sexta-feira, janeiro 26, 2007

Médicos ucranianos deixam Moçambique

Numa recente avaliação do desempenho do Governo moçambicano, o jornal “Savana”, avaliou o trabalho do Sr. Ministro da Saúde, Dr. Ivo Garrido como muito positivo. Mas em abono da verdade temos que reconhecer, que nos últimos dois anos, graças à política do Sr. Ministro em não prorrogar os contractos de trabalho, um grande número de médicos ucranianos deixou Moçambique. Embora é possível discutir as razões dessa decisão soberana, temos que reconhecer que desta maneira a saúde do país ficou mais podre.

Não é da nossa intenção criticar a decisão do Sr. Ministro de receber de braços abertos médicos chineses (que não falam português, que têm os contractos apenas de dois anos e quando aprendem a língua um pouco já estão de saída), mas também não se percebe, como é possível deixar sair as pessoas, que trabalharam em Moçambique durante tantos anos, formaram tantos quadros nacionais, gostam deste país e aqui se sentem em casa.
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De qualquer maneira, hoje apenas queremos expor o perfil de um dos médicos ucranianos, que dedicou 12 anos da sua vida à medicina moçambicana, mas que no dia 27 de Janeiro, volta de vez à Ucrânia, porque já não têm as condições psicológicas para continuar no país.
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Rostislav Chaplynskiy nasceu na cidade de Sambir (Galiza ucraniana) Sambir em 1961. Entre 1978 à 1984 estudou no Instituto (agora a Academia) Estatal de Medicina da cidade de Ivano-Frankivsk. Em 1982 casou-se com a Sra. Galyna, ainda estudando no Instituto. Em 1984 família tive o primeiro filho, Petró, depois, em 1987 nasceu outro filho – Nazár. Rostislav tinha que alimentar a família, por isso em 1989-90 fazia negócio de transportar os carros japoneses em segunda mão de porto de Illichivsk para o bazar automóvel de Lviv.

Em 1991 tornou-se Doutor e desde Fevereiro 1995 trabalha em Moçambique. Primeiro durante 10 anos ele era o principal (e único especialista numa província com 1.500.000 habitantes), anestesiologista no Hospital Provincial de Inhambane, dois últimos anos desempenha mesmas funções no Hospital Central de Maputo.

Dr. Rost (como é conhecido entre utentes e colegas) é uma grande fã do halterofilismo, gosta de “carregar” a barra de ferro e pesos. Depois da sua chegada à Moçambique, Dr. Rost até tentou criar um núcleo de halterofilismo em Inhambane, mas não estava preparado em saber que o nível de conhecimento sobre este desporto no país era e continua a ser, muito baixo. Alem disso, família Chaplynskiy tentaram criar em Inhambane o restaurante ucraniano: ele preparava almôndegas na base de carne de tubarão (invenção sua), e a esposa fazia os varenyky ucranianos...
O amor ao halterofilismo Dr. Rost talvez recebeu do seu avo, Vasyl Chaplynskiy, que tinha uma criação de cavalos na cidade de Tlumach (Galiza). Um truque com o qual velho Chaplynskiy gostava de surpreender os feirantes, era pegar cavalo pelas pernas, enquanto alguém “arreava” o cavalo com força. Claro, que o velho, de certeza, usava um segredo próprio dos aldeões, mas também tinha uma força invejável nas mãos.

Já os seus filhos tiveram uma educação mais formal, aproveitando as oportunidades democráticas dadas pela Austro – Hungria (antes de 1919, Galiza ucraniana pertencia ao Império Austo – Húngaro), tornavam-se a fina flor da elite nacional ucraniana daquele país.

Um dos avos do Dr. Rost – Volodymyr Chaplynskiy, era chefe da Cátedra de traumatologia e ortopedia do Instituto Estatal de Medicina de Lviv, sua esposa era docente de química. Embora o avo paterno, Mykola Chaplynskiy tinha apenas 3 classes do ginásio polaco, mas era suficiente para ser chefe – construtor das oficinas de reparação de camiões em Ivano – Frankivsk. A sua esposa, Sra. Mykhaylyna, lembra que nos anos imediatamente após a II G.M. costumava dormir com olhos abertos, esperando atender os guerrilheiros ucranianos do UPA, quando estes vinham pedir um pouco de batata.

Pai do Dr. Rost, Petro Chaplynskiy era fundador do departamento de traumatologia do hospital na sua cidade natal, em Sambir. Passando a reforma, deixou o lugar para o seu filho mais velho, Volodymyr. A sua esposa, mãe do Dr. Rost, Sra. Oksana, 35 anos da sua vida trabalhou com parteira – ginecologista, metade deste tempo era chefe da Maternidade do Sambir.
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OUN – UPA

O irmão do Dr. Rost é casado com a Maria Andriiv, que hoje é chefe do policlínica na cidade de Sambir. O seu pai, Vasyl Andriiv, era nos anos 30-40, o responsável de recrutamento da juventude para a Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN). Ele pessoalmente conheceu o líder Stepan Bandera, apoiava a sua família durante longos anos de ocupação soviética.

