Músico ucraniano, EUGENE HUTZ, líder do grupo punk nova iorquino “Gogol Bordello” estriou-se recentemente como actor principal no filme "Everything is Illuminated", do americano Liev Schreiber (estreia como realizador), baseado no livro homónimo do Jonathan Safran Foer, www.theprojectmuseum.com
Quando vi a apresentação do filme, logo apaixonei-me pelo Alex (Eugene Hudz), jovem ucraniano que serve do tradutor para um judeu americano Jonathan (Elijah Wood, Frodo do “Senhor dos Anéis”), que veio à Ucrânia a procura de uma mulher, que durante a II GM salvou o seu avo. A pronúncia ucraniana do Alex era inconfundível, era definitivamente real, embora no filme ele fala russo (no livro expressa-se em surzhyk, uma mistura entre o russo e ucraniano, fala habitual dos moradores do Leste e Sul da Ucrânia). Adorei o Alex, o filme e o realizador, que tive a coragem de trazer a Ucrânia à tona de Hollywood, onde este país até agora não tive muito crédito.
Mas o mais importante veio depois. Na cidade de Lviv, quando contei da minha paixão ao escritor Lubko Deresh, ele lembrou-se do Hudz e contou que homem é frontman e líder do grupo Gogol Bordello (www.gogolbordello.com), que toca "punk cigano", estilo inventado pelo próprio Eugene. Deresh também amavelmente ofereceu-me o disco do grupo, intitulado MultiKONTRAculti vs. Irony, produzido em 2002 pelo Rubric Records (www.rubricrecords.com). Aí, o meu delírio era completo, mas mesmo assim, este aumentou ainda mais, quando cheguei à Moçambique e pude desfrutar da música da banda. Sem dúvida vale a pena gastar alguns trocos para comprar CD do Gogol Bordello, ou então fazer uns downloads da Internet. (Quem gosta de Willie Nelson, Jeft Buckley, Vanila Ice ou Weird Al Yankovich vão adorar Hudz). Nem que para ouvir como Eugene canta em português em “Punk rock parranda” (do resto, as canções são maioritariamente em inglês, com algum palavreado em ucraniano e hutzoviniano, uma língua inventada pelo Hudz).
Na procura da Ucrânia
O Frodo desta vez é vegetariano e tem a fobia dos cães, vagueia pela Ucrânia imaginária, em companhia do seu tradutor Alex e do condutor e avo do Alex, conhecido como Avosão (actor Boris Leskin). Este finge ser cego, sempre junto ao seu cão de companhia Sammy Davis Junior Junior. Praticamente todo o filme foi realizado durante dois meses na República Checa com um orçamento bastante modesto. Como não podia de ser, o filme usa muitas das cliché, para ajudar os americanos identificar a Europa pós – comunista: Avosão conduz um Trabante (!) (na realidade, símbolo da República Democrática Alemã), os ucranianos cantam canções russas e búlgaras (!). Um dos verdadeiros e pouquíssimos bocados da Ucrânia real, que entrou no filme, foi a estacão dos caminhos de ferro de Lviv.
Eugene Hudz nasceu nos arredores de Kyiv em 1972, vivendo nesta cidade durante os seus 13 anos. Depois do desastre nuclear do Chornobyl, ocorrido em 1986, a sua família deixou a capital ucraniana, movendo-se para parte ocidental do país. Lá, na cidade de Striy, Hudz conheceu a parte cigana da sua família. Mais tarde, quando Eugene tinha 18 anos de idade, a família deixou a Ucrânia, viajando pela Polónia, Hungria, Áustria e Itália, transformando-se em refugiados. Em 1999 o clã Hudz chegou aos EUA, vivendo primeiramente em Vermont, mais tarde mudando-se para a cidade da Nova Iorque.
