleições presidenciais ucranianas, (marcadas para o Janeiro de 2010), afirmando que: “Na Rússia esperam que a nova direcção política da Ucrânia esteja pronta para estabelecer entre os nossos países relações que correspondam realmente aos verdadeiros interesses dos nossos povos, aos interesses do reforço da segurança europeia”.
Em jeito do comentário:
a) A Rússia, definitivamente entrou no processo eleitoral ucraniano;
b) Em 2004, a Rússia, alegadamente, gastou 600 milhões de USD na campanha de Yanukovich e perdeu;
c) Neste ano, durante a profunda crise económica russa (vejam as recentes palavras do Medvedev sobre a “Rússia que está se afundar mais rapidamente do que os outros”), o Moscovo decidiu poupar nas finanças, ensaiando a chantagem emocional e psicológica do cidadão ucraniano, usando as “iscas” do tipo: “Querem ser nossos amigos, votem em Yanukovich”.
d) Daí o surgimento rapidíssimo das declarações do Yanukovich, afiançando o “Big Brother” do que “quando for presidente, serei o melhor amigo mais fiel da Rússia” (assim fala o “rapaz” que “desiludiu” Putin).
e) Kremlin acabou por mais uma vez optar pelo Yanukovich / e o seu Partido das Regiões, em detrimento da Yulia Timoshenko / BYUT, com o medo do que a Sra. Timoshenko não tomará à sério as suas promessas ao Kremlin, já no dia seguinte após as eleições.
f) Como o cenário alternativo (possível, mas pouco provável), o discurso do Medvedev também poderá ser um exercício das Relações Públicas, centrado na necessidade de “empurrar” o eleitorado ucraniano para Yulia Timoshenko (criando o papão Yanuk de um lado e apostando em descrever Viktor Yushchenko como o inimigo absolutamente malvado do bom “czar” moscovita);
g) A fortíssima crença, quase religiosa, dos russos, do que QUASE TODOS os ucranianos (pequenos russos, sublinha-se), sonham acordados com o retorno esperado da bota e do tanque moscovita, faz com que muitas das vezes, numa situação tecnicamente favorável (como nas vésperas da Revolução Laranja em 2004), eles acabam por perder as batalhas estratégicas por um erro técnico, neste caso o excesso de confiança. Acredito que mais uma vez, poderemos estar perante um cenário idêntico. A única força que poderá permitir a vitória dos russos, seria a própria Ruína ucraniana (falta de consenso, vontade suprema de toda a gente ocupar os lugares da chefia, etc.). Mas isso é uma outra história...
Antes de ontem, o presidente Medvedev, anunciou a sua (do seu pai político?) decisão de adiar o envio do novo embaixador russo a Ucrânia devido à alegada política “anti-russa” perpetuada pelos ucranianos, afirmando que espera por um novo homólogo ucraniano, para normalizar as relações bilaterais. Tudo isso, escrito e gravado na mensagem especial, que Medvedev enviou ao Presidente da Ucrânia, Victor Yushchenko.
Em que Medvedev acusa a Ucrânia?
1. Pelo “abandono dos princípios da amizade e cooperação com a Rússia reafirmados no Tratado de 1997” e pelos “esforços para dificultar as actividades da armada russa do Mar Negro”.
Basicamente, este tratado, assinado da parte ucraniana pelo 1° Presidente da Ucrânia independente, Leonid Kravchuk em 1993, estabeleceu as bases da armada russa no território da Ucrânia, bases, que a Rússia terá que desactivar já no ano 2017, mas não tem o dinheiro para tal e gostaria de poupar nas despesas. Além disso, a Rússia usa as suas bases na Crimeia, como a plataforma de propagação dos sentimentos anti – ucranianos e anti – Estado ucraniano, entre os colonos da origem russa, que o estado soviético enviou para aquela zona após II Guerra Mundial, na tentativa de preencher o lugar dos povos autóctones da península, deportados para a Ásia Central por Stalin (os Tártaros da Crimeia, os gregos, arménios, etc).
2. Pelo apoio que Ucrânia deu a Geórgia, durante a invasão do seu território pelo exército russo em Agosto de 2008.
Medvedev faz de conta que não sabe, que o armamento ucraniano, alegadamente vendido, era composto por sistemas da DEFESA anti – aérea, e de nenhuma maneira pode ser considerado como a ferramenta de ataque. E se, de facto, os BUK ucranianos ajudaram abater alguns invasores do espaço aéreo da Geórgia, ninguém os convidou para lá estar. Podiam voar no seu território nacional (lá, onde alguns deles foram sepultados), nada de mal iria os acontecer.
