Descodificando o “código Pavlovskiy”
O nosso blog já dedicava anteriormente, o seu espaço aos manipuladores russos, que ao serviço dos interesses pouco claros, conduziram uma fortíssima campanha das Relações Públicos, para eleger um marginal e ex – cadastrado do delito comum, V. Yanukovich, como presidente da Ucrânia.
Entre muitos, Gleb Pavlovskiy era o tecnólogo político mais brutal, mais cínico e mais agressivo, quer nos métodos empregues, quer no seu discurso incendiário. Existem, provavelmente, enumeras razões, que contribuíram para transformar o ex- dissidente soviético Pavlovskiy, nascido na Ucrânia, no sujeito tão abertamente anti – ucraniano de agora. Hoje, tentaremos de apresentar o seu retracto mais verosímil possível.
O sonho americano é personificado por Elvis, Bill Gates ou Eminem. Um rapaz pobre, mas talentoso, torna-se milionário. Na União Soviética, o sonho era diferente: tornar-se membro do partido, comprar o carro ou casa de campo, tornar-se Mestre em Ciências ou casar com a filha de Secretario Provincial do PCUS.
Judeu Gleb Pavlovskiy, nascido aos 5 de Março de 1951 na cidade portuária de Odessa, também, tive um sonho. Era estudante da faculdade de História e queria mudar a URSS inteira! Estudava o marxismo – leninismo até ao exaustão e casou com a filha do Procurador, que no dia do casamento, prometeu pôr o genro na cadeia.
Estudando o marxismo, Pavlovskiy queria apreender os mecanismos que permitem: “trabalhar a história e conhecer as possibilidade de minorias e pequenos grupos, de projectar e praticar a história”. Pavlovskiy também apreciava a política colonial britânica, baseada no domínio de uma minoria, escolhida pelo colonizador, sobre a maioria oprimida, algo que acontecia em todas as colónias da Grã - Bretanha.
Em 1974, Pavlovskiy, então professor da história numa escola secundaria, é detido e interrogado pela KGB, acusado de “difundir a literatura anti - soviética”. Como consequência, Pavlovskiy perde o trabalho na escola, aprende o ofício de carpinteiro e foge para Moscovo, onde vive no underground da inteligentzia marginal, trabalhando na construção civil, como lenhador ou operário sazonal.
Em 1981, Pavlovskiy cria a ideia do pacto “Sociedade - Poder”, que proponha aos dissidentes, suspender toda a Confrontação com o poder comunista, para poder “salvar a URSS”, ameaçada pela “divisão nacional”. Uma inevitável libertação nacional dos povos dominados por Moscovo, amedrontava o Pavlovskiy, que já naquela época considerava a URSS como a “verdadeira Rússia” e a sua própria classe social, como “fidalgos da República”.
Pavlovskiy torna-se traidor em olhos da maioria dos dissidentes soviéticos e também não aceite pelo poder, pois este não encoraja a existência dos pensadores livres. Como qualquer ditadura, a URSS valorizava apenas a obediência formal ao Partido – Estado.
Em 1982, KGB prende Pavlovskiy, o acusando da edição clandestina de revista “Poiski” (Procuras), abortada, na realidade, um ano e meia antes. Pavlovskiy desesperadamente não quer ir para cadeia, por isso reconhece a sua culpa durante o julgamento, e é premiado com uma sentença, relativamente, leve – deportação para à república Komi (Norte da Rússia), onde trabalha como fogueiro e pintor. Reconhecendo formalmente a culpa, Pavlovskiy traiu e entregou à KGB o seu melhor amigo, futuro deputado da Câmara baixa do Parlamento russo (Duma), Viacheslav Igrunov.
Em 1985 Pavlovskiy volta para o Moscovo. Começa a Perestroica. Em 1987 Pavlovskiy é um dos sócios – fundadores da cooperativa de informação “Facto”. Em 1989 é proprietário e fundador da agência de informação “PostFactum”.
Vinte anos depois, fogueiro, torna-se o conselheiro mais influente do Putin. É diabolizado e rodeado por mitos, dizem que foi ele que criou o culto do novo Presidente. Más línguas também dizem, que foi Pavlovskiy que criou a famosa frase do Putin: “vamos killar os tchechenos até nos retretes”.
