quinta-feira, dezembro 04, 2008

Transporter – 3: Ucrânia não é Rússia!!!

- I'm not Russian! I'm Ukrainian!
- Well excuse me.
- Not excused! We are different people! Different in here
(mostra a cabeça) and in here (mostra o coração).

A terceira sequela do filme “Transportador 3” (Transporter 3) não prometia nenhuma novidade aparente: efeitos especiais, artes marciais, tiroteios, truques, perseguições... Enfim, tudo que o público adora ver (e depois criticar) nos filmes do género.

A história também é bastante trivial: uma poderosa corporação multinacional quer obrigar a Ucrânia receber no seu território o lixo tóxico que pode afectar o meio – ambiente do Mar Negro e provocar uma catástrofe ecológica.

Para que o ministro ucraniano da tutela autorize a negociata, a corporação ordenou o rapto da sua filha Valentina (Natalya Rudakova), à quem o vilão Johnson (Robert Knepper) explica a sua visão do mundo: “isso é o mundo novo, os Estados não existem mais, existem apenas os interesses económicos, ganhos e proveitos, efectividade e perdas, você tem que pensar de modo global”.

Mas a jovem ucraniana não deve pertencer à este mundo “globalizado politicamente correcto”, por isso em vez de pedir ao pai para fazer aquilo que os criminosos do “colarinho branco” exigiam, ela ordenou: “PAI, NÃO CONCORDA”.

Depois o nosso habitual herói Frank Martin (Jason Statham) é encarregue de transportar Valentina da Marselha, passando toda a Europa até a cidade da Odessa.

Mas depois o filme ganha um angulo totalmente inesperado, que provocou uma verdadeira tempestade no copo de água na cabeça dos chauvinistas russos, independentemente do seu local de residência. Impossível, a Valentina disse coisas incrivelmente anti – russas, russofóbas mesmo! :-)

Diálogo entre o Frank e Valentina: “Vocês russos, são uma total tristeza e penumbra” e ai a jovem ucraniana explode:

- Eu não sou russa! Sou Ucraniana!
- Bom, me desculpe.
- Nada de desculpas! Somos pessoas diferentes! Diferentes aqui
(mostra a cabeça) e aqui (mostra o coração).

É aqui começa o inesperado rebentamento da psique nacional russa, misturada com acusações do que o realizador francês Luc Besson e toda a sua equipa de filmagens criou uma peça de “propaganda pró – ucraniana”. Claro, o ministro não cede à uma odiosa corporação americana e tem o retracto do Presidente Victor Yushchenko na parede...

Duvido que alguém fosse ficar surpreendido se um escocês reclamasse no caso de ser chamado inglês ou se o português não concordar se for chamado espanhol, ninguém ia reclamar se no gabinete do político brasileiro reparar o retracto do Presidente Lula. Mas estamos a falar da Ucrânia e dos ucranianos e ai a ruína russa (que esta nas cabeças) revela-se à uns 250%...

Comentários típicos no fórum russo dedicado ao cinema TORRENTS.ru .

* Americanos outra vez querem lamber os pés dos grunhos ucranianos.
* `Tou f...ulo com estes grunhos ucranianos – fazem o que querem, daqui a nada vão lamber o ... dos americanos.
* Amo a Ucrânia e os grunhos ucranianos ... mas quando ligo a TV ucraniana quero chorar, pegar a metralhadora e matar todos estes ... que nós colocam contra os vizinhos (russos, claro).
* Me irrita principalmente [...] o sentido oculto [...] os ucranianos são bons e os russos são maus.
* Filme foi filmado na europa: frança, munique, polónia ... e logo depois alusão Odessa – também a europa... [...] Tipo o povo Ucraniano – não são Russos, mas europeus [...] para rachar os últimos bocados e cercar a Rússia.

Quem achar que sou uma pessoa suspeita (e até sou), aqui podemos ver outros comentários num outro sítio russo dedicado ao cinema, por exemplo KINOPOISK :

* Tentei não tomar muito a peito esta sofrível e estúpida tentativa de inimizar os russos e ucranianos (não fico surpreendido se isso foi lá metido ao pedido do Yushchenko).
* Eu pessoalmente quase me tornei paralítico com as palavras: “Ucranianos são diferentes dos russos com a mente, e mais importante – o coração!” Toda a plateia começou a assobiar em coro e depois choveram os palavrões horrorosos contra a Ucrânia. [...] Isso agora também está na moda. Ser ucraniano.

Parece uma coisa bem estranha, o simples facto científico do que os ucranianos não são russos, pessoas diferentes, países diferentes, culturas diferentes nem que seja ao nível de vodka – horilka; balalaikabandura; provoca tanto ódio e chauvinismo das pessoas que se consideram cultas, civilizadas e até acreditam numa “missão especial” do seu país perante a Civilização. Que missão, meu Deus....

Fontes de informação e inspiração:
http://marco-polo-sf.livejournal.com/45186.html

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