3. Pelo “desejo obstinado de ingressar na NATO contra a opinião dos cidadãos do país”.
Parece que Medved esqueceu, que não é nenhum porta – voz ou advogado dos tais “cidadãos” da Ucrânia. E que os ucranianos possuem os instrumentos legais para exprimir as suas próprias vontades, quer através do processo eleitoral livre, quer através dos outros processos, previstos na legislação nacional ucraniana.
4. Pelo “aposta na ruptura dos laços económicos existentes /.../ no sector da energia /.../, perigando a utilização estável do sistema único de transporte de gás”.
Na última década, a Rússia compra todo o gás que consegue na Ásia Central (alguns analistas consideram, que cerca de 63% do gás vendido pela Rússia a UE é proveniente daquela região), para que o mesmo não possa ser comprado pela Ucrânia. E depois tenta revender este mesmo gás a Ucrânia, drasticamente aumentando os preços, exactamente nas vésperas do tempo frio do Inverno.
5. Medvedev acusa a Ucrânia de “tentam rever a história comum”, de “glorificar os aliados dos nazis” e de “desalojar a língua russa da vida social na Ucrânia”.
Não consigo imaginar algum político português ousar de acusar o Brasil ou Moçambique em “rever a história comum”, por glorificar Tiradentes ou Samora Machel. Também não perceptível como é possível chamar o General do UPA, Roman Shukhevych do “nazi”, esquecendo que a Rússia actual quase “beatifica” os “feitios” do Stalin, que cooperava com a Alemanha nazi entre 1933 e 1939 de maneira clandestina e entre 1939 e 1941, fazia o mesmo de modo aberto. Todos estes aspectos foram muito bem formulados na crónica da Cristina Mestre, que escreve assim: “Muitas destas críticas pareceriam estranhas se aplicadas a outro país, por exemplo, a Suiça, em vez da Ucrânia, /.../ ao recordar que um país soberano tem o direito de aderir a alianças militares, de vender armamento a outros Estados, a não prestar atenção a uma língua estrangeira, etc.”.
6. Medvedev também não gostou da recente decisão de Kyiv de expulsar os diplomatas russos, por causa da sua ingerência nos assuntos nacionais da Ucrânia.
7. E por último Urso Jr., “pisca o olho” às próximas eleições presidenciais ucranianas, (marcadas para o Janeiro de 2010), afirmando que: “Na Rússia esperam que a nova direcção política da Ucrânia esteja pronta para estabelecer entre os nossos países relações que correspondam realmente aos verdadeiros interesses dos nossos povos, aos interesses do reforço da segurança europeia”.
Em jeito do comentário:
a) A Rússia, definitivamente entrou no processo eleitoral ucraniano;
b) Em 2004, a Rússia, alegadamente, gastou 600 milhões de USD na campanha de Yanukovich e perdeu;
c) Neste ano, durante a profunda crise económica russa (vejam as recentes palavras do Medvedev sobre a “Rússia que está se afundar mais rapidamente do que os outros”), o Moscovo decidiu poupar nas finanças, ensaiando a chantagem emocional e psicológica do cidadão ucraniano, usando as “iscas” do tipo: “Querem ser nossos amigos, votem em Yanukovich”.
d) Daí o surgimento rapidíssimo das declarações do Yanukovich, afiançando o “Big Brother” do que “quando for presidente, serei o melhor amigo mais fiel da Rússia” (assim fala o “rapaz” que “desiludiu” Putin).
e) Kremlin acabou por mais uma vez optar pelo Yanukovich / e o seu Partido das Regiões, em detrimento da Yulia Timoshenko / BYUT, com o medo do que a Sra. Timoshenko não tomará à sério as suas promessas ao Kremlin, já no dia seguinte após as eleições.
f) Como o cenário alternativo (possível, mas pouco provável), o discurso do Medvedev também poderá ser um exercício das Relações Públicas, centrado na necessidade de “empurrar” o eleitorado ucraniano para Yulia Timoshenko (criando o papão Yanuk de um lado e apostando em descrever Viktor Yushchenko como o inimigo absolutamente malvado do bom “czar” moscovita);
g) A fortíssima crença, quase religiosa, dos russos, do que QUASE TODOS os ucranianos (pequenos russos, sublinha-se), sonham acordados com o retorno esperado da bota e do tanque moscovita, faz com que muitas das vezes, numa situação tecnicamente favorável (como nas vésperas da Revolução Laranja em 2004), eles acabam por perder as batalhas estratégicas por um erro técnico, neste caso o excesso de confiança. Acredito que mais uma vez, poderemos estar perante um cenário idêntico. A única força que poderá permitir a vitória dos russos, seria a própria Ruína ucraniana (falta de consenso, vontade suprema de toda a gente ocupar os lugares da chefia, etc.). Mas isso é uma outra história...
1 comentário:
Russia imperialista asiatica
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