Oficialmente, Gleb Pavlovskiy é chefe do Fundo da Política Efectiva (a agência das RP mais importante da Rússia). Apesar do seu estrondoso falhanço nas eleições ucranianas, Pavlovskiy continua a ser o principal RP do Kremlin.
Entrevista, que se segue, foi dada pelo Pavlovskiy, ao jornalista Ivan Vorotynskiy em Moscovo, para o jornal ucraniano, “L’vivska Gazeta”. http://gazeta.lviv.ua
Que tipo de erros você cometeu durante as eleições presidenciais na Ucrânia?
<...> Eu me comportei não como consultor, mas como diplomata. Não tinha a plenipotência de consultar em nome de alguém, tinha apenas o mandato informativo. Não usei as estratégias próprias na campanha eleitoral, isso foi o meu maior erro. <...> Outro erro é a pobreza dos nossos médias russos, do nosso show – business na Ucrânia. Aquilo que mostra o nosso TV, humilha a Rússia.
Os especialistas russos afirmam, que durante as eleições presidenciais ucranianas, você conseguiu convencer a liderança política russa, do que os seus próprios interesses político – financeiros na Ucrânia, se confundem com os interesses da segurança nacional da Rússia.
Poço dizer com segurança, que isso não era assim. <...> Não havia os interesses comerciais. Os tecnólogos políticos russos (especialistas de RP) trabalharam na Ucrânia na base comercial.
Você está preparado do ponto de vista moral e psicológico de participar como consultor nas eleições legislativas ucranianas em 2006?
Questão é seguinte, será que surgirá uma oposição real na Ucrânia em 2006? É uma pergunta aberta. Todos as organizações políticas e partidos (da oposição pró - russa) não tem nada, são apenas etiquetas, papel em branco. Uma parte importante, das elites ucranianas, depois das eleições, passará a ser controlada financeiramente pelo novo poder.
Como a Rússia avalia aquilo que se passou na Ucrânia?
Revolução na Ucrânia, não é o objecto das relações entre a Rússia e a Ucrânia. <...> Mas tenho a certeza, que a Rússia nunca se permitirá de financiar os programas ucranianas de integração europeia. Nos não iremos promover a Ucrânia a Europa, limitando os nossos próprios interesses.
O facto de Yulia Timoshenko tornar-se a Primeira – Ministra da Ucrânia, é desafio ao Putin?
Para Kremlin, isso não é o problema. <...> nos temos todos os dados da sua biografia.
Será que Leonid Kuchma será chamado à responsabilidade criminal?
Leonid Kuchma, como é conhecido, tornou-se o dono do seu próprio destino em Novembro – Dezembro do ano passado. Melhor dizendo, escolheu os donos do seu próprio destino. Terá de discutir com eles a sua vida futura. Ex – presidente, agora anda negociar com o novo poder.
É difícil lutar com os americanos no campo das tecnologias eleitorais democráticas?
<...> No encontro entre Putin e Viktor Yushenko em Moscovo <...> Putin não disse que a Rússia não irá ter os contactos com a oposição nos países da ex – URSS. Estamos falar sobre os contactos oficiais com os lideres da oposição, com os chefes dos ONG’s. Nos, não achamos, por exemplo, que líder ucraniano, Viktor Yushenko, representa toda a sociedade ucraniana.
Será que depois das eleições na Ucrânia, a Rússia poderá mudar a sua política externa?
<...> Rússia irá garantir a sua segurança nacional sozinha. Prioridade da política externa do Vladimir Putin é a transformação, melhor dizendo, renovação da Rússia, como o país mundial do século XXI. <...> Rússia se transformará no país mundial, e terá uma zona global de interesses. Agora a Federação Russa, possui interesses, nos países vizinhos. Por exemplo, os países Bálticos, estão na zona dos nossos interesses.
Comentário do Tradutor:
Só agora, quase 100 dias depois da vitoria da Revolução Laranja, muitas das coisas podem ser vistas com maior clarividência necessária e desejável. Aquilo que se passou na Ucrânia em 2004, com certeza entrará nos livros da história como exemplo duma violação clara do Direito Internacional. O mundo foi a testemunha quase passiva da tentativa de uma potência estrangeira, de influenciar os resultados eleitorais ao seu favor, elegendo para tal um candidato com passado muitíssimo duvidoso, bastante controlável e influenciável, à partida. Mas vamos às factos.