Em 1996, Eugene junto com alguns músicos ciganos dos EUA, fundou o seu primeiro bando, Flying Fuck, que mais tarde, em 2002 se transformou em Gogol Bordello. Tentando sempre fundir a música tradicional ucraniana e cigana (principalmente o violino), com o reggae, flamengo, rock norte – americano e elementos de cabaré. A mistura explosiva dos estilos foi do agrado do público, grupo já fiz várias digressões pela Europa e EUA (última digressão pelos EUA em Julho de 2005). Alem do Eugene, que canta e toca a guitarra acústica, o grupo actua com vários elementos mais ou menos estáveis: Yuriy Lemeshev (acordeão), Sergey Rjabtzev (violino), Oren Kaplan (guitarra & vocal), Ori Kaplan (saxofone & vocal), Eliot Fergusson (bateria), Rea Mochiach (guitarra baixa), Pam(ela) Racine e Elisabeth Sun (dançarinas). Alem disso, pelo bando passaram cantor e dançarino Pieroshka Ratz, acordeão Sasha Kazatkchkoff, e back vocal Victoria Hanna.
Alem da sangue ucraniano, Eugene têm a descendência cigana, que influencia o seu lado burlesco e hiper – activo, não o deixando sossegado, quando ele fica no mesmo sítio por muito tempo. Vivendo na Ucrânia ou nos Estados Unidos, Eugene sempre faz a mesma pergunta retórica à si mesmo: “Porque me sinto tão confortavelmente e tão em casa, vivendo sobre as rodas durante anos em fio? Porque consigo adoptar-me tão facilmente à todas as circunstâncias?” Quando Eugene era novo e sonhava em ser um roqueiro no Mundo Livre, ele fazia a questão de esquecer toda a sua ascendência, mas a sangue cigana puxou mais forte e hoje temos o Eugene Hudz, frontman do Gogol Bordello.
Everything is illuminated
http://wip.warnerbros.com/everythingisilluminated/
http://www.tvtsoundtrax.com/everythingisilluminated/
Primeiro, Liev Schreiber queria apenas usar a música do grupo no seu filme (a banda sonora do filme têm duas canções de Gogol Bordello), mas Eugene foi categórico, afirmando: “Eu sou a pessoa certa para fazer de Alex. Este papel é meu”. Liev pensou um pouco e concordou, de facto, nenhum americano, balcânico ou nórdico (os tipos que costumam fazem de eslavos em filmes de Hollywood), tem a capacidade de se transformar em Alex. (O exemplo mais recente são os Nicolas Cage e Jared Leto em “Lord of War”, que esforçaram-se muito bastante, mas são tudo, menos dois judeus ucranianos, que fugiram da Odessa. Até agora, ao meu ver, o melhor foi o britânico Tim Roth, que encarava judeu Joshua Shapirra em “Little Odessa”). E não só a pronúncia que não facilita, mas também o tipo da cara, as maneiras, até a ausência da vivência real na Europa Central, que o próprio Hudz classifica como: “local muito mais trevoso, do que a maioria das pessoas, principalmente americanos, imagina”.
Eugene desde sempre quis ser músico, o seu pai apoiava o gosto do filho pela música avant – garde, que valeu ao Hudz Jr repreensão na escola, um dos seus professores escreveu que miúdo: “cresce no ambiente anti – soviético, numa família onde cultiva-se a musica rock." Mas o seu caminho para o palco não foi fácil, alem de experimentar a vida do refugiado, Eugene trabalhou na indústria da moda como modelo (New York Fashion Week), passou pelo Teatro Experimental La MaMa, Grupo teatral afro – ucraniano Yara, pelas várias bandas: Flight Fuck, Sarah Sophie Flicker´s Citizen band, até fundar a sua – Gogol Bordello.
Hoje Eugene Hudz é DJ no bar búlgaro – Mehanata Night Club (www.mehanata.com , neste momento por causa das obras no seu lugar habitual, a funcionar no Maia Mayhane – 98 Avenue B, esquina com 6-th street).
