("Die Welt", Alemanha)
Escritor ucraniano Yuriy Andrukhovych fala sobre o futuro da Ucrânia
Die Welt / jornalista Beate Pinkerneil: Você recebeu uma bolsa (literária) para um ano de permanência em Berlim e pretende escrever aqui o seu novo romance. Alemanha tem mais encanto para você, do que a sua própria pátria?
Andrukhovych: No estrangeiro tenho mais calma. Na Alemanha eu já escrevi dois romances. Para me é uma segunda casa.
Die Welt: A Europa Ocidental sempre imagina que a Ucrânia é dividida entre o Leste pró – russo e o Ocidente pró – Europa. Alguma coisa mudou nestas “duas Ucrânias”, desde a Revolução Laranja de Dezembro de 2004?
Andrukhovych: A divisão da nossa nação em duas partes é uma coisa passageira. Ucrânia agora se muda bastante. Ocidente e Leste aproximam-se. Porque eles são bastante diferentes. Leste tem afinidades para com a Rússia, Ocidente para com Europa. Isso é uma verdade. Outra verdade consiste em que Ocidente muda-se influenciado por Leste e vice – versa. Como resultado, agora nasce uma nova unidade ainda instável, inclusivamente na mentalidade de toda a Ucrânia. Os vestígios primários deste processo, eram visíveis ainda durante a Revolução Laranja. Um dos principais slogans da Praça de Independência era: “Ocidente e Leste são unidos”. Nisto eu vejo o principal potencial do meu país.
Die Welt: Quem tem a maior parte do apoio entre os ucranianos: Presidente Viktor Yuschenko ou ex – Primeira – Ministra Yulia Timoshenko?
Andrukhovych: As últimas sondagens dão 60% para a Timoshenko e mais de 50% para Yuschenko. São indicadores de confiança mais altos, alcançados por qualquer governo ucraniano desde proclamação de Independência em 1991.
Die Welt: Será que os funcionários políticos do antigo regime simplesmente desapareceram? Caso sim, para onde?
Andrukhovych: Os principais criminosos estão nas listas de pessoas procuradas pela polícia e pelos serviços secretos. Muitos outros funcionários foram presos, estão aguardar o julgamento. Eles dizem que sofrem as “repressões do novo poder”. Eles não querem admitir que transfeririam milhões ou bilhões para as suas contas privadas, roubando ao seu próprio país, que eles são simplesmente criminosos. Corrupção é uma doença que é muito difícil de curar rapidamente. Die Welt: Depois do desaparecimento do jornalista oposicionista Georgiy Gongadze (Георгій Гонгадзе), depois da vitoria do Viktor Yuschenko, havia casos dos suicídios dos antigos funcionários (do Estado). Agora já se sabe que forças eram metidos nisso? Andrukhovych: A primeira pessoa que suicidou-se no fim de 2004, foi o ministro de transporte Georgiy Kirpa. Ele foi metido em vários casos sujos, passeava num limusina de luxo de marca “Maibach”. O seu sucessor, fiz um leilão e vendeu a viatura, que foi avaliada em meio milhão de Euros, isso foi algo parecido como a devolução da propriedade, aos ucranianos roubados.
Die Welt: Os organizadores dos alegados assassinatos, parece que queriam impedir que estes políticos falassem?
Andrukhovych: Sim, parece. Depois do suicídio do ministro de transporte, foi encontrado na sua casa de campo, ex – ministro do interior Yuri Kravchenko. Um pouco antes disso, foram divulgadas as gravações feitas pelo guarda costas do ex – presidente Kuchma, onde Kuchma dizia que ministro do interior deve tratar do Gongadze. Penso que suicídio do ministro do interior foi encenado. Na fotografia se vê que ele disparou duas vezes na cabeça. Parece que ele próprio fiz o “tiro de segurança”.
Die Welt: Em que estado agora se encontra a Ucrânia depois da Revolução Laranja – em depressão ou em esperança morna?
Andrukhovych: Eu posso avaliar este estado como os restos da euforia, porque a experiência totalitária ou pós – totalitária é um fardo pesado que ainda domina a sociedade. Ainda temos bastantes ucranianos que deixam o país.
Die Welt: Porque a situação económica é má?
Andrukhovych: Sim. As pessoas procuram a vida melhor. Para a maioria, a vida melhor significa os patamares económicos mais altos.
Die Welt: As condições económicos são mais importantes do que a liberdade?
Andrukhovych: Eu não gostaria de contrapor estas coisas. Eu não conheço nenhum sistema político, sem as liberdades para a sociedade, onde existiriam as altas condições económicas. Mas é possível que minha opinião baseia-se unicamente nas experiências dos países civilizados.
Die Welt: O que tem que ser feito, para que as pessoas não emigrem?