Vasyl Andriiv passou 25 anos da sua vida em GULAG soviético, sendo um líder regional com certa importância em OUN – UPA, ele foi pressionado a render-se ao inimigo soviético dessa maneira: a sua esposa foi amarrada à um poste, junto com o filho de apenas um ano de idade (!) no centro da sua aldeia. Vasyl aguentou três dias, depois rendeu-se, foi preso e através de um julgamento sumário enviado para o GULAG. Durante a viagem, os ucranianos eram alimentadas apenas com peixe salgado, não recebiam nenhuma água. A sua esposa decidiu acompanhar o marido, por isso filha de ambos, Maria nasceu em 1957 na cidade russa de Karaganda. Família Andriiv conseguiu voltar à Ucrânia durante a “primavera” de Khrushev. Vasyl Andriiv sempre foi muito parco nas palavras sobre a luta de libertação nacional ou sobre os anos de prisão, cumprindo desta maneira um dos pontos cruciais do decálogo de OUN: “fala sobre a causa não com quem podes, mas com quem deves”. Quando no fim dos anos 80, em Kalusz, sua cidade de residência, foi erguida a bandeira azul e amarela da Ucrânia independente, ele silenciosamente beijava o chão...

Embora a sua filha Maria mereceu a medalha de ouro pelos resultados excepcionais na escola secundária e graduou-se com o diploma de mérito na Universidade, ela sempre tinha grande dificuldade de fazer a carreira profissional. O poder soviético não lhe perdoava o pai – guerrilheiro. Mesma sorte era do Sr. Vasyl, ele só conseguia os trabalhos manuais, mal pagas e pouco atractivos.

Trabalho em África: Argélia – Moçambique

Naqueles tempos soviéticos, um ucraniano nem sonhar podia de trabalhar no estrangeiro (os salários eram incrivelmente altos, além disso pagos, em parte, em rublo conversível), sem ser membro do partido comunista ou activista do regime de ocupação. Mas a empresa estatal que cuidava destes contractos (Soyuzzagranpostavka), precisava, era dos profissionais, não dos “papagaios” ideológicos.

Dessa maneira, os país do Rostislav, Petro e Oksana submeteram os seus documentos e foram aceites para trabalhar no estrangeiro. Dois anos, entre 1984 à 1986 eles trabalharam na Argélia. Eram bem aceites, tinham forças e vontade, querendo trabalhar mais, mas seus planos foram baralhados pela KGB. A segurança estatal descobriu que a família ucraniana fiz amizades com outra família de médicos, chilenos formados na URSS. Mesmo assim, eram estrangeiros, quer dizer potenciais agentes do imperialismo americano. Assim, família Chaplynskiy rumou à Ucrânia. Mas deixando uma impressão de fortíssimos especialistas, foram seleccionadas em breve, para apoiar a saúde em Moçambique. Dessa maneira, já em 1989 – 91, Sr. Petro e Sra. Oksana trabalharam no Hospital Provincial de Xai-Xai e entre 1993 à 1995 em Inhambane. (Director do hospital em Xai – Xai estagiou-se na França, dessa maneira, conversando entre si constantemente, praticavam-se logo duas línguas: francês e português). No mesmo ano de 1995, pela primeira vez Dr. Rost visitou Moçambique e ... ficou por cá durante próximos doze anos.

Durante este tempo todo, Dr. Rost não perdeu nem a qualificação médica, nem a vontade de elevar o seu nível profissional. Passou dois estágios profissionais: nos EUA e na cidade do Porto (Portugal), onde até foi convidado de ficar para trabalhar. Durante nenhum dos estágios, ele foi surpreendido pela qualidade dos serviços ou consegui ver outros fazer algo, que não conseguia fazer ele próprio.

O seu futuro imediato? Descansar algum tempo e logo se verá, já que na vizinha Polónia salário mensal de um médico da sua qualificação é de 1.000 USD e nos EUA uma símiles enfermeira ganha a volta de 65.000 USD ao ano. De qualquer maneira, neste momento Rostislav Chaplynskiy acha que chegou um período quando ele tem que repensar a sua vida, redefinir as prioridades e decidir que rumo dar à sua carreira profissional. E nem a decisão da última hora do Sr. Ministro Ivo Garrido de prorrogar o seu contracto para mais um ano, conseguiu remover a decisão do Dr. Rost de voltar definitivamente a Ucrânia.

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