Na sua última visita à Ucrânia, Eugene Hudz veio a procura dos seus raízes, ele visitou dois acampamentos ciganos nas cidades de Mukachevo e Svalhava na Transcarpátia Ucraniana, onde fiz as gravações dos agrupamentos e dos músicos ciganos. Durante a viagem, Eugene distribuía os CD’s com o seu mais recente hip – hop cigano, entre os jovens ciganos da Ucrânia. Viagem, que foi idealizada pelo Eugene como uma espécie do encorajamento, dirigido à estes jovens, para que eles pudessem vencer a estigmatização, obtendo o orgulho dos seus raízes ucraniano – ciganos, posteriormente dará um filme documental.
Discografia:
1. Voila – intruder, 1999 (chamado de “foice” pelo Hudz)
2. Multi KONTRA culti vs. Irony, 2002 (Hudz chama-o de “martelo”)
3. East Infection, 2004, electrónico, produzido pelo Manu Chao, com quem GB tocou no show Summerstage em Central Park
4. Gypsypunks – Underdog World Strike, 2005, SideOneDummy Records, produzido pelo lendário Steve Albini (produtor da Nirvana, Jimmy Page, Robert Plant).
Mais informação sobre Eugene Hudz: http://www.romaniyag.uz.ua/en/what=paper&number=73&article=muzzikk
Fotos do Hudz:
http://www.gogolbordello.com/chronicles/tour/gypsycamp/gypsycamp.html
Eugene Hudz e os seus gostos:
Local preferido: East Village (baixa do East Side da Nova Iorque)
Bebida preferida: Vodka (Horilka) e Cognac Pierre Ferrand, bebe para divertir-se
Restaurante preferido: Veselka, restaurante ucraniano em East Village
Auto – definição da sua música: “It is music to liberate you mind and all of your muscles”
O que quer fazer no cinema: “Mind – scratching and psychopathic roles, I’m not interested in playing any normal people” (In Entertainment Weekly)
Quem é Liev Schreiber (Director & Roteirista)
Liev Schreiber estudou na England's Royal Academy of Dramatic Arts, em 1992 foi graduado pela Yale School of Drama. O filme "Everything is Illuminated" é a sua estreia como Director.
Liev Schreiber que recentemente contracenou com Meryl Streep e Denzel Washington em "The Manchurian Candidate" do Jonathan Demme, têm um invejável currículo em cinema e TV:
"A soma de todos os medos", "Kate & Leopold", "The Hurricane", "Scream," "Scream II," "Scream III," e "Ransom." Schreiber também é conhecido no cinema independente: "Big Night," "Party Girl," "The Daytrippers", "Walking and Talking", "Mixed Nuts," "Mad Love," "Denise Calls Up," e "Spring Forward", onde ele também foi o produtor.
Para a TV, Schreiber fiz de Orson Wells em "RKO 281" (nomeação para Emmy e Globo de Ouro), também apareceu em "Lackawana Blues" ao lado de Halle Berry, Jeffrey Wright e Rosie Perez. Outros trabalhos para televisão: "Spinning Borris," "Buffalo Girls," "People V" e "The Sunshine Boys."
Quem é o Jonathan Safran Foer (Autor)
Jonathan Safran Foer nasceu em 1977. O seu primeiro livro, “Everything is Illuminated” foi publicado em 2003, mas alguns extractos foram apresentados ao público pela revista The New Yorker. Livro foi reeditado vários vezes, tornou-se bestseller nos EUA e Europa.
O seu segundo livro, “Extremely Loud and Incredibly Close”, foi publicado em 2005.
“Everything is Illuminated” recebeu vários prémios, como: National Jewish Book Award em ficção de 2002, Guardian Book Prize 2002 (Reino Unido), Biblioteca Pública de Nova Iorque Young Lions Fiction Award, o Prémio Internacional William Saroyan, o Prémio Harold U. Ribalow, o Prémio Literário Corine International 2003 (Alemanha) e PEN/Robert Bingham Fellowship. Jonathan S. Foer também foi nomeado para o Prémio do Livro do jornal Los Angeles Times "First Fiction" de 2002 e ganhou Prix Amphi em 2004 (França).
Foto: capa do disco GB "East Infection", www.gogolbordello.com/muzon
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