Abdrukhovych: A vida aqui tem que melhorar. De qualquer maneira, depois da Revolução Laranja, nós temos uma diferença nas relações entre o poder político e a sociedade. Englobo aqui as média livres.
Die Welt: Você de novo deixa a Ucrânia, e de novo volta, para que estando longe, poder melhor entender a situação no seu país?
Andrukhovych: Sim, é uma das razões. Desde começo das mudanças profundas, no início dos anos 90, eu viajo muito. E eu gosto deste sentimento de separação e retorno, embora gosto mais é de voltar, do que separar-me. Alem disso, para escrever, eu tenho que ver as paisagens novas, tenho que reviver os novos sentimentos, novos encontros com as pessoas. Sou a pessoa, do tipo Ulisses. Ulisses muito tempo estava na viagem, mas um dia voltava sempre.
Die Welt: Que papel desempenham os intelectuais na Ucrânia?
Andrukhovych: Na Ucrânia, temos muitas mentes brilhantes, muitos especialistas famosos em sociologia, psicologia, filosofia, em silencias exactas. E talvez, a Ucrânia, não se encontraria no lugar onde esta, se os intelectuais não conseguissem criar o modelo da Revolução Laranja, quer dizer pacifica, sem a violência. É um modelo intelectual brilhante. Por isso, eu sou muito optimista quanto ao futuro.
Die Welt: Ucrânia, traduzindo, quer dizer “na beira” e ao mesmo tempo “país, na extremidade”. Muito estranho, quando o país se considera como estando “na beirada”.
Andrukhovych: Nem tudo é tão simples com a palavra “Ucrânia”. Esta palavra tem o significado duplo. É um “país na beira”, mas a “beira” esta no centro. Isso é bastante paradoxal. Isso é a parte ocidental da Europa, mas ao mesmo tempo é o centro geográfico da Europa. E centro fica em Dyliv (entre as cidades de Tiachiv e Rahiv nos Cárpatos ucranianos). Muito interessante, que em Dyliv temos três monumentos. Em 1887 um monumento branco e azul aqui foi montado pela monarquia Austro – Húngara. Cerca de 100 anos depois, uma placa metálica foi colocada pelos soviéticos. Depois de proclamação da Independência nacional, no fim das contas, os próprios ucranianos colocaram o seu monumento.
Die Welt: Quer dizer, três países pretendiam ser o centro da Europa. Porque apenas o monumento ucraniano, não tem nenhuma placa? Significa isso, que a Ucrânia ainda esta a procura da sua identidade nacional e geopolítica?
Andrukhovych: A Ucrânia procura a si própria, o seu próprio centro. No plano geopolítico, país procura a sua pertença a Europa, que hoje para ela é o mais importante. Eu penso que a Europa não pode existir sem o centro. E o centro da Europa esta aqui, na Ucrânia. Por isso a Europa sem a Ucrânia, é apenas o corpo.
Die Welt: Isso dá a Ucrânia o direito de ser o próximo possível candidato a entrada na União Europeia?
Andrukhovych: A Ucrânia tem uma tradição cultural europeia de muitos séculos, bastante ligada à historia da Europa. Mesmo, se os eurocratas em Bruxelas não queiram de ouvir disso. Eu penso, que como membro da UE, a Ucrânia consegue mudar a tradicional inércia europeia. A Europa precisa do movimento e do desenvolvimento. Caso contrario, isso significará a morte da Europa.
Die Welt: O duplo “não” à constituição europeia (da França e da Holanda) significa que a Europa neste momento esta em agonia?
Andrukhovych: Para mi, o duplo “não” é mais um sinal positivo. O modelo actual da UE é tecnocrático, burocrático, estéril no plano cultural. Contra isso protestaram os franceses e holandeses. No que toca a Ucrânia, então nas cabeças dos euro - arquitectos de Bruxelas, enraizou-se por alguma razão, uma ideia estranha do que a Ucrânia, Belarus, Geórgia ainda continuam pertencer à esfera da Rússia, que eles são “uma Rússia grande”, “Rússia № 2”, quer dizer a zona da influência da Rússia. Claramente, isso é bastante triste. Porque os estrategos europeus esqueceram a nossa Revolução Laranja, que primeiro aclamaram tanto. Talvez eles apenas olham para traz.
Yuri Andrukhovych é o escritor e poeta ucraniano contemporâneo, mais conhecido ao nível mundial. A editora alemã “Zurkamp” publicou recentemente o seu romance “Doze anéis”. Em 2004, o polaco Andrzej Stasjuk e Yuri Andrukhovych publicaram em “Zurkamp” uma colectânea dos ensaios, intitulada “Minha Europa”.
Fonte: http://www.welt.de/data/2005/07/09/742534.html (em alemão)
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