1. A Ucrânia foi palco de conflito importante entre os dois principais RP’s russos da actualidade: Marat Gelman e Gleb Pavlovskiy. Embora ambos trabalharem sobre as ordens do Kremlin para Yanukovich, defendiam as paradigmas diferentes.
Pavlovskiy, que alegadamente, possui interesses comerciais próprios na Ucrânia, apostou tudo que tinha e que não tinha em Yanukovich. E conseguiu convencer o Kremlin, que ex – presidiário, proffessor Yanukovich, é a única e última esperança russa de controlar a Ucrânia. Por isso Pavlovskiy defendia o Yanukovich até às últimas, tentando relançar o seu nome de vez em quanto, mesmo nos dias de hoje.
Marat Guelman, provavelmente, não tinha nenhum interesse pessoal na Ucrânia, por isso nunca centrou o seu esforço de RP, exclusivamente na figura do Yanukovich. Gelman sempre demonstrou que pretende submeter a Ucrânia à vontade do Big Brother, mas sempre defendeu que dinheiro russo gasto em Yanukovich, é um dinheiro mal gasto. Alem disso, Gelman preocupado com a sua imagem pessoal, tentava distanciar-se dos procedimentos, que poderiam comprometer seu estatuto do profissional. Gelman também lançava acusações indirectas sobre o Pavlovskiy, alegando que este usava o poder Estatal em proveito próprio. Por exemplo, na entrevista já publicada no nosso blog anteriormente, Gelman disse: “quando Putin pensava que constrói um lobby poderoso na Ucrânia, o grupo de Donetsk criou o seu próprio lobby dentro da presidência russa”. Lógico, que Pavlovskiy é apenas a ponta do iceberg deste lobby, mas uma ponta bem visível. Mais tarde, na mesma entrevista, Gelman disse: “Yanukovich não tem chances” (de ganhar as eleições).
Descodificando o “codigo Gelman”, pode-se deduzir, que Marat Gelman pretendia dizer: “Nos fizemos tudo o que deveria e poderia ser feito, mas o material primário não prestava, era fraco demais e único culpado é Pavlovskiy”.
Talvez por isso, Gelman pretendia apostar no número dois de Yanukovich, Serhiy Tigipko. Algo que terminou com um atentado contra Tigipko (alegadamente foi atirado do oitavo andar de um prédio, não aparece em público desde Dezembro do ano passado).
2. Segundo aspecto. Pavlovskiy está muito zangado com ex – Presidente Kuchma: este tive todos os trunfos nas mãos e deixou Pavlovskiy perder as eleições e comprometer a sua reputação! Agora o futuro do Pavlovskiy está em jogo, amanha ele poderá outra vez ganhar o pão como carpinteiro! Por isso Pavlovskiy goza maldosamente com o Kuchma, falando sobre os donos do seu destino.
3. Primeiro Pavlovskiy diz que toda a oposição pró - russa “não tem nada, são apenas etiquetas, papel em branco”, depois fala dos futuros “contactos oficiais com os lideres da oposição”. Mas se está não existe, com quem Kremlin vai se encontrar? E para que? Será que para preencher este “papel em branco” com as ideias tricolores? Mas também poderá simplesmente camuflar os contactos secretos entre Yanukovich & K° com o Kremlin, que decorrem nos dias de hoje.
4. E finalmente a questão do dinheiro. Nesta entrevista, Pavlovskiy primeiro afirma: “não haver os interesses comerciais” no seu trabalho. E logo depois acrescenta, que “os tecnólogos políticos russos trabalharam na Ucrânia na base comercial”. Afirmação deixa uma margem de manobra bastante grande, daqueles que Pavlovskiy gosta tanto e que permitem encobrir sua responsabilidade directa.
P.S. O Procurador Geral da Ucrânia, Sviatoslav Piskun, tornou pública a informação sobre o possível envolvimento do Gleb Pavlovskiy no envenenamento do Presidente da Ucrânia Viktor Yushenko.
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