Por: David Rising e Randy Herschaft (exclusivo do The Associated Press)
Os documentos do FBI recentemente revelados obtidos pela agência Associated Press, levantam grandes duvidas sobre a autenticidade do cartão de identidade alemão, que pretendia provar que Ivan Demjanjuk serviu como guarda no campo de concentração nazi Sobibor no território da Polónia, ocupada durante a II G.M.
Durante as três últimas décadas em que Ivan Demjanjuk foi extraditado dos EUA para Israel, sentenciado à morte, libertado, de novo deportado para Alemanha e o actualmente julgado em Munique, o cartão de identidade serviu como prova central da sua (alegada) culpabilidade.
A defesa do Demjanjuk sempre alegou que o cartão e outras evidências documentais contra o soldado ucraniano foram forjados pelas autoridades soviéticas. O relatório do FBI prova que os investigadores americanos tiveram mesmas duvidas.
“A justiça foi mal servida no julgamento de um cidadão americano; (julgamento) baseado nas evidências que normalmente são inadmissíveis no processo legal, baseado nas evidências e alegações muito provavelmente fabricadas pela KGB”, afirmou o relatório de 1985, preparado pelo escritório do FBI em Cleveland, quatro anos após a URSS apresentou o cartão alemão aos investigadores americanos.
O cartão do campo de concentração nazi de Trawniki nunca foi examinado excessivamente pelos peritos ocidentais. Os peritos no julgamento actual afirmaram que um forjador com acesso aos materiais certos poderia falsificar o cartão e outros documentos.
A agência AP descobriu o relatório do FBI no Arquivo Nacional em College Park, juntamente com outros documentos colocados no domínio público após a deportação do Ivan Demjanjuk para Alemanha em Maio de 2009. O relatório do FBI nunca foi visto pela defesa do Demjanjuk na Alemanha, Israel ou nos EUA. O Ministério Público alemão também desconhecia a existência do documento. Não está claro se a acusação nos EUA e Israel sabia do relatório.
O relatório do FBI faz parte de mais de 8 milhões de páginas das agências federais americanas que foram transferidos para o Arquivo Nacional em 1998. No entanto, o relatório foi excluído do domínio público pelo OSI (Office of Special Investigations, agência pertencente ao Departamento da Justiça dos EUA).
Russell Ezolt, em 1985 era o advogado sénior do Serviço de Imigração e Naturalização (Immigration and Naturalization Service) de Cleveland, disse que o relatório poderia influenciar o processo em que Demjanjuk perdeu a cidadania americana.
“Eu nunca vi (o relatório) /.../ a questão do cartão era a questão principal no processo /.../ se você retirar o cartão dele como guarda, o que fica?”
Dado que actualmente não existe nenhuma testemunha ocular que alguma vez viu Demjanjuk em Sobibor, o caso largamente depende da documentação alemã, capturada pelos soviéticos e entregue às autoridades dos EUA, Israel e recentemente Alemanha. O advogado do Demjanjuk na Alemanha, Dr. Ulrich Busch, disse que os investigadores alemãs receberam dos EUA cerca de 100.000 documentos relacionadas com o caso Demjanjuk, mas o relatório do FBI não estava entre eles. Agora o advogado irá solicitar que o tribunal aceite o documento como a evidência.
Dr. Busch também chamou a atenção para a maneira como naquela altura KGB apresentou as evidências contra Ivan Demjanjuk ao Departamento da Justiça dos EUA (caso relatado pelo FBI). Todos os documentos poderiam ser vistos apenas nas instalações da Embaixada ou Consulado soviético, sem a possibilidade de serem examinados pelos peritos.
“Isso é muito claro e a mesma coisa acontece aqui”, disse Dr. Busch. Ele pôde consultar duas listas dos soldados soviéticos transferidos em 1943 pelos nazis, mas apenas no recinto do Consulado russo em Munique. Documento dizia que o guarda com apelido Demjanjuk foi transferido para o campo de concentração de Flossenbuerg e depois para Sobibor.
“Os russos disseram que podemos ver os documentos, mas não podemos fazer nada com eles, não podemos examina-los, depois eles os retiraram”, disse Dr. Busch. A defesa sempre alegou que o cartão de identidade alemão é uma prova falsificada, por exemplo os dados sobre altura e a cor de olhos não correspondem às características físicas do Ivan Demjanjuk. O mais provável que a foto foi retirada dos documentos de identificação antigos e posteriormente colada no cartão alemão.
No passado, OSI (Office of Special Investigations) foi acusado em sonegar as evidências que poderiam inocentar Demjanjuk. Em 1993 a análise do processo de denaturalização do Demjanjuk conduzido pelo painel federal dos EUA concluiu que OSI participou no “comportamento acusatório errado que seriamente enganou o tribunal”. OSI simplesmente ignorou a informação que poderia inocentar Demjanjuk, por exemplo, a declaração de um ex-guarda ucraniano, que claramente dizia que Demjanjuk não era o temível guarda “Ivan, O Terrível”. O relatório do Departamento da Justiça dos EUA de 2008 tornado público em Novembro de 2010 afirma que o tratamento que OSI deu ao caso do Ivan Demjanjuk é o “seu maior erro alguma vez cometido”.
O relatório do FBI acusa as autoridades soviéticas de passar de forma anónima os nomes dos emigrantes ucranianos para os EUA, acusando os de serem colaboradores dos nazis. Quando OSI solicitava à URSS as provas provenientes dos arquivos nazis, então “KGB produzia as evidencias, com intuito de ligar o acusado à comissão das atrocidades nazis”, diz o relatório. “No tribunal, o oficial do KGB mostrava os documentos ao juiz mas não permitia que os documentos sejam examinados, nem que sejam copiados”, informa o relatório.
Quando o relatório do FBI de Cleveland chegou ao escritório central em Washington, Ivan Demjanjuk já tinha perdido a cidadania americana e foi extraditado para Israel. Na altura, as chefias do FBI falharam em fazer aquilo que sugeria o seu escritório regional: “Perguntar OSI sobre o caso”. O responsável do FBI em Washington na altura, Storm Watkins, que deveria esclarecer a informação com OSI diz agora que “não se lembra se fiz isso ou não”.
O advogado John Gill que defendia Demjanjuk nos EUA na década de 1980 diz que o relatório do FBI de Cleveland poderia fortalecer os argumentos da defesa contra a extradição e possivelmente terminar rapidamente o caso que continua sem resolução nos últimos 25 anos.
“É claro que eles se escondem atrás dos pormenores técnicos de duas investigações separadas /.../ na minha opinião (o relatório) é um documento importante que mostra uma vez mais, eles prenderam a pessoa errada”, explica Dr. Gill.
Ver os documentos on-line:
Arquivo nacional dos EUA: http://www.archives.gov/iwg
Departamento da Justiça, relatório da OSI: http://1.usa.gov/g4YSyW
Fonte:
http://news.yahoo.com/s/ap/20110412/ap_on_re_eu/eu_demjanjuk_fbi_doubts
(A imagem do cartão falsificado pertence ao Departamento da Justiça dos EUA em Washington, publicada pela The Associated